Professora é demitida por assédio após chamar doutorandos de ‘esquerdistas’

“Procurem outro professor para orientar vocês. Não quero esquerdistas no laboratório”, disse a docente da Unifap, em mensagem no WhatsApp

A professora Sheylla Susan de Almeida | Foto: Reprodução/Facebook

Após chamar de ‘esquerdistas’ e expulsar do laboratório do doutorado alunos da Universidade Federal do Amapá (Unifap), a professora Sheylla Susan Almeida foi desligada do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia (Rede Bionorte) da universidade. A sindicância considerou como caso de assédio.

A decisão foi tomada durante reunião extraordinária da coordenação estadual da Rede Bionorte, realizada no dia 9 de novembro. Na avaliação da coordenação, ela praticou discriminação e assédio contra os estudantes.

Na ocasião, a docente enviou mensagem aos alunos dizendo: “Procurem outro professor para orientar vcs. Amanhã estarei entregando a carta de desistência da orientação de vcs. Não quero esquerdistas no laboratório. Portanto, sigam a vida de vcs. E que Deus os abençoe. Se tiver mais algum esquerdista, que faça o favor de pedir desligamento. Ou estão comigo, ou contra mim [sic]”, escreveu.

Sheylla Almeida segue sendo alvo de Processo Administrativo Disciplinar (PAD) na Unifap, que corre sob sigilo.

Uma das alunas afetadas foi Débora Arraes, de 35 anos. Ela também é professora da UEAP (Universidade do Estado do Amapá), e realiza pesquisa de doutorado na Unifap. Ao UOL, ela afirmou que a orientadora é “declaradamente negacionista” mas que, até então, “nunca havia demonstrado comportamento semelhante” com seus alunos.

“Fui informada de que eu estava sendo desligada pelo fato de eu ter votado no Lula. Ela nunca havia demonstrado posicionamento semelhante por questões políticas. Nas redes sociais, ela é declaradamente negacionista, mas eu, como aluna e também professora, entendo que são posições que não deveriam ser consideradas numa relação entre orientador e orientando”, disse Débora ao UOL.

O professor Líbio Tapajós Mota, de 42 anos, é outro acadêmico abandonado pela orientadora. Ele integra o programa de Inovação Farmacêutica, em associação em rede de outras universidades da Região Norte. Ao Globo, Mota disse que foi avisado da desistência da orientadora após o resultado das eleições de domingo (30).

“Nunca tivemos nenhuma tipo de desentendimento, nem pessoal, nem de cunho político-partidário. Antes desse episódio de ontem, ela mandou dois áudios dizendo que ela sentia muito ódio de mim e que era pra eu me manter afastado dela. No segundo áudio ela dizia, que no dia seguinte ia preparar a carta de devolução de entrega da orientação, da desistência da orientação. Isso aconteceu logo após o primeiro turno das eleições, mas eu não dei atenção para essas mensagens”, comentou.

Após a repercussão, Sheylla pediu desculpas aos alunos e à Unifap, em publicação feita no Facebook no dia 3 de novembro, e disse que “acabou se excedendo” ao dizer que os alunos deveriam procurar outro orientador. “No entanto, minha missão como professora não acolhe esse tipo de conduta, posto que dediquei a minha vida pela educação. Não serve preferência política, por razões pessoais, para segregar alunos e deixá-los a própria sorte”, escreveu. “Assim, assumo que me excedi nas palavras e peço desculpas pelo ocorrido, as eleições passam e a educação fica!”, finalizou.

Confira a íntegra da nota da Unifap

A Universidade Federal do Amapá tomou conhecimento por meio das redes sociais de um fato caracterizado como assédio, desta forma, vem a público mostrar sua indignação e contrapor toda e qualquer forma que reprima o pensamento ou liberdade de nossos acadêmicos e servidores.

Registra-se que a UNIFAP não concorda com tal conduta e os fatos estão sendo apurados, bem como serão adotadas as providências necessárias após as devidas apurações.

Confira a íntegra da nota da Ueap

A Gestão da Universidade do Estado do Amapá (UEAP) vem a público manifestar solidariedade a Professora Débora Arraes, docente do quadro efetivo da UEAP e atualmente aluna de doutorado da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), que sofreu opressão e assédio por posição política por parte de sua orientadora.

Estendemos o sentimento a todos os alunos que tenham sido submetidos a alguma forma de assédio em função de posicionamento partidário. Salvaguardando, sempre a manifestação política respeitosa dentro da nossa universidade.

Manifestamos ainda repúdio a qualquer ação de assédio provocada no ambiente acadêmico, seja nas graduações e programas de pós-graduações contra seus alunos ou servidores da instituição, em função de posição política, ou qualquer outra motivação.

Acreditamos e trabalhamos para que a liberdade de opiniões possa e deva prevalecer no meio acadêmico e no ambiente social em seus diferentes formatos e formas de expressão, em respeito ao Estado Democrático de Direito em que vivemos no nosso país.

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Com informações de agencias

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