União contra extrema-direita é foco de atuação comunista no FSR

Realizado entre os dias 26 e 30 de janeiro de forma totalmente virtual, devido à pandemia, o evento envolveu militantes de partidos políticos, centrais sindicais e amplos setores da sociedade, num total de 530 entidades do Brasil e de 23 países.

O Fórum Social das Resistências de 2022 — assim como as várias edições do Fórum Social Mundial, do qual faz parte — contou mais uma vez com destacada participação dos e das comunistas. Envolvidos desde a organização até a realização dos debates e assembleias, militantes do PCdoB participaram através de diversas entidades dos movimentos sociais e buscaram reafirmar a necessidade de união das forças progressistas e democráticas dentro e fora do Brasil para fortalecer a luta contra Bolsonaro, a extrema-direita e o imperialismo.

Realizado entre os dias 26 e 30 de janeiro de forma totalmente virtual, devido à pandemia, o evento envolveu militantes de partidos políticos, centrais sindicais e amplos setores da sociedade, num total de 530 entidades do Brasil e de 23 países. Os organizadores esperam poder realizar as atividades presenciais entre os dias 26 e 30 de abril, em Porto Alegre, como etapa preparatória do FSM que, neste ano, acontecerá no México, em maio.

A militância comunista participou principalmente através de entidades como Fundação Maurício Grabois, CTB, Unegro, UBM, Cebrapaz, Conam e CMB, entre outras. “Como o próprio nome do fórum diz, é um encontro de resistência, mas não é uma resistência passiva, e sim ativa”, disse a secretária nacional de Movimentos Sociais do PCdoB, Liége Rocha.

A dirigente avalia que o evento teve como fio condutor a forte necessidade de lutar e resistir, no caso brasileiro, ao presidente Jair Bolsonaro e à extrema-direita. E, ao mesmo tempo, tratar de temas centrais da atualidade, como a questão da paz, do meio ambiente, a luta dos trabalhadores em defesa dos seus direitos, das mulheres, dos negros, entre outros questões fundamentais para a construção de outro tipo de sociedade. “Além disso, foi delineada uma agenda de lutas em 2022, para enfrentarmos os desafios que nós temos pela frente relativos também à perda de direitos, ao desemprego, à fome, à carestia e à reconstrução do país”, apontou Liége.

A secretária destacou que os comunistas tiveram “um papel muito significativo em todo o processo de construção destas assembleias, nas plenárias preparatórias e em todo o Fórum da Resistência”. E acrescentou: “é fundamental esse processo de construção da união de forças, respeitando as diferenças, para enfrentarmos esse momento que o país vive. Essa manifestação unitária, em janeiro, para definir um calendário de lutas para este ano, foi muito significativo”.

Tradição de lutas

A participação dos comunistas na construção desses espaços é parte fundamental da forma como o PCdoB concebe a luta política e social, valorizando e respeitando as diversas vozes num processo constante de acumulação de forças em prol da transformação do país.

“Os movimentos sociais e entidades onde atuam militantes e dirigentes do PCdoB têm tradição de participar ativamente e contribuir na construção do Fórum Social Mundial desde 2001, e neste ano seguem com grande protagonismo na organização e articulação política do Fórum Social das Resistências”, disse Silvana Conti, integrante do Comitê Central do PCdoB e vice-presidenta da CTB no Rio Grande do Sul.

Na quadra política em que vivemos, ponderou, “crescem as agendas neofascistas, neoliberais e de retirada de direitos tanto no Brasil como no resto do mundo, com os movimentos de orientação fascista e antidemocráticos não só nos espaços institucionais, mas também na base de nossa sociedade”.

Neste sentido, ganham ainda mais importância espaços de debate e articulação dos movimentos e entidades políticas e sociais do campo democrático e de esquerda. “O FSR teve início em 2017, em Porto Alegre, se insere nos processos do FSM e tem como objetivo criar um espaço de articulação, divulgação e ampliação de todas as formas de resistências criadas pelos movimentos culturais, ambientais, políticos e sociais no Brasil e na América Latina”, lembrou.

A dirigente colocou ainda que neste momento, o evento “se torna um espaço importante e necessário para darmos continuidade à construção da Frente Ampla. Portanto, propomos que o Fórum Social das Resistências siga sendo palco desta construção, e que sejamos protagonistas destas ações”.

Guerra cultural

Palestrante no evento “A guerra cultural e a luta ideológica” — organizado por ADJC, Grupo Interdisciplinar de Estudos sobre a Guerra Cultural, Fundação Maurício Grabois, Cebrapaz, Barão de Itararé, Associação Brasileira de Literatura Comparada (Abralic), Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (IBEP), Associação Nacional de Professores Universitários de História (ANPUH), Banca Docente – Rio — Aldo Arantes, membro do Comitê Central do PCdoB destacou a importância deste tema no cenário atual.

“Discutimos a questão da luta ideológica e o papel que a extrema-direita tem tido no sentido de se assenhorar da guerra cultural com concepções extremamente reacionárias, conservadoras, negacionistas da história, da ciência, e como vem se utilizando dos meios mais avançados — mídias sociais, cientistas sociais, neurocientistas, psicólogos sociais etc. — para transmitir suas ideias reacionárias”, explicou.

Ele destacou que participar do FSR “é uma oportunidade de o partido levar suas ideias, mostrar a importância, no plano internacional, da união dos povos na luta contra o imperialismo e também mostrar a importância de uma união ampla da sociedade para derrotar Bolsonaro. Inclusive, esse debate sobre a guerra cultural  levantou, com muita clareza, a importância de combinar a luta política com a luta ideológica; a subestimação desta é um erro”.

Aldo lembrou que a realização dos fóruns é fundamental “até porque o nosso objetivo não é só derrotar Bolsonaro, mas também as ideias da extrema-direita, que levaram à construção de uma corrente política no Brasil que, há muitos anos, não havia”.

Sindicalismo classista

Outro ponto de destaque no FSR foram os debates em torno da luta da classe trabalhadora. Durante o painel “O lugar dos(as) trabalhadores(as) na reconstrução do Brasil e os desafios para derrotar Bolsonaro” — organizado por CTB, CUT, Intersindical, Força Sindical, CSB, Pública e Fórum pelos Direitos e Liberdades Democráticas, com a presença dos presidentes da CTB Adilson Araújo, e da CTB-RS Guiomar Vidor, entre outros — Silvana falou sobre o grave cenário que envolve o povo brasileiro. “O drama social que a crise do coronavírus torna visível acende um alerta: as desigualdades sociais cresceram ainda mais. De acordo com a OIT, as mulheres e a juventude são as mais atingidas pelo desemprego e pelo desalento”, apontou.

Para enfrentar essa situação, o Fórum das Centrais do RS estabeleceram eixos de luta, entre os quais a defesa da vida, contra o negacionismo e a conduta genocida do governo Bolsonaro; em defesa da democracia e da Constituição; do SUS, da educação pública, laica e de qualidade; contra as privatizações e em defesa do serviço público; pela valorização da agricultura familiar, pela reforma agrária, soberania e segurança alimentar; contra a criminalização do movimento sindical e pelo sindicalismo classista, a solidariedade e o internacionalismo da classe trabalhadora.

Luta feminista

A comunista Julieta Palmeira, secretária de Política para as Mulheres do Estado da Bahia e membro do Comitê Central, foi uma das palestrantes da assembleia de convergência de mulheres “Feminismo e Resistência – desafios em 2022”. Ela salientou que a atividade “deu visibilidade ao protagonismo das mulheres na América Latina, que vivem momentos de mobilização como aconteceu recentemente no Chile, contribuindo decisivamente para a vitória das forças de esquerda e progressistas nas últimas eleições”.

Ela explicou que as comunistas denunciaram “as condições em que vivem as mulheres no Brasil, em especial a sub-representação feminina nos diversos espaços de decisão, a retração de recursos para políticas públicas para as mulheres e como temos enfrentado a violência contra as mulheres em seus vários tipos, entre as quais também está a violência política de gênero. A situação das brasileiras tem se agravado, fruto de uma política econômica desastrosa do governo federal associada aos impactos da pandemia entre as mulheres”.

Julieta considera expressiva as contribuições do PCdoB por meio de militantes e filiadas que estão em diversas organizações sociais e em outras instâncias nos debates e na organização do Fórum Social. “É preciso resistir e esperançar para que possamos superar esse momento político que o Brasil atravessa, fazendo avançar a democracia no Brasil derrotando a direita e implementando uma agenda de reconstrução do país”, concluiu.