O país vai voltar à civilidade, afirma Lula a parlamentares

O presidente eleito fez um discurso emocionado e ressaltou que fará um governo voltado para os mais necessitados e com avanços econômicos.

Foto: Ricardo Stuckert

Em seu primeiro discurso na sede do gabinete de transição do governo, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília-DF, nesta quinta-feira (10), o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso voltado a demonstrar a preocupação com as regras fiscais do seu futuro governo e também às questões sociais mais urgentes.

“A gente pensa na sobrevivência da espécie humana, que o Estado tem a obrigação de cuidar”, disse Lula para uma plateia de parlamentares federais e lideranças políticas de diversos partidos. Antes de Lula, o vice-presidente e coordenador geral do gabinete da transição, Geraldo Alckmin cumprimentou brevemente os presentes.

No palco, Lula explicou como é fazer um governo voltado para os mais necessitados sem deixar de lado a economia e a responsabilidade fiscal. “Por que as pessoas são levadas a sofrerem em função da tal estabilidade fiscal nesse país? Por que toda hora as pessoas falam que é preciso saber cortar gastos. É preciso fazer superávits? É preciso cuidar do teto de gasto? Por que as mesmas pessoas que discutem com seriedade o teto de gasto não discutem a questão social?”, questionou. 

O presidente eleito disse ainda que deve ser difícil para privilegiados entenderem como vivem as pessoas mais simples e, por isso, não têm noção do que é fazer política para os mais pobres.

“Algumas pessoas não compreendem, quem nasce no centro de Salvador, quem nasce no centro de Recife, quem nasce no centro de São Paulo, quem já nasce com asfalto, com luz elétrica, com água encanada, não tem noção do que é fazer política para o pobre. As pessoas não tem noção do significado de uma cisterna. Parece uma coisa trivial para quem tem água encanada. Parece bobagem”. 

Dessa forma, o presidente apontou números que comprovam que seus governos anteriores cuidaram dos mais pobres e também de outros segmentos da sociedade e ainda conquistaram grandes avanços para a economia brasileira.

Lula lembrou que quando foi eleito a primeira vez, em 2003, a inflação estava em 12% “e levamos para o centro da meta, de 4%, oscilando entre 2, 3 %; o desemprego estava na faixa de 12% e chegou a 4%, a menor taxa de desemprego desse país”.

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No discurso, o presidente eleito recordou que a atuação do seu governo levou o Brasil a ter respeito internacional na área econômica quando pagou a dívida ao Fundo Monetário Internacional (FMI), deixando o país numa situação de credor e não mais de devedor. “Naquele tempo a palavra desenvolvimento não existia”, explicou.

Acabar com a fome

Lula se emocionou e foi às lágrimas ao repetir sua promessa de vinte anos atrás: que irá acabar com a fome, mais uma vez. “Se quando eu terminar esse mandato, cada brasileiro estiver tomando café, almoçando e jantando outra vez, eu terei cumprido a missão da minha vida”.

Sobre a volta da fome, o presidente eleito disse que quando deixou a presidência jamais imaginava que o país passaria por isso novamente e que imaginava o Brasil estaria em outro patamar de desenvolvimento. “Eu imaginava que nos 10 anos seguintes, esse Brasil estaria igual à França, à Inglaterra, esse país teria evoluído do ponto de vista das conquistas sociais”.

Lula disse que a única razão do país rico e exportador de alimentos como o Brasil é e conviver com parte da população passando fome é que não há compromisso das autoridades com o seu povo.

“O Brasil é o terceiro em produção de alimentos no mundo, maior produtor de proteína animal, esse país pode efetivamente garantir que cada cidadão possa comer (…) A única explicação é que falta compromisso dos governantes com isso que é o essencial. A gente se preocupa tanto. ‘Nós temos que garantir uma política muito séria porque é preciso pagar os juros com o sistema financeiro’”, criticou.

Lula lembrou do impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff, “com uma mentira de uma pedalada”. Segundo ele, depois disso, o país “viveu o maior processo de negação da política que eu conheço”.

Lembrando das acusações sem provas que levaram à sua prisão política e arbitrária, afirmou: “Eu fui acusado das maiores infâmias, sem que o acusador jamais pudesse provar. Eu não tive que provar a minha inocência, tive que provar a culpa do meu acusador, a culpa do Moro e do Dallagnol e, graças a Deus, conseguimos provar”, discursou.

Direitos trabalhistas

O presidente eleito falou também que se deve rediscutir o mundo do trabalho. “Você não pode viver no mundo em que os trabalhadores parecem que são microempreendedores, mas que trabalham como se fossem escravos sem nenhum sistema de seguridade social para protegê-lo no infortúnio”. 

Lula criticou ainda o papel humilhante que Bolsonaro fez com as Forças Armadas no Brasil em seu mandato e também o relatório divulgado pelo Ministério da Defesa nesta quarta-feira (9) sobre o funcionamento do sistema eleitoral. E enfatizou que, em seu governo, o país irá voltar a civilidade.

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O presidente falou sobre a necessidade da preservação da autonomia entre os Três Poderes e o respeito às instituições brasileiras e contou que está conversando com os presidentes do Congresso Nacional, da Câmara, e também com os parlamentes eleitos. E vai conversar com cada governador e com todas as autoridades que puderem ajudar na reconstrução do país. Conversar com o movimento social, sindical, com as mulheres, o movimento negro, indígenas, com o povo brasileiro.

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Fotos: Ricardo Stuckert

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