País pode viver caos social com inflação de alimentos e auxílio menor

Cerca de 22,6 milhões de pessoas que foram contempladas com o auxílio emergencial em 2020 não serão beneficiadas neste ano

Num cenário de informalidade, desemprego e desalento em alta, economistas alertam que o Brasil pode viver um caos social. A crise imposta pelo bolsonarismo e pela pandemia de Covid-19 tende a se agravar com a redução do valor do auxílio emergencial e o aumento no preço dos alimentos, além da falta de uma política de transferência de renda justa.

A nova rodada do auxílio – que começou a ser paga na semana passada – terá quatro parcelas no valor-base de R$ 150.  O maior valor do benefício de 2021 – de até R$ 375, para mães solteiras – é um pouco mais da metade do auxílio disponibilizado para a população em 2020, de R$ 600.

Na opinião do economista Francisco Menezes, pesquisador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), o benefício menor impacta no quadro social e econômico do País. O fato do valor-base do programa ter diminuído vai na contramão das medidas fundamentais para melhorar a situação.

“Se nada for feito, vai aumentar o número de brasileiros e brasileiras passando fome – e o País viverá um caos social nunca visto na história”, afirma. “A economia também vai ficar pior porque programas de transferência de renda justos são altamente impulsionadores do crescimento econômico.”

Além do valor menor, o auxílio também terá menor impacto na sociedade. Cerca de 22,6 milhões de pessoas que foram contempladas em 2020 não serão beneficiadas neste ano. Só receberão o benefício famílias com renda total de até três salários mínimos por mês (R$ 3.300), desde que cada pessoa da casa não tenha renda acima de meio salário mínimo equivalente a R$ 550. Não serão abertos novos cadastros.

O valor-base de R$ 600, pago entre fevereiro e agosto de 2020, aumentou a renda per capita de quem mais precisava. Tanto que a proporção de pobres com renda per capital inferior a R$ 246 caiu pela metade – de 10,97% para 4,52%, conforme dados do economista Marcelo Neri, da FGV Social.

Ainda em 2020, quando Bolsonaro reduziu o valor do auxílio emergencial para R$ 300 para ampliar o pagamento de setembro a dezembro, a economia desacelerou, e a vulnerabilidade social recrudesceu. O total de pobres saltou de 9,5 milhões em agosto do ano passado para 27,2 milhões em fevereiro deste ano.

Durante a vigência do auxílio no ano passado, os beneficiários do Bolsa Família, que recebem em média R$ 186, passaram a receber o valor maior – a bolsa ou o auxílio. Mas em 2021 quase 70% desta população vai ter uma renda menor na comparação com 2020, segundo estudo da Tendências Consultoria Integrada.

Francisco Menezes reforça que um programa de transferência de renda é fundamental no combate à fome. Segundo ele, as famílias beneficiadas costumam gastar boa parte do valor recebido em alimentos e produtos básicos. Com a inflação em alta, a necessidade de reajuste é grande e deveria ser calculado sobre os R$ 600, de acordo com a inflação.

“Nos governos Lula e Dilma, o Bolsa Família teve alguns reajustes importantes, e já defendíamos alteração na Lei para que o reajuste acontecesse anualmente”, diz Menezes. “Seria ainda mais necessário reajuste no auxílio emergencial, já que a inflação dos alimentos no último período foi de 15% – três vezes maior que o índice geral. O preço da comida aumenta, a renda diminui e a conta não fecha.”

O inquérito da Rede Penssan revelou que mais da metade dos lares (55,2%) conviviam com algum nível de insegurança alimentar nos três últimos meses de 2020, contra 36,7% dois anos antes. Além disso, no período pesquisado havia 116,8 milhões de brasileiros sem acesso pleno e permanente a alimentos e entre eles, 19,1 milhões passavam fome.

Com informações da CUT