Duarte Pereira – o socialismo pensado com rigor

Duarte Pereira, o autor do poema aqui transcrito, é um notável teórico marxista brasileiro. Cuja atividade teórica já pode ser contada em décadas: são cerca mais de meio século de rigorosa atividade intelectual, estudos, pesquisas, reflexões e escritos, muitos escritos – marcantes, resultado de rigorosa e profunda reflexão sobre a política, a vida social, a luta pelo socialismo e as contradições do mundo contemporâneo.

Duarte Pereira - Edição de imagem de Cezar Xavier

No início da década de 1960 era estudante na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, tendo sido presidente do Centro Acadêmico Ruy Barbosa e e um dos vice-presidentes da União Nacional dos Estudantes (UNE). Em 1963 – durante o governo João Goulart – foi um dos fundadores da Ação Popular (que, depois, ao se aproximar do marxismo e da luta pelo socialismo, se transformou em Ação Popular Marxista-Leninista – APML). Foi um dos teóricos daquela organização revolucionária, tendo sido um dos redatores de seu Documento-Base, que definia e orientava sua ação política e ideológica. No final daquela década, partiu dele a proposta de união da APML ao PCdoB, que ocorreu afinal em 1972 embora, por razões de divergências quanto à maneira como se deu a incorporação, Duarte Pereira não tenha acompanhado a maioria de seus camaradas, que se filiaram ao PCdoB.

Sob a ditadura militar instaurada em 1964, Duarte passou a atuar como jornalista – desde 1965 fez parte da equipe da revista Realidade, um marco do jornalismo brasileiro, publicada pela Editora Abril e cujos jornalistas foram, em grande parte, ligados à AP. Ante ao endurecimento da ditadura e aumento da prseguição policial, passou a viver na clandesinidade – e continuou na atividade jornalística, tendo sido importante redator no jornal “Movimento”, de oposição à ditadra, onde foi autor de uma sessão de grande repercussão, os “Ensaios Populares”, que analisava a vida brasileira em seus aspectos político, econômico, social, cultural etc. Os artigos autorais que publicou eram assinados como Alfredo Pereira. Ficou clandesitino até a lei de Anistia, em 1979, quando pode novamente voltar a assinar seu próprio nome. E participar aberta e normalmente da vida na redação de “Movimento”, influindo no rumo editorial do jornal. Voltou também a participar abertamente de inúmeros debates e palestras a operários e estudantes e trabalhadores que moravam na periferia de São Paulo sobretudo, influenciando muitas gente da esquerda na luta democrática, contra a ditadura. Nos anos seguintes, foi redator e editor da série Retrato do Brasil e da revista Reportagem, entre outras publicações. Colaborou também, embora menos frequentemente, na revista Princípios.

Artista da pena e da palavra, homem de convicções firmes, dono de um pensamento que tem no teórico e na ação prática suas principais marcas, Duarte Pereira se iguala aos mais rigorosos teóricos que descendem de Marx, Engels e Lênin. Rigor intelectual registrado em obras como “Um perfil da Classe Operária” (1981), “1924: O diário da revolução – Os 23 dias que abalaram São Paulo” (2010) e “Repensando o Marxismo” (2016). 

A Lei do Emprego Na rinha capitalista,
as mutações tecnológicas
são cada vez mais velozes.
A riqueza multiplica-se.
Diminui o tempo necessário
para criá-la.
Deveria aumentar
o tempo livre
para o lazer e a alegria.Não é o que acontece
na rinha capitalista.
Não sobra tempo livre,
sobra gente necessária.
É a lei do emprego
na rinha capitalista.O resultado é a pergunta
que muitos fazem aflitos.
Por que tanto
para tão poucos
e tão pouco
para cada vez mais tantos?Crescerão as contradições.
Crescerá a luta para superá-las.
É a lei da história.
Não pode sobrar humanidade.
Tem que sobrar o capitalismo.

São Paulo, 7 de julho de 2019

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