Com governos de direita desde 2015, esquerda gaúcha luta para reconquistar RS

Estado de perfil majoritariamente bolsonarista, Rio Grande do Sul desafia candidaturas da esquerda, que buscam reconstruir o estado após anos de neoliberalismo

Edegar Pretto e Lula. Foto: Ricardo Stuckert

A disputa eleitoral deste ano no Rio Grande do Sul traz consigo um importante desafio para a esquerda: mudar os rumos do governo gaúcho que desde 2015 está sob o comando de políticos com perfil à direita. Neste momento, lideram a corrida Eduardo Leite (PSDB), que busca a reeleição, seguido pelo ex-ministro bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL). Na terceira posição está o deputado estadual Edegar Pretto (PT). Quinto maior colégio eleitoral do país, a batalha no estado também tem peso considerável na disputa presidencial. 

No Rio Grande do Sul, um dos estados mais bolsonaristas do país, Lula (PT) tem 40% das intenções de voto no primeiro turno contra 35% de Bolsonaro (PL) e 7% de Ciro Gomes (PDT), conforme pesquisa Ipec divulgada no dia 15. 

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O mesmo levantamento mostra Leite com 32%, Onyx com 19% e Edegar Pretto com 7%. O também bolsonarista senador Luiz Carlos Heinze (PP) vem na sequência com 6%. No caso da rejeição, os percentuais são semelhantes: Leite tem 32%, Onyx 18%; Edegar e Heinze têm 6% cada. Para o Senado, o ex-governador Olívio Dutra (PT) está à frente, com 25%; Ana Amélia Lemos (PSD) tem 23%, e o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos), 16%.

Diferenças em jogo

As diferenças entre as concepções de gestão dos três principais postulantes ficam claras já nas apresentações e nas linhas gerais dos seus respectivos programas de governo, mostrando o que está em jogo no estado. 

A dupla Eduardo Leite e Ranolfo Vieira Júnior deixou como principais marcas o desmonte do Estado, a desvalorização dos servidores e a entrega do patrimônio público ao setor privado, nas mesma linha que vinha sendo praticada pelo antecessor José Ivo Sartori (MDB). Mas, Leite tenta valorizar seu legado apontando no programa — que ele classifica como “retrato de uma inquietação e expressão de uma esperança” —  a continuidade do ciclo iniciado em 2019. 

Onyx Lorenzoni demarca seu terreno com os tons do bolsonarismo já na introdução. Após colocar a citação bíblica preferida de Bolsonaro (“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” – João 8:32), diz que seu farol, se eleito, será a “liberdade” — de ir e vir; de “expressão e pensamento”, de escolha, religiosa e econômica, ecoando o discurso do presidente.

Edegar Pretto, por sua vez, sinaliza, já na abertura do seu plano, para o que pontua como sua prioridade: o combate à fome e à pobreza. E aponta para a necessidade de implantar políticas de desenvolvimento e proteção social, segurança alimentar, transferência de renda e geração de emprego. 

Campanha ampla

Juliano Roso. Foto: Cássia Paula Colla

Nesse cenário de maior vantagem para a direita na disputa pelo Piratini, a esquerda busca fortalecer o palanque de Lula e, nesse movimento, garantir maior projeção às suas candidaturas como forma de reverter o quadro conservador que marca o estado.

Para isso, é preciso “fazer uma campanha bastante ampla do Lula no estado e isso, de fato, está acontecendo. Os comitês são amplos, temos pessoas de vários partidos políticos diferentes ajudando na campanha; no interior tem muito vereador, prefeito, vice-prefeito, ex-prefeito que são até de partidos do campo mais de centro-direita, e que estão ajudando na campanha do Lula e há unidade entre os partidos da aliança nacional aqui em torno da candidatura do ex-presidente”, diz Juliano Roso, presidente estadual do PCdoB e candidato a deputado estadual. Além de Edegar Pretto, Lula deve ter ainda o palanque de Vicente Bogo (PSB) no primeiro turno.

O dirigente diz que a “expectativa é de que Edegar cresça junto com Lula e possa estar no segundo turno e que o Lula possa vencer no primeiro. Com isso, a gente pode conseguir criar um ambiente favorável para também vencer a eleição com o Edegar no segundo turno”. 

Paulo Pimenta. Foto: reprodução/redes sociais

Na avaliação do deputado Paulo Pimenta, presidente estadual do PT e candidato à reeleição, “todas as pesquisas mostram que quando a população sabe que o Edegar Pretto é o candidato do Lula, ele tem um crescimento exponencial”.

O parlamentar completa salientando que “por ser um candidato que pela primeira vez concorre à majoritária, a propaganda na televisão será decisiva para popularizar a imagem dele e para as pessoas saberem que ele é o candidato do Lula no Rio Grande do Sul. Isso ocorrerá a partir do dia 26 e a partir desse dia, vamos intensificar também o trabalho de panfletagem de massa e, com isso, fortalecer a nossa estratégia de levar o Edegar para o segundo turno”. 

O fator Olívio Dutra também é avaliado como elemento estratégico da campanha. Petista histórico, ex-prefeito de Porto Alegre, ex-governador e ex-ministro das Cidades de Lula, Olívio conquistou amplo respeito dos gaúchos. “Ele foi o último a entrar na corrida e sua candidatura já lidera as pesquisas, o que é muito bom. Ele anima a militância e também pode repercutir — e já está repercutido — positivamente na campanha do Lula e na do Edegar”, explica Juliano Roso. 

PCdoB nas ruas

No que diz respeito ao PCdoB, Juliano salienta que o partido está participando das coordenações das três campanhas e “colocando as suas candidaturas, o seu bloco, na rua”. 

Ao todo, o partido está lançando quatro nomes para a Câmara — a vereadora de Porto Alegre, Daiana Santos; o dirigente sindical de Caxias do Sul, Assis Melo; a vereadora de Santa Maria, Maria Rita Py Dutra e Josue Ferreira Rodrigues, de Santana do Livramento — e outros quatro para a Assembleia Legislativa — a vereadora de Porto Alegre, Bruna Rodrigues; Juliano Roso; Werner Rempel, de Santa Maria, e Bruna Gubiani, de Ijuí. “São todos candidatos muito qualificados, que estão fazendo campanhas muito interessantes”, destacou. 

Juliano conclui dizendo: “temos uma situação boa, com candidaturas bem posicionadas e a gente está conseguindo contribuir na campanha de Edegar, do Lula, do Olívio e fazendo as nossas campanhas e dobradas acontecerem também”.