O “poder brando” dos EUA ataca mídia do Irã, por Elijah J. Magnier

“É difícil atribuir uma única e específica razão para o comportamento dos EUA, especialmente porque o Oriente Médio está passando por uma fase de transformação em várias frentes”

(Foto: Reprodução)

O Departamento de Justiça dos EUA atingiu o Irã com censura eletrônica usando seu poder brando quando 36 sites pertencentes a vários meios de comunicação, TV, publicações e veículos tiveram seus conteúdos suspensos. Estes sites pertencem principalmente ao Irã e seus aliados no Iraque, mas também no Bahrein e no Iêmen. A mudança coincide com a navegação de dois navios da Marinha Iraniana carregando armas em direção ao quintal dos EUA, a Venezuela, provocando alarmismo e irritação em Washington. Além disso, os Houthis do Ansarallah afirmam ter abatido dois drones “SCAN EAGLE” de fabricação norte-americana (US$ 3,2 milhões cada um) no Iêmen. Consequentemente, a decisão dos EUA reflete um conflito crescente entre Washington e Teerã e a hostilidade arraigada entre eles no Oriente Médio e além.

O conceito de “soft power” depende da influência cultural, moral, social, econômica e de mídia, embora sua eficácia seja modesta em termos gerais. Procura influenciar a realidade interior das pessoas. É uma forma de força que tenta alcançar alguns objetivos ou transmitir mensagens diplomáticas ou diretas numa tentativa de mudar uma realidade óbvia ou sem o uso do “hard power” militar.

É difícil atribuir uma única e específica razão para o comportamento dos EUA, especialmente porque o Oriente Médio está passando por uma fase de transformação em várias frentes. Há ataques repetitivos de várias facções iraquianas contra as bases norte-americanas e seu uso de drones suicidas que são muito difíceis de deter. A “resistência” iraquiana praticou este método, que foi usado pela primeira vez por Israel contra as forças de segurança iraquianas, e destruiu sete armazéns de estocagem. Além disso, os Houthis derrubaram dois drones sobre a cidade rica em petróleo de Marib, o que irritou os EUA, aparentemente envolvidos de forma direta nesta guerra para evitar a queda da cidade.

Também não se exclui que o ataque dos EUA e a captura dos muitos websites apoiados por Teerã seja parte da resposta à eleição de Ibrahim Raisi como Presidente da “República Islâmica” – inclusive com seu anúncio de que ele não aceitará uma reunião com o Presidente dos EUA Joe Biden.

Entre os sites e canais sequestrados pelo Departamento de Comércio dos EUA, o Departamento Federal de Investigação e Segurança Nacional (FBI) são o site oficial da PressTV, o canal de TV Bahraini (Lu’lua) Pearl TV, o canal Houthi Al Masirah, o canal Palestine Today, a Al-Alam TV e vários canais iraquianos como o Al-Furat, Asia, Afaq, Al-Naeem, Al-Massar, Al-Ishraq, Kata’ib Hezbollah, Sabreen News, Al-Anwar e Al-Kawthar, AL-NABA’, a plataforma Kaf, AL-Sirat, Al-Hudhud, agência Al-Ma’luma, e o canal Karbala.

A maioria desses sites pertence diretamente ao Irã ou a seus aliados. Portanto, a mensagem americana é dirigida a Teerã, a negociar indiretamente o acordo nuclear, onde foi alcançado um modesto progresso. O caminho para um acordo final é longo e questões importantes ainda estão pendentes porque os Estados Unidos não querem levantar todas as sanções, por considerarem que o Irã é um estado hostil e que a aproximação está longe de ser vista como um retorno a uma relação amigável entre os dois países.

A “guerra branda” é praticada diariamente por vários países do Oriente Médio. A América Latina aderiu à linha de frente porque o Irã considera que tem o direito de assinar qualquer acordo militar e de armamento com qualquer país do mundo, sem excluir o quintal dos Estados Unidos.

Teerã considera que a América é onipresente, ocupando e armando países do Oriente Médio onde implantou dezenas de bases militares. Consequentemente, o Irã acredita que o que é permitido para Washington também é logicamente permitido para Teerã.

Elijah J Magnier é correspondente de guerra veterano e analista de risco político sênior com mais de três décadas de experiência.

Fonte: Dossier Sul