Insegurança alimentar atinge 117 milhões; destes, 19 milhões têm fome

Pesquisa reflete cenário do auxílio emergencial reduzido para R$ 300. Dados pertencem a levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Com a pandemia do novo coronavírus, aumentou o número de brasileiros que conhecem a fome. No final do ano passado, 116,8 milhões de pessoas conviviam com algum grau de insegurança alimentar. Desses, 43,4 milhões não tinham alimentos em quantidade suficiente suficiente e 19,1 milhões de pessoas conviviam com insegurança grave, ou seja, fome. O número dos que lidam com a fome tem 9 milhões a mais que em 2018, quando eram 10,3 milhões de pessoas nessa situação.

Os dados pertencem a um levantamento conduzido pelo instituto de pesquisas Vox Populi a pedido da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar, que reúne as entidades Oxfam Brasil, Action Aid, Friedrich Ebert Stiftung e Ibirapitanga. Os pesquisadores levantaram dados de 2.180 domicílios nas cinco regiões do país, entre 5 e 24 de dezembro de 2020.

No período, o auxílio emergencial estava em seu quarto mês de redução à metade do valor inicial, aportando R$ 300 para a maioria e R$ 600 para as mães solo. Para determinar o grau de insegurança, foi considerada a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), o que permite que os resultados da pesquisa sejam comparados com levantamentos nacionais conduzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) entre 2004 e 2018, incluindo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018.

O levantamento indica uma clara deterioração da segurança alimentar devido à pandemia. No entanto, os idealizadores da pesquisa lembram tratar-se de um processo que já estava em curso.

“Note-se que, enquanto os levantamentos relativos ao período de 2004 a 2013 registraram o aumento progressivo de famílias em SA [segurança alimentar], este progresso foi revertido como mostram os dados coletados na Pesquisa de Orçamento Familiar-POF 2017-2018”, apontam.

De fato, a proporção de domicílios com segurança alimentar atingiu seu maior patamar, de 77,1%, em 2013, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) daquele ano. Em 2018, esse percentual caiu 13,8 pontos percentuais, para 63,3%. No fim de 2020, com a pandemia, a proporção de famílias em situação de segurança alimentar despencou mais 18,5 pontos, para 44,8%.

A insegurança alimentar, por outro lado, aumentou no mesmo período. A quantidade de domicílios com insegurança alimentar grave, ou seja, fome, estava em 4,2% em 2013. Sobe para 5,8% em 2018 e, com a pandemia, atinge 9% no final de 2020. O número de domicílios com insegurança alimentar moderada, por sua vez, sai de 6,1% em 2013 para 10,1% em 2018 e chega a 11,5% com a pandemia.

Já a insegurança alimentar leve foi a que mais aumentou. Em 2013, a proporção era 12,6% dos domicílios. Em 2018, chega a 20,7% e, no fim de 2020, cresce mais de 10 pontos e chega a 34,7%.

“Essa reversão de tendência indica que a superposição da emergência da pandemia da Covid-19 com as crises econômica e política dos últimos anos impactou de forma negativa e relevante o direito humano à alimentação adequada e saudável do povo brasileiro”, dizem os pesquisadores.

Eles afirmam que ações para promover a segurança alimentar dos brasileiros são urgentes. “Os resultados deste inquérito alertam toda a sociedade brasileira, bem como os gestores públicos, para a natureza urgente e imprescindível de ações e políticas públicas efetivas que, respeitadas as restrições impostas pela crise sanitária que se agrava no Brasil, auxiliem os grupos populacionais mais vulnerabilizados e promovam a segurança alimentar e nutricional, ao lado de políticas estruturais direcionadas à redução das desigualdades sociais e das iniquidades no nosso país”, diz um trecho do relatório da pesquisa.

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