Morre a ex-atleta Isabel, musa do vôlei brasileiro e apoiadora de Lula

“Isabel Salgado não foi apenas um símbolo para o esporte, mas também de luta na defesa de seus ideais”, afirmou Lula, em suas redes

A ex-jogadora Isabel Salgado, considerada a grande musa do vôlei brasileiro na década de 1980, morreu na manhã desta quarta-feira (16), aos 62 anos. Apoiadora do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e recém-nomeada para a equipe de transição de governo, Isabel foi vítima da síndrome aguda respiratória do adulto (Sara). Ela estava internada no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, mas não resistiu às complicações da doença.

Carioca, nascida em 2 de agosto de 1960, Maria Isabel Barroso Salgado foi atleta do vôlei por 20 anos e maior pontuadora dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984. Ao se transferir para a Itália, tornou-se a primeira brasileira a atuar numa liga estrangeira. De volta ao Brasil, trocou as quadras pelas areias e foi campeã também no vôlei de praia.

Em 1982, uma matéria de capa da revista Veja apontava Isabel, pela primeira vez, como “a musa do vôlei”, num reflexo da popularidade que esse esporte alcançou após o Mundialito daquele ano, em São Paulo. “Achava esse rótulo de musa um troço brega, meio cafona. Mas, de qualquer forma, é melhor ter um rótulo que te enaltece, que te bota pra cima do que alguém te dizendo que você é indisciplinada, que você é isso, é aquilo”, opinou Isabel.

Como atleta, ela se destacava não só pela qualidade técnica – mas também pelas opiniões contundentes e pela liderança. “Eu vinha de uma família onde as mulheres tinham voz. Meu pai tinha enorme respeito pela minha mãe”, explicou Isabel, em uma entrevista. “Lá em casa, nunca precisávamos falar alto para sermos ouvidas. A argumentação sempre foi o norte.”

Mesmo ao se aposentar, aos 38 anos, não deixou as quadras – ela passou a atuar como treinadora. “Nunca fui técnica. No ano passado (1998), fiz o primeiro curso e terminei outro este ano. Mas quando comecei a correr atrás desse projeto no Flamengo nem vislumbrava a possibilidade de vir a dirigi-lo”, afirmou, na ocasião. Dos cinco filhos de Isabel, três – Maria Clara, Pedro e Carol – viraram jogadores de vôlei de praia.

Na política, tampouco a ex-atleta se omitiu. Ainda jovem, matriculou-se na faculdade de História, da qual teve de abrir mão por falta de tempo. Ao lado de Ana Moser, Isabel sempre foi uma referência progressista egressa do vôlei feminino. Em 2018, declarou voto em Fernando Haddad, denunciando os riscos da ascensão de Jair Bolsonaro e da extrema-direita ao poder. Com a gestão bolsonarista em curso, liderou a criação do movimento “Esporte pela Democracia”.

“Não consigo imaginar a minha vida sem me posicionar. Eu estou no mundo e não consigo ficar quieta vendo quem está do meu lado sofrer uma covardia enquanto eu fecho minha janela, minha porta”, declarou em 2020. “O segmento esportivo tem uma força muito grande. Então, eu simplesmente lamento que a gente perca a força dessas vozes que são tão importantes, que não sirvam ao fim de ter um país mais justo, com mais respeito. Tem muita gente pedindo socorro, a desigualdade só se aprofunda, isso é muito triste.”

Nas eleições 2022, Isabel se engajou na campanha de Lula à Presidência da República. Seu nome foi indicado, na última segunda-feira (14), a compor a equipe de transição no Esporte. Isabel aceitou o convite, mas faleceu antes de assumir a tarefa. “Isabel Salgado não foi apenas um símbolo para o esporte, mas também de luta na defesa de seus ideais”, afirmou Lula, em suas redes.

O presidente eleito destacou que o “pioneirismo” de Isabel “no esporte abriu as portas para muitas brasileiras. Suas conquistas levaram o Brasil a outro patamar na história do vôlei feminino”. Segundo Lula, a ex-atleta era “uma referência tanto na quadra quanto na praia”, tendo sido “convidada a integrar o Grupo Técnico de Esporte no Gabinete de Transição por sua competência como atleta e voz ativa por um país mais justo”.

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