Atriz Patrícia Pillar diz que Bolsonaro desrespeita todas as mulheres

Trajetória do mandatário é pautada por agressividade e truculência mesmo antes de chegar à presidência. Relembre as declarações com ofensas às mulheres feitas por Bolsonaro.

Manifestantes apontam violência machista nas falas de Bolsonaro (08.03.2020) | Foto: Elineudo Meira

A atriz Patrícia Pillar virou assunto no Twitter nesta segunda-feira (29) após Jair Bolsonaro (PL) citar seu nome para atacar Ciro Gomes (PDT) no debate transmitido pela Rede Bandeirantes no último domingo (28).

Ao rebater Ciro no tema de machismo, Bolsonaro disse: “Você falou que a função mais importante da sua esposa era dormir contigo. Pelo amor de Deus, Ciro, peça desculpas aí também”. Depois disso, vários apoiadores do político da extrema-direita aproveitaram e resolveram espalhar que ela sofreu violência do ex-marido.

A partir disso, Patrícia condenou, em uma série de postagens, a ação coordenada de bolsonaristas para aumentar a história e espalhar fake news, e esclareceu que, na ocasião, Ciro Gomes se retratou “imediatamente” e “pediu desculpas, que foram aceitas já naquela época”, disse.

A atriz ainda rebateu o presidente e o definiu como “sem caráter”.

“A partir dessa entrevista, adversários sem caráter criaram uma mentira sórdida sobre uma agressão que NUNCA ACONTECEU”. A atriz salienta que quem tenta obter vantagens usando a sua história, sem levar em consideração o que ela mesma diz sobre o caso, está “desrespeitando todas as mulheres” e esclarece dizendo que “quem insistir em disseminar essa fake news perversa” sofrerá “medidas judiciais”.

Patrícia também prestou solidariedade à jornalista Vera Magalhães, que foi atacada por Bolsonaro durante o programa. “Por fim, minha solidariedade a todas as outras mulheres já desrespeitadas por Bolsonaro, como a jornalista @veramagalhaes no debate na Band”.

Sinônimo de ataques às mulheres

A misoginia do presidente da República não é de hoje. Antes de estar no cargo que ocupa, Bolsonaro já possuía um extenso histórico de ataques feitos exclusivamente às mulheres. Sua trajetória é composta por falas e ações envolvendo casos de agressão física (admitidos por ele), apologia ao estupro e ao turismo sexual, e políticas públicas de dignidade menstrual. Relembre as agressões cometidas por Bolsonaro contra mulheres:

27 de agosto de 1998 – Histórico de violência física

Já como deputado federal e em campanha para reeleição, Bolsonaro agrediu fisicamente Conceição Aparecida Aguiar, na época gerente da Planajur, empresa de consultoria jurídica e que atendia ao Exército. Segundo o Jornal do Brasil, que apurou a agressão, Conceição discutiu com uma apoiadora de Bolsonaro e acabou esmurrada pelo então deputado. Além disso, o dono da empresa, Jorge dos Santos, contou ter sido agredido por seguranças. Bolsonaro admitiu a violência.

Março de 2011 – Ofende a cantora Preta Gil

Bolsonaro participava do extinto programa da Band TV “Custe o que Custar” (CQC) no qual respondia perguntas enviadas por diferentes personalidades. Na ocasião, a cantora Preta Gil perguntou, ao então deputado, como ele reagiria se algum de seus filhos se envolvesse com uma mulher negra. E Bolsonaro respondeu: “Eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem-educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o seu”. Veja aqui.

Dezembro de 2014 – “Ela não merece ser estuprada porque é muito feia”

A frase dita por Jair Bolsonaro, em mais de uma ocasião, lhe rendeu uma condenação por danos morais – além de ter que se desculpar publicamente. Na época, em entrevista ao portal Zero Hora, Bolsonaro disse que não estupraria a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) porque ela não merecia.

“Ela não merece porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece”, disse.

Bolsonaro foi condenado em 2017 pela Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF). O então ministro do STF, Marco Aurélio Mello, manteve a condenação por danos morais, com indenização de R$ 20 mil para Maria do Rosário.

A multa paga por Bolsonaro foi doada por Maria do Rosário a sete entidades de defesa dos direitos das mulheres. Ao fazer a doação, a deputada celebrou: “O dinheiro do machista vai para as feministas”.

Dezembro de 2014 – Diz achar justo que mulheres ganhem menos que os homens porque engravidam

Na mesma entrevista ao Zero Hora, Bolsonaro afirmou que é difícil ser patrão no Brasil, com “tantos direitos trabalhistas” e disse achar justo uma mulher ganhar menos que um homem para fazer o mesmo trabalho.

