“É um brigante”, diz Omar Aziz ao se referir ao bolsonarista Carlos Wizard

O depoente Emanuel Catori, sócio da Belcher, disse na CPI que participou de live com os empresários bolsonaristas Carlos Wizard, Luciano Hang e Alan Eccel para trabalhar pela doação de vacinas, mas o objetivo do movimento era defender a vacinação pelo setor privado

Sócio da farmacêutica Belcher Emanuel Catori (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), ironizou nesta terça-feira (24) a intenção do empresário Carlos Wizard, Luciano Hang e Alan Eccel de doar 9 milhões de doses da vacina Coronavac para vacinação no país. Emanuel Catori, sócio da Belcher, explicou na CPI da Covid que começou as tratativas para a aquisição do imunizante, mas não sabia que o Instituto Butantan detinha o contrato de exclusividade da vacina.

“Você sabe dizer o que que o Carlos Wizard doou nessa pandemia toda?”, questionou Aziz. “Não sei dizer”, respondeu. “Não, né? Também queria saber, mas ele veio aqui e não respondia. Ele ficava calado. Ele só ria. Ele ria das mortes (…) Ele é um bom cidadão, né? Doador”, replicou o presidente da CPI. “Generoso”, disse o relator Renan Calheiros (MDB-A). “Teve nego aqui que disse que ele era herói, que nós tínhamos que fazer uma estátua, não é? Foi proposto aí uma estátua pra ele. Ele faz uma reunião querendo doar. Hum. É um brincante”, ironizou Omar.

Próximo dos empresários bolsonaristas, o depoente Emanuel Catori participou de live com Wizard, Hang e Eccel para defender a vacinação pelas empresas. A CPI já tem informações de que esse grupo liderou movimento que visava aquisição de vacinas contra Covid-19 pelo setor privado. Nesse sentido, eles chegaram a se reunir com a embaixada da China.

Ligação com Barros

A empresa atuou como intermediária do laboratório chinês CanSino na negociação com o Ministério da Saúde pelo fornecimento de 60 milhões de doses da vacina Convidencia ao custo de R$ 5 bilhões.

A Belcher tem sede em Maringá (PR), reduto eleitoral do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), de onde ele já foi prefeito. Outro sócio da Belcher é Daniel Moleirinho Feio Ribeiro, que é filho de Francisco Feio Ribeiro Filho, ex-diretor da Urbamar (Urbanização de Maringá) durante a gestão de Barros. Daniel Moleirinho também atuou na Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) durante o governo de Cida Borghetti (PP), casada com Barros.

O empresário reconheceu que foi levado pelo líder do governo Bolsonaro para uma reunião com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, no dia 15 de abril deste ano, mas negou que tratou sobre venda de vacina.

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), diz que a convocação do empresário é um desdobramento da frente de investigação sobre a atuação de empresas intermediárias nas tratativas com o Ministério da Saúde. “Há semelhança na atuação da Belcher com a da Precisa, que já está sob investigação”, lembrou.

De acordo com ele, em junho, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Correia, assinou carta de intenção de compra de 60 milhões de doses do imunizante. A Belcher atuaria como a intermediária da venda. “Cabia a Emanuel Catori participar das negociações com o governo brasileiro”, disse o senador.

A negociação só não prosperou por que a farmacêutica chinesa descredenciou a empresa brasileira alegando falta de compliance. Apesar disso, o empresário diz não saber o motivo do rompimento.

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