Peru: CGTP defende frente ampla e a convocação de uma constituinte

Líder da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP), Gerónimo López denuncia campanha de sabotagem e defende as normas editadas pelo presidente Pedro Castillo

O Congresso do Peru destituiu sua presidente, a direitista Lady Camones, na segunda-feira (5), depois de aprovar uma moção de censura apresentada após a transmissão de áudios em que o presidente do Aliança para o Progresso (APP) determina para que priorize uma lei que favoreça sua campanha para governador regional. A moção de censura obteve 61 votos a favor, 47 contrarias e 5 abstenções, entre os 113 parlamentares (de um total de 130) que participaram da sessão. Era necessária uma maioria simples para aprová-la.

Em entrevista, Gerónimo López, secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP), avalia o atual momento político do Peru.

Secretário Geral da CGTP

Fortalecimento sindical

Gerônimo considera positivo que, depois de 32 anos de governos neoliberais, o governo de Pedro Castillo tenha aprovado duas normas muito importantes para os trabalhadores: o Decreto Supremo que limita o uso abusivo e ilegal de serviços de terceirização, e o que regulamenta as negociações coletivas. Ele acredita que ambos possibilitam que o movimento sindical volte a crescer.

Ele explica que agora, “temos a negociação coletiva do setor público e a estabilidade ao servidor, desaparecendo com aqueles contratos a que ficava sujeito a ser despedido a cada três meses ou seis meses”.

Assim disso, alertou Gerónimo, diante de avanços que, mesmo que pontuais e em um ritmo que a população gostaria de ver acelerado, a extrema-direita, o fujimorismo, “está fazendo uma perseguição judicial através da Promotoria, do Ministério Público, acusando o presidente de liderar uma organização criminosa, envolvendo inclusive o seu entorno familiar”.

O dirigente sindical peruano diz que não há uma investigação transparente e objetiva que garanta uma averiguação não politizada. “Há uma partidarização e uma perseguição política e judicial contra o presidente”, avalia Gerónimo.

Ele diz que, para se contrapor a esta situação, o governo tem se reunido com movimentos sociais e anunciando compromissos. “Mas o fato é que se não houver resultados mais ágeis, as pessoas irão se afastando, com o governo perdendo naturalmente apoios”, alertou o dirigente, que também condena a indicação de ministros e funcionários “que não têm acúmulo e carregam consigo problemas passados”.

Jornada nacional de luta

Gerônimo informa que a CGTP está organizando uma jornada de luta, cuja data será discutida na próxima semana. Há possibilidade de uma paralisação nacional “contra a oligarquia, contra esse poder econômico que está desestabilizando a democracia, a vontade popular e fazendo tábua rasa dos direitos dos trabalhadores”.

Apesar de admitir que em um ano não é possível cobrar do governo muitas mudanças, ele “precisa demonstrar que está concretizando bases firmes desde o seu alicerce”.

Segundo o dirigente sindical o que a população pede é mais firmeza de Castillo, como a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, “para romper com a herança deixada do fujimorismo, e o fechamento deste Congresso de corruptos e traidores do país”. Gerônimo diz que essas medidas contam com amplo apoio “e isso se demonstra pelo fato de que mais de 70%, a grande maioria da população, as respalda”.

Para superar problemas como de “uma esquerda atomizada, em que não há um trabalho unitário para apresentar um projeto claro”, o veterano dirigente aposta na política de frente ampla. Ele defende que o governo deve negociar com a Coordenadora Nacional de Forças. “Castillo necessita tomar a iniciativa e dialogar com os partidos de esquerda e de centro, com as organizações sociais, para ter força para se contrapor ao poder dos oligopólios.

Um pacto social de todos os setores, com trabalhadores, camponeses, agricultores, estudantes. E estabelecer medidas de curto, médio e longo prazos que são os cinco anos de governo”, afirma.

Neste “pacto político-social pela reativação econômica”, defende o enfrentamento ao parasitismo do sistema financeiro, “porque não podemos continuar dando aos bancos privados o capital que falta para financiar o desenvolvimento nacional”.

Ele diz que o Banco da Nação e o Banco Agrário, que deveriam servir aos agricultores, não chegam até eles, “pois seu capital é desviado e fica retido com as transnacionais e com as empresas de grande poder econômico, que concentram e monopolizam tudo”.

Gerônimo defende que “tão estratégicos e volumosos recursos deveriam estar sendo direcionados às pequenas e médias empresas, que são as que geram mais de 70% do emprego”.

 A Confederação Geral dos Trabalhadores do Perudefende investimento emergencial de apoio à indústria têxtil nacional, “porque a roupa asiática está entrando com livre tarifa, e é aí onde também quebram nossas empresas. O governo tem que proteger a empresa nacional, para garantir salário, emprego e direitos”, concluiu Gerónimo

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