“Eu sou um liberal, se eu quero empregar na minha empresa você ganhando R$ 2 mil por mês e a Dona Maria ganhando R$ 1,5 mil, se a Dona Maria não quiser ganhar isso, que procure outro emprego! (…) Eu que estou pagando, o patrão sou eu”, disse.

No mesmo ano, ao ser entrevistado na Rede TV!, Bolsonaro voltou a ser questionado sobre o tema e disse que, se fosse empresário, “não empregaria (uma mulher) com o mesmo salário“.

Abril de 2017 – A famosa “fraquejada”

Em 2017, durante uma palestra feita na sede do Clube Hebraica no Rio de Janeiro, Bolsonaro aumentou sua lista de frases misóginas. Ao se referir sobre o gênero de seus filhos, o chefe do Executivo proferiu: “Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, aí no quinto eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”.

Outubro de 2018 – “Onde tem um áudio meu atacando mulheres?”

Ao disputar a eleições para presidente, Bolsonaro tentou negar suas declarações machistas, racistas e de ódio a minorias. Em entrevista à Rede Record, disse: “Onde tem um vídeo onde eu ataco negros? Onde tem um áudio meu atacando mulheres?”. Em resposta, o EL PAÍS reuniu em vídeo algumas dessas declarações pontuando onde e quando elas foram feitas.

Março de 2019 – Novo conceito de “equilíbrio”

Em discurso feito no Dia Internacional da Mulher, já na condição de presidente, Bolsonaro afirmou que, “pela primeira vez na vida, o número de ministros e ministras está equilibrado”. De 22 ministros do Executivo, Bolsonaro nomeou apenas duas mulheres: Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Tereza Cristina (Agricultura, Pecuária e Abastecimento). A justificativa para considerar o número de ministras equilibrado foi a “energia” das ministras.

“Pela primeira vez na vida, o número de ministros e ministras está equilibrado em nosso governo. Temos 22 ministérios, 20 homens e duas mulheres. Somente um pequeno detalhe: cada uma dessas mulheres que está aqui equivale a dez homens. A garra dessas duas transmite energia para os demais”, disse o chefe do Executivo.

Abril de 2019 – Apologia ao turismo sexual no Brasil

Em mais uma fala sexista e, dessa vez, homofóbica, Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil não poderia ser um país de turismo gay, mas que “quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher fique à vontade”.

Em resposta, várias entidades, organizações e estados brasileiros se manifestaram repudiando a fala do presidente. Cleone dos Santos, da Marcha Mundial de Mulheres e coordenadora do grupo Mulheres da Luz, na época, afirmou que a fala foi um retrocesso. “Temos uma luta histórica contra o turismo sexual e hoje temos um presidente da República desconstruindo isso. É o maior retrocesso que já vivemos”.

2020 e 2021 – Agressões às mulheres da imprensa

Ao longo da gestão, Bolsonaro proferiu diversas frases machistas e misóginas às jornalistas que cobrem seu mandato.

Fevereiro de 2020Bolsonaro se pronunciou sobre o depoimento de Hans River para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das fake news. Hans, ex-funcionário da empresa Yacows, afirmou que a jornalista Patrícia Campos Mello, teria oferecido relações sexuais em troca de informações.

Ao se pronunciar sobre o caso, Bolsonaro disse: “Ela [Patrícia] queria um furo. Ela queria dar um furo a qualquer preço contra mim”, utilizando a expressão “dar o furo” com duplo sentido. O chefe do Executivo foi processado por danos morais e condenado a pagar R$ 20 mil à jornalista.

01 de Junho de 2021 Durante conversa com apoiadores na entrada do Palácio Planalto, Jair Bolsonaro xingou a jornalista Daniela Lima, da CNN Brasil, “quadrúpede”.

21 de Junho de 2021 Em Guaratinguetá, Bolsonaro mandou a repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da TV Globo, “calar a boca” após a jornalista questionar o fato de ele ter chegado ao local sem usar máscaras, conforme exigia a lei local, por causa da pandemia de Covid-19.

25 de Junho de 2021Durante evento em Sorocaba, Bolsonaro foi questionado pela repórter Victória Abel, da CBN, sobre as negociações envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin. Na ocasião, o mandatário se exaltou e, em tom agressivo, mandou a profissional voltar para a faculdade. “Deveria na verdade voltar para o ensino médio, depois para o jardim de infância e aí nascer de novo”. Em outro momento, disse: “Você está empregada aonde? (sic)”. Na mesma ocasião, aos gritos, e em tom ameaçador, dirigiu insultos à Adriana de Luca, da CNN Brasil: “Pare de fazer perguntas idiotas”.

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Com informações de agências