Medo, medo medo!!! Por Theodoro Rodrigues

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Ser mulher é estar sempre em risco. É assustador saber que o medo comum entre as mulheres é do estupro! Afinal, a cada 10 minutos, uma mulher sofre estupro, e a cada 7 horas acontece um feminicídio, isso no ano de 2021. São dados que não interessam apenas às mulheres. A sociedade deve encarar como importante pauta para que possamos pensar em estratégias para enfrentar e superar a cultura do estupro no Brasil.


Uma sociedade patriarcal, racista e lgbtfóbica coloca o homem branco, cisgênero e heterossexual no topo da pirâmide do senhor das vontades realizadas. Obviamente que homens de outras raças e etnias não estão imunes de cometerem tais crimes. De certa forma, em todos os homens está a chancela de devorador de vagina, e portanto este comportamento é inerente. Basta ser homem para representar o medo, a desconfiança, uma vez que estes são os principais a cometerem o crime de estupro e, as mulheres, vítimas em potencial.


Homens e meninos também são vítimas do abuso sexual, e estes estão aprendendo a pedir ajuda, uma vez que muitos não querem que tal crime seja associado a sua orientação sexual. Devemos nos atentar, principalmente, para as crianças e adolescentes, vítimas em potencial, pois neste ato está atrelado ao poder. O abusador tem essa relação com as vítimas, não se importando se homem ou mulher. Há uma hierarquia devido ao patriarcado.


É superchocante pensar na frase “Todo homem é um estuprador em potencial”. Se você, homem, discorda desta afirmação, se acha injusto, é só olhar os dados e constar que infelizmente é compreensível que, principalmente, as meninas e as mulheres pensem assim. E não basta ficar revoltadinho, ou dizer que é um “desconstruído”. É necessário repensar nossa postura, piadas, respeitar as mulheres, não as verem como pedaço de carne, não são apenas peito, bunda e vagina. Começar a questionar os fetiches, os vídeos pornôs, principalmente os direcionados para nós, heterossexuais, sempre retratados como dominadores. Há uma inclinação para exaltar a força masculina, e elas sempre são as vadias. E tudo é direcionado ao nosso bel-prazer!


Vou afirmando minha masculinidade e deparo-me ainda com as imposições do que é ser homem. Vejo o quanto ainda estamos presos em alguns estereótipos, começando lá atrás com Adão, até os dias de hoje: meninos não choram, a mulher é a perdição do homem, a carne é fraca, caiu na rede é peixe… São muitas as expressões deste comportamento desprezível. Não me coloco como santo, o perfeitinho, porém é preciso colocar-se em alienação desta natureza de masculino. Buscar observar minhas reproduções e como afirmar tal masculinidade, como desintoxicar das vias de regra do ser macho. Enquanto homem trans, saber como sou visto, lido, e o que realmente importa: como me faço entender, como devo proceder, fugir das vias de regra, ser uma curva, fora da margem. Porém, vou entendendo que quanto mais eu for lido como homem, acabo tendo a maldita herança do desprezível alfa, do dominador, do falocentrismo.


É necessário ir de contra essa cultura estúpida, pelo qual impomos medo, onde nos colocamos essenciais. Ainda bem que não somos. Elas passam bem sem nós.


Não importa a idade da mulher: ela não vai confiar, terá medo! Se, com isso, você não se abala, certamente você tem lado nas tristes estatísticas de violência contra as mulheres.


É preciso construir e descobrir uma masculinidade sem tantos vieses da estupidez, da grosseria e do ser homem minúsculo.


Eu não sou assim, não posso ser assim. Devo eu prestar atenção tudo o quê a tempos as intelectuais, os movimentos feministas, as mulheres em geral denunciam. O recado foi dado e nos resta aprender e exercitar.

Theodoro Rodrigues – Assistente Social em formação
Conselheiro Nacional de Saúde
Vice Diretor Nordeste da UNALGBT.