Congresso aprova título de Heroína da Pátria para Nise da Silveira

Homenagem proposta pela deputada Jandira Feghali segue agora para sanção do presidente da República

Nise da Silveira ficou conhecida por seu trabalho na Luta Antimanicomial | Imagem: Centro Cultural da Saúde/Ministério da Saúde

O Senado aprovou nesta quarta-feira (27) o Projeto de Lei 6.566/2019, que propõe a inscrição do nome da médica Nise da Silveira no Livro do Heróis e Heroínas da Pátria. O livro está depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.

Aprovada anteriormente pela Câmara dos Deputados, a matéria segue agora para a sanção do presidente da República, Jair Bolsonaro.

De autoria da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), o texto foi aprovado em plenário com parecer favorável da relatora no Senado, Eliziane Gama (Cidadania-MA).

Em uma rede social, Jandira comemorou o resultado. “O Senado aprovou o meu projeto que inscreve no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria o nome da psiquiatra Nise da Silveira. Uma mulher corajosa e obstinada que transformou os agressivos tratamentos de saúde mental a partir de um olhar humanista sobre os pacientes. Viva Nise!”, escreveu no Twitter.

Perfil

A homenageada é pioneira da terapia ocupacional e mudou os rumos dos tratamentos psiquiátricos no Brasil, via de regra conduzidos por meio de isolamento em hospícios. Ela também ganhou projeção internacional, tendo seu trabalho reconhecido por psiquiatras mundo afora, como o suíço Carl Gustav Jung.

Ao começar a atuar no setor, na década de 1940, Nise rebelou-se contra os métodos manicomiais então aplicados a pacientes com transtornos mentais, como o eletrochoque, a lobotomia e o confinamento, entre outros. Como forma de punição, foi transferida para a área de terapia ocupacional. Ironicamente, a psiquiatra encontrou lá o espaço necessário para desenvolver um modelo humanizado de tratamento para os transtornos mentais.

Uma das terapias desenvolvidas por Nise foi a expressão dos sentimentos pelas artes, especialmente a pintura. A produção artística de alguns pacientes ganhou reconhecimento pela qualidade estética, além de ter demonstrado resultados positivos na recuperação. Muitas destas obras estão hoje expostas no Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro. Esses trabalhos também já foram expostos no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

A Casa das Palmeiras, aberta por Nise em 1956 com foco em reabilitar sem internação, também investiu no processo criativo e afetivo dos pacientes. Além da arte, o contato com gatos e cães foi outro tratamento introduzido por ela no Brasil. Os pacientes podiam cuidar de animais nos espaços abertos do centro, estabelecendo vínculos afetivos.

História

Sua história de pioneirismo e ações de vanguarda começou na Faculdade de Medicina da Bahia, onde foi a única mulher em uma turma de 158 alunos. Formou-se em 1926 com um trabalho sobre a criminalidade da mulher no Brasil. No ano seguinte, mudou-se para o Rio de Janeiro com o marido, o médico sanitarista Mário Magalhães da Silveira. Ali fez especialização em neurologia e psiquiatria e foi aprovada em concurso público para o Hospital da Praia Vermelha.

Em 1936, Nise foi denunciada por envolvimento com o comunismo e acabou presa durante 18 meses no presídio Frei Caneca, juntamente com o conterrâneo Graciliano Ramos, que a converteu em personagem do livro Memórias do Cárcere. Ao sair da prisão, viveu na clandestinidade por nove anos.

A psiquiatra morreu no Rio de Janeiro em 1999, aos 94 anos. Entre 1971 e 2014, recebeu 29 homenagens, entre títulos, medalhas, prêmios e diplomas. A partir de seu trabalho, outras 16 instituições foram criadas.

Fonte: Liderança do PCdoB com informações da Agência Senado