Mapa eleitoral mostra relação do bolsonarismo com crime ambiental

O estudo, feito sob encomenda para o Brasil de Fato, cruzou o resultado da votação no 1º turno com os alertas de desmatamento contabilizados pelo Inpe

As queimadas iniciadas no início do mês de setembro, atingiram fortemente a aldeia Ka’a kyr, na Terra Indígena Alto Rio Guamá. (Foto: Cícero Pedrosa Neto/Amazônia Real-26/09/2020)

Um mapa eleitoral inédito comprova a aliança entre o bolsonarismo e crime ambiental na Amazônia. Elaborado pelo engenheiro florestal Newton Monteiro, mestrando em Ciências Geodésicas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), o quadro comprova que Bolsonaro teve boa performance nas urnas, no primeiro turno, no chamado arco do desmatamento, que vai do Acre até o Maranhão.

O estudo, feito sob encomenda para o Brasil de Fato, cruzou o resultado da votação no primeiro turno com os alertas de desmatamento contabilizados pelo sistema Deter do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) ao longo do governo Bolsonaro.

“São municípios onde a economia é movida por desmatamento ilegal, grilagem e invasão de terras, com predomínio de pecuária, soja e garimpo em áreas protegidas”, diz a reportagem do Brasil de Fato.

Um dos destaques negativos é a região chamada de Amacro (junção das siglas de Amazonas, Acre e Rondônia, por abranger partes dos três estados), uma das novas zonas de pressão ambiental consolidadas sob o governo Bolsonaro. A área concentrou 20% de tudo o que foi derrubado na Amazônia entre 2020 e 2021.

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No mapa, outro polo de devastação ambiental com prevalência de votos em Bolsonaro abrange os municípios paraenses de Itaituba (57,7% de votos para Bolsonaro), Altamira (57,7%) e São Félix do Xingu (63%), que aparecem mensalmente entre os mais desmatados do país.

Na mesma região está a cidade de Novo Progresso (PA), que deu 79,6% dos votos válidos para Bolsonaro e foi palco do chamado dia do fogo em 2019, quando fazendeiros atearam fogo propositalmente em uma grande porção de floresta. Áreas protegidas como a Terra Indígena Kayapó e a Floresta Nacional do Jamanxin são alvos de ilegalidades contínuas cometidas por madeireiros, garimpeiros e pecuaristas.

(Arte: Brasil de Fato)

No Mato Grosso, todos os dez municípios que lideram o ranking estadual de desmatamento deram maioria de votos a Bolsonaro. Em seis deles a votação do candidato à reeleição ultrapassou os 70%: Colniza, Nova Bandeirantes, Aripuanã, Querência, Marcelândia e Juara.

Em Roraima, cidades que viveram uma explosão de crimes ambientais elegeram Bolsonaro com mais de 60% dos votos, entre elas Caroebe, Rorainópolis e Caracaraí. Os responsáveis são a soja, a exploração de madeira e a pecuária. No primeiro ano do mandato de Bolsonaro, a perda de cobertura vegetal mais do que triplicou no estado, segundo dados do Inpe.

Com 40 anos de atuação na área ambiental, o sócio-fundador do Instituto Socioambiental (ISA), Márcio Santilli, garante que a sobreposição entre bolsonarismo e crime ambiental não é por acaso. Segundo ele, o crime ambiental lucrou mais durante o mandato do atual presidente e aumentou o investimento em políticos que impulsionam a candidatura de Bolsonaro. 

Para o fundador do ISA, o resultado eleitoral expressa uma hegemonia bolsonarista nas partes da Amazônia que estão mais reféns da predação ambiental. “Não é uma hegemonia que a gente possa generalizar para toda a Amazônia. Mas o crime ambiental banca a corrupção eleitoral”, resume.

Com informações do Brasil de Fato

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