Confronto com polícia no Peru deixa 17 mortos, até o momento

A repressão a tiros pela polícia gerou o caos em Juliaca. Manifestantes querem libertação do presidente deposto Pedro Castillo e antecipação de eleições.

Em pronunciamento na TV estatal, governo lamentou mortes em Juliaca, mas reagiu que vai restabelecer a ordem "contra grupos violentos que querem tomar o poder". Ausência da presidenta Boluarte é notável.

Pelo menos 17 pessoas foram mortas em confrontos com a polícia no sul do Peru, informou o escritório de direitos humanos do país nesta segunda-feira (9). Este é considerado o dia mais mortífero, até agora, de protestos exigindo eleições antecipadas e a libertação do ex-presidente preso Pedro Castillo. Os protestos somam 39 mortes, desde que começaram no início de dezembro, após a destituição e prisão de Castillo.

Os confrontos deixaram 68 pessoas feridas, disse Henry Rebaza, funcionário do Ministério da Saúde de Puno à agência Reuters, ao canal de televisão estatal TV Peru. A Ministra da Saúde, Rosa Gutiérrez, informou à noite que 28 pacientes precisam ser transferidos com urgência de Puno a Lima para receber atendimento médico cirúrgico adequado e pediu aos que protestam que permitam a referida evacuação.

Até mesmo as ambulâncias enviadas foram atacadas pelos manifestantes, segundo a ministra. Ela cita a morte de um médico atingido por munição improvisada. O aeroporto também foi invadido, impedindo que 28 policiais feridos fossem atendidos. Delegacias policiais também foram atacadas.

Entre os mortos estão pelo menos dois adolescentes, de acordo com o ministério. Alguns dos corpos tinham ferimentos de bala, disse o diretor regional de saúde de Puno, Ismael Cornejo, à estação de rádio local RPP. Os mortos nos confrontos eram em sua maioria jovens entre 21 e 35 anos, segundo os registros da Direção de Saúde de Puno.

Segundo testemunhas disseram à Reuters, os manifestantes se escondiam de tiros, enquanto atiravam com estilingues improvisados. Outros relatos apontam vítimas que nem estavam nos protestos, atingidos por tiros.

O escritório de direitos humanos do Peru, conhecido como Ouvidoria, pediu que a polícia cumpra os padrões internacionais no uso da força e nas investigações das mortes, enquanto exortou os manifestantes a se absterem de atacar propriedades ou impedir o movimento de ambulâncias.

Chamado à reflexão

Castillo está cumprindo 18 meses de prisão preventiva sob a acusação de rebelião, que ele nega. Ao decretar a dissolução do Congresso, ele visava a interromper mais um processo de impeachment contra ele, que não teve governabilidade no legislativo, desde que assumiu.

Os protestos pedindo eleições antecipadas e a libertação de Castillo recomeçaram na semana passada, após uma pausa no feriado. Os manifestantes também exigem a renúncia da nova presidente Dina Boluarte, o fechamento do Congresso e mudanças na constituição.

Apesar do resultado mortífero desigual entre polícia e manifestantes, o governo culpa os manifestantes pela violência, estimulando a reação armada da polícia. O primeiro-ministro do país, Alberto Otárola, afirmou em mensagem televisionada que vai restituir a ordem na região “contra grupo violento que quer tomar o poder.” Outros ministros acompanharam Otárola no pronunciamento, com a notável ausência de Boluarte, que diante dos questionamentos a sua legitimidade no governo, