Thiago de Mello, 95 anos: Antônio Callado e a poesia do jovem Thiago

Callado enxergou em Thiago “um poeta de raça, sofisticado e filosófico”

O poeta amazonense Thiago de Mello completa 95 anos nesta terça-feira (30). Para celebrar a data, o Prosa, Poesia e Arte, seção cultural do Portal Vermelho, publica, a cada dia, poemas de sua autoria, entrevistas com o autor ou ensaios sobre sua obra. É o caso da crítica publicada pelo jornalista e escritor Antônio Callado (1917-1997), no Correio da Manhã, em 1960. Confira.

POESIA DE THIAGO DE MELLO

Por Antônio Callado

A publicação de Vento Geral, livro da José Olympio que traz de volta ao leitor a poesia de Thiago de Mello, é um acontecimento editorial do qual acompanhamos muito de perto aqui no Correio da Manhã. Thiago foi nosso companheiro de jornal, e, ao acaso das reportagens, conseguiu instilar uma poesia doce e insidiosa em assuntos às vezes intratáveis como a inauguração de barracas da Cofap ou algum desastre sem vítimas.

É um dos poetas de mais pura dicção que já tivemos no Brasil. Sofisticado na técnica, Thiago parece ter guardado sabe Deus que atavismo de poesia oral, pois seu verso invariavelmente corre pela página como um arroio.

Vento Geral pode ser aberto ao acaso, em qualquer página, no Thiago de 1959 ou em qualquer dos Thiagos anteriores. O rio do seu verso vai refletindo outras barrancas e outras caras debruçadas na margem – houve algumas – mas é fiel a si mesmo na dicção. Tanto na redondilha cantante: “Assim me sonho. Entrementes, me transpareço e me aceito: não tenho jeito, a não ser o jeito de ser sem jeito”. Como no verso extenso em que a meditação se espraia em ritmos inumeráveis: “Duro e difícil coisa, essa de ser. Ser no mundo, sobre chãos”.

Colhemos essa amostra em páginas fronteiras no livro aberto ao acaso. Ouçam esta sentença de morte da página 12: “Mas por muito vagarmos, em nós cresce a verdade maior, no entanto mínima, que nosso orgulho e magoa silenciam: – não somos necessários. Nascer ontem ou amanhã, ou nunca, não transvia o caminhar das luas, ou o dos bichos, nem o rolar das poeiras”.

Vento Geral confirma um poeta de raça, sofisticado e filosófico quando Le da La gana mas dono de um jeito de falar simplíssimo. Whisky com água de igapó. Vento Geral, Poesia 1951-1959 é definitivo.

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