Para proteger Bolsonaro, ministro diz na CPI que desistiu de Luana Araújo
“Desisti da doutora Luana porque ela não suscitava o consenso que eu precisava. Posso exonerar qualquer um de meus secretários. Faz parte das minhas atribuições”, disse à CPI o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga
Publicado 08/06/2021 14:49 | Editado 08/06/2021 14:54
No seu depoimento nesta terça-feira (8) na CPI da Covid, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, manteve-se na estratégia de proteger Bolsonaro. Para isso, ele negou que tenha partido do Palácio do Planalto a decisão de não nomear a infectologista Luana Araújo para o cargo de secretária extraordinária de enfrentamento à Covid-19. “Desisti da doutora Luana porque ela não suscitava o consenso que eu precisava. Posso exonerar qualquer um de meus secretários. Faz parte das minhas atribuições”, disse o ministro.
Em depoimento à CPI, a médica afirmou que foi chamada pelo ministro para dizer que sua nomeação não passou no crivo da Casa Civil da Presidência da República. Luana, que é defensora das ações com base em evidências científicas e contra o chamado tratamento precoce com uso da cloroquina, medicamento sem eficácia no trato da Covid-19, disse que o ministro não chegou a expor os motivos da sua não nomeação.
Marcelo Queiroga, portanto, entrou em confronto com a fala da médica que o tratou de forma cortês. “O ministro, com toda a hombridade que ele teve ao me chamar, ao fazer o convite, me chamou ao final e disse que lamentava, mas que a minha nomeação não sairia, que meu nome não teria sido aprovado”, disse a médica, para quem caso tenha havido veto a sua nomeação por suas posições técnicas e científicas seria um fato “extremamente trágico e vergonhoso”.
De acordo com ele, a não nomeação foi por “questão política da classe médica” e não por “questão política partidária”. “O nome dela começou a sofrer resistência em face de alguns temas. (Houve) Divergências com a classe médica”, afirmou. A clara contradição entre os depoimentos pode suscitar uma acareação entre o ministro e a médica.
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) insistiu ainda com o ministro sobre a contradição dele com o depoimento da médica. “Não houve óbice da Casa Civil. Foi decisão discricionária minha”, respondeu o ministro.
Falta infectologista
O ministro também confirmou que Luana Araújo seria a primeira infectologista a integrar sua equipe no ministério. “Temos a Dra. Carolina, que é médica infectologista, mas ela é servidora da CGU, ela não está ali na função de médica infectologista. O que nós temos são médicos consultores que nos apoiam”, explicou. “O que o senhor está dizendo é de uma gravidade muito grande porque os infectologistas não estão sendo ouvidos na formulação de enfrentamentos de políticas públicas”, reagiu o relator.
“Senador Renan, sim, são ouvidos. Eles participam (…) Por exemplo, o Dr. Clovis Arns, que é o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, tem atuado juntamente com o professor Carlos Carvalho na elaboração dos protocolos. Há outros colegas que são colaboradores eventuais que eu sempre consulto. Mas há dificuldades”, respondeu o ministro.
“Ministro, a gravidade não é essa, é que não há no ministério. É isso que eu estou colocando pela resposta”, afirmou o relator. “Eu concordo com Vossa Excelência. Nós precisamos reestruturar”, disse o ministro.
Mas o depoimento dele não convenceu os senadores sobre a suposta autonomia que teria para nomear e decidir sobre as ações na pasta. Para Tasso Jereissati (PSDB-CE), Queiroga é mais um ministro que não tem autonomia no Ministério da Saúde. Para o senador, Bolsonaro boicota deliberadamente campanhas da pasta contra aglomerações e outras medidas sanitárias.