Bolsonaro admite prevaricação: “Não posso tomar providência de tudo”

Personalidades do mundo político entenderam a declaração do presidente como uma possível admissão do crime de prevaricação

Foto: Daniel Marenco

Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã deste sábado (10), o presidente Jair Bolsonaro falou pela primeira vez publicamente sobre o encontro com o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) relativo à denúncia de irregularidades no contrato de compra da vacina Covaxin.

“Ele (Miranda) pediu uma audiência pra conversar comigo sobre várias ações. Eu tenho reunião com mais de cem pessoas por mês, dos mais variados assuntos. Eu não posso simplesmente, ao chegar qualquer coisa pra mim, tomar providência”, afirmou Bolsonaro.

Na CPI da Covid, Miranda e seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, prestaram depoimento na semana passada apontando que houve pressão para a liberação da importação da Covaxin. Segundo o parlamentar, Bolsonaro, ao ouvir a denúncia, citou o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), como responsável pelo suposto esquema.

Políticos apontam prevaricação de Bolsonaro

Muitos entenderam a fala de Bolsonaro como uma admissão do crime de prevaricação, delito praticado quando um funcionário público, de forma proposital, atrasa, deixa de fazer ou faz algo indevidamente em benefício próprio.

“Como assim você não pode tomar providências contra a roubalheira na vacina, Jair Bolsonaro??? Você é PRESIDENTE e tinha a OBRIGAÇÃO DE AGIR, mas preferiu proteger seus amigos bandidos e deixou a corrupção rolar solta. Essa é a confissão do crime de prevaricação”, postou, em seu perfil do Twitter, o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ). As grafias foram mantidas como na postagem original.

O deputado federal Henrique Fontana (PT-RS) seguiu a mesma linha de raciocínio. “Bolsonaro confessou que foi avisado pelo deputado Luis Miranda sobre os indícios de corrupção na compra da vacina Covaxin e nada fez: ‘Eu não posso simplesmente, ao chegar qualquer coisa pra mim, tomar providência’. Esta declaração é a confirmação do crime de prevaricação”, postou.

O advogado e presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Estado de São Paulo, Dimitri Sales, também entendeu a declaração como confissão do delito de prevaricação. “Não havia opção, mas dever de apuração. Devemos aumentar a pressão sobre a PGR e Câmara dos Deputados!”, disse.

A carta da CPI

Nesta semana, o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), o vice-presidente, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), enviaram uma carta ao presidente para que ele confirmasse ou negasse a menção a Ricardo Barros e outros detalhes do encontro com Luis Miranda. Mas ele não respondeu.

“Não tenho obrigação de responder. Ainda mais carta pra bandido. Três bandidos”, disse Bolsonaro na manhã de hoje, ao comentar o assunto.

Fonte: Rede Brasil Atual