Movimentos querem programa de governo “vitorioso nas urnas e nas ruas”

Em reunião com a coordenação da transição de governo, foi discutida a intenção dos movimentos populares de tornar a posse “um ato épico da virada histórica”.

Magno Romero/Divulgação

Representantes de movimentos populares se reuniram pela primeira vez nesta quinta-feira (17), em Brasília (DF), com a equipe de transição ao governo do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva. O espaço foi criado pela coordenadora política da transição, Gleisi Hoffmann, para discutir a necessidade da ampliação do diálogo com os movimentos no processo de transição, não apenas a partir do protagonismo de lideranças, mas destacando os sujeitos coletivos das organizações populares. 

Foi assim que o membro da executiva da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Ronald Ferreira dos Santos, descreveu o tom da reunião ao Portal Vermelho. Para ele, esta foi uma sinalização de que no processo de transição e na própria ação de governo a participação popular será um ponto chave. 

Estiveram presentes lideranças de diferentes segmentos, com destaque para nomes vinculados às Frentes Brasil Popular (FBP) e Povo Sem Medo, as duas mais representativas do país, que reúnem dezenas de entidades cada, entre movimentos, sindicatos, coletivos e outros atores civis.

Como representante da CTB, ele disse que colocou a posição da entidade sobre o momento atual, com as demandas de proteção do trabalho, revisão da reforma trabalhista, da organização sindical. “Reafirmamos o papel da unidade das centrais para enfrentar este momento e a busca por uma amplitude, da qual a CTB foi uma das artífices. Mostramos que é preciso aprender na política com o que foi vitorioso. Com a unidade, a amplitude, a radicalidade do programa e o respeito as diferenças, temos condições de fazer grandes saltos neste processo a ser inaugurado no dia primeiro”, declarou. 

Inclusive, o ato de posse de Lula em primeiro de janeiro também foi discutido com os movimentos populares. “Os movimentos querem tornar a posse um ato épico de demonstração da virada desta história, com grande participação popular”, disse Ronald.

Vitorioso nas ruas e nas urnas

Diante das polêmicas criadas na imprensa em torno da transição, Ronald disse que foi reafirmado o que Aloízio Mercadante tem dito, que o programa de governo “as urnas já sufragaram”. “Este é o conjunto de proposições, este é o compromisso, este é o programa que precisa ser construído e executado”, afirmou. 

O sindicalista da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar) também pontuou que as questões emergenciais e prioritárias estão sintonizadas com as demandas das organizações populares. Ele citou o tema do salário mínimo, do Bolsa Família, da recomposição dos programas, o compromisso de reestruturar a presença do estado nas políticas pública que foram destruídas, a questão do desenvolvimento agrário, o combate ao racismo e as demandas das mulheres.

“O programa de governo não vai ficar só no discurso, foi o que escutamos, mas vai ganhar estrutura material, com a recriação dos Ministérios como os espaços da execução das políticas”, disse ele.

No entanto, de acordo com Ronald, “o programa que venceu nas urnas precisa vencer nas ruas”. As posições contrárias a este programa também ocuparam espaço relevante nas urnas, o que demanda consolidação deste programa na disputa política. 

“Para além da gestão, é importante que os movimentos que entregaram suas pautas na eleição, que foram incorporadas ao programa de governo, deem o lastro político nas ruas para sustentar este programa. Respeitando a independência e o papel de cada instituição, há a necessidade da participação popular ter um lugar estratégico neste novo momento que o Brasil vai inaugurar”, observou.

Ainda participaram da reunião o deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSol-SP), liderança do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), Aristides Santos, o militante Marcelo Fragozo, que atua como secretário da FBP e da Povo Sem Medo. Compuseram também a mesa da reunião a Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadores na Agricultura Familiar (Contraf), o Fórum Baiano da Agricultura Familiar, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), a Uneafro Brasil, a Coalizão Negra e o Movimento Negro Unificado (MNU).