A verdadeira história dos Reis Magos

No dia 6 de janeiro chegam os Três Reis Magos e a cerimônia, que marca o encerramento das festividades, se repete todos os anos. Gaspar, Melchior e Baltasar foram ofuscados pelo Papai Noel, embora não sejam identificados por seus nomes, são mencionados na Bíblia na história do nascimento de Cristo .

O relato bíblico

“Alguns homens do Oriente que eram mágicos vieram para a cidade de Jerusalém”, diz a Bíblia e diz que eles perguntaram sobre “o rei dos judeus que havia nascido”. A história deles e da estrela de Belém que os guiou no caminho até a manjedoura onde Jesus nasceu é narrada no segundo capítulo do Evangelho segundo São Mateus. “No Oriente vimos sua estrela e viemos adorá-lo”, acrescenta.

A insistência dos Magos na procura do “rei dos judeus” despertou a curiosidade do rei Herodes, a quem os seus sacerdotes avisaram que seria em Belém da Judeia onde poderia estar aquele “que cuidará do meu povo Israel”. Herodes perguntou aos Magos “a hora exata em que a estrela apareceu” e os encaminhou para Belém:  “Quando vocês a encontrarem, me avisem, para que eu também possa adorá-la .  “

Isso deu origem ao massacre dos Santos Inocentes por ordem do rei, o assassinato em massa de crianças menores de três anos de idade . O relato de Mateus mostra que um anjo avisou José, que levou Maria e o menino Jesus e fugiu para o Egito para evitar a morte da criança.

Mateus relata que após o encontro com Herodes “a estrela que eles tinham visto no Oriente ia antes deles, até que finalmente parou no lugar onde a criança estava”. Eles entraram, se ajoelharam e deixaram suas ofertas: ouro, mirra e incenso.  Avisados ​​em seus sonhos que não deveriam avisar Herodes, “eles voltaram para sua terra por outro caminho” . 

A presença dos Magos na história chega a este ponto. Melchior, Gaspar e Baltasar não aparecem nos outros três Evangelhos. Lucas, que é o mais exaustivo na genealogia e nascimento de Cristo, os omite. Marcos e João começam suas histórias com a vida do Jesus adulto.

O enigma da estrela de Belém

Um dos enigmas passa pela estrela de Belém. Realmente existia ou era um cometa? Uma hipótese sugere que poderia ter sido o cometa Halley , que se aproxima da Terra aproximadamente a cada 75 anos, e cujas duas últimas visitas foram em 1910 e 1986. 

O astrofísico Mark Kidger investigou a questão em seu livro The Star of Bethlehem . Lá ele levanta três hipóteses. A primeira, que é um mito e que nunca houve uma estrela que guiou os Reis Magos. A segunda, que foi um evento milagroso, algo metafísico que não pode ser analisado pela ciência. A terceira, que era um fato astronômico. 

Kidger se orientou para a conjunção planetária tripla entre Júpiter e Saturno. Os dois planetas se alinharam três vezes no ano 7 aC , na data aproximada do nascimento de Jesus … que não nasceu no ano 0, a partir do qual começa a era cristã e o atual calendário gregoriano. 

Foi Dionosio, o Meager, um monge bizantino, que no século 11 montou o calendário tomando o nascimento de Jesus como ponto de partida. Até então, a fundação de Roma foi tomada como base. Dionísio sentiu saudades dele por 6 ou 7 anos, de acordo com as fontes. Lucas diz em seu Evangelho que um censo foi ordenado na Judéia na época do nascimento de Jesus, e Mateus observa que Herodes governou: entre os dois eventos há dez anos de diferença, e a data de nascimento seria 6 ou 7 anos antes da era cristã.

A possibilidade de um cometa foi levantada por astrônomos chineses e coreanos, que conseguiram datar a existência de um cometa sem cauda em uma data próxima ao nascimento de Jesus. Por sua vez, outro astrofísico, Michael Molnar , sugere que realmente houve um fenômeno ao qual apenas os sábios da época estavam atentos. O que poderia ter acontecido como um sinal da vinda do Messias é o esconderijo de Júpiter  atrás  da Lua em 6 AC em Áries , um símbolo que os gregos associavam à Judéia. 

Por que eles são chamados de Três Reis Magos? 

A menção está ligada à palavra grega magoi , que se referia a pessoas com alto nível de escolaridade; quer dizer, sábio. Eles também não eram reis, e magoi diria que eles eram astrólogos. 

No Auto de los Reyes Magos, obra em verso do século XIII, aparecem pela primeira vez com os nomes de Melchor, Gaspar e Baltasar; e eles não aparecem como reis, mas, precisamente, como astrólogos que teriam calculado o momento do nascimento de Jesus.

A Igreja considerou a data de 6 de janeiro como o dia da Epifania, ou seja, o momento em que Cristo se revelou ao mundo. Diferentes ramos do cristianismo falam de 6 de janeiro como a décima segunda noite , tomando 25 de dezembro como ponto de partida. William Shakespeare escreveu sua comédia Twelfth Night, cujo título original é Twelfth Night , a ser exibida na Epifania em 6 de janeiro na Inglaterra elizabetana . 

A variante italiana dos Magos

Os italianos oferecem uma variante folclórica da história dos Reis Magos e da Epifania. É sobre a Befana. Diz-se que os sábios do Oriente se perderam no caminho para Belém e tiveram a ajuda de uma velha que indicou para onde deveriam ir. Diz a lenda que ele lhes deu balas e rebuçados e desistiu de acompanhá-los. Mais tarde, ele se arrependeu e foi em busca de Jesus, deixando doces em cada casa, com a ilusão de que haveria Cristo . 

Todo 5 de janeiro, a Befana deixa guloseimas para as crianças que se comportaram bem na Itália. Se eles se comportarem mal, as guloseimas serão cor de carvão. O compositor italiano Ottorino Respighi aproveitou essa cifra para o encerramento de suas Férias Romanas , em 1928.

Os Três Reis Magos eram quatro e não três?

A história de uma boa bruxa que guia os Magos remete a outra questão: que eram quatro, não três, e um deles estava perdido . 

É o ponto de partida de O Outro Rei Sábio , o romance de Henry van Dyke, publicado em 1895, que conta a história de Artaban. A viagem está atrasada e não chega a Belém a tempo: José e Maria fugiram com o filho para o Egito. Então ele dedica sua vida para encontrar o Messias e só o encontra 33 anos depois, no momento da crucificação. Você se sente fraco. A ponto de morrer, amargo por ter falhado em sua missão, uma voz o lembra de seus atos de generosidade que fazem parte da história e lhe diz: “O que você fez por meus irmãos, você fez por mim”.

A festa dos nossos dias

Como parte do festival, muitos países celebram a Parada dos Três Reis no dia 5 de janeiro, um desfile de carros alegóricos, no qual Gaspar, Melchor e Baltasar são caracterizados . Uma das últimas imagens que a mãe sobre a qual escreve tinha quando criança, antes de embarcar para a Argentina ainda criança, foi o Desfile dos Reis Magos na cidade galega de Vigo.

Até 1976, junto com o Carnaval, o Dia dos Três Reis era feriado na Argentina . A ditadura aboliu esses feriados e apenas as segundas e terças-feiras de carnaval foram restauradas. Vale lembrar que o carnaval também tem origem religiosa, pouco antes da Quaresma, ou seja, quarenta dias que antecedem a Páscoa. 

Os Magos e o Peronismo

No caso argentino, a data teve muita implicação no primeiro peronismo (os tempos marcados pela cidra e pelo pão doce no final do ano) em termos de presentes. Osvaldo Soriano , que nasceu no dia 6 de janeiro, relembrou aquele momento da infância em um texto intitulado “Aquele peronismo de brinquedo” , que relaciona a infância em uma cidade provinciana com o antiperonismo de seu pai. O autor de Chega de tristezas ou esquecimentos narrou assim: “Quando eu era menino, Perón era nosso Rei Mago: no dia 6 de janeiro bastava ir aos correios e eles nos davam um ursinho de pelúcia, um bola ou uma boneca para as meninas ” . 

Será uma questão de ver se, junto com os sapatinhos colocados ao lado da grama e da água, os Reis deixaram um presente. Depois, como manda a tradição, a árvore de Natal terá que ser desmontada e aguardar a próxima festa de Réveillon.

Fonte: Pagina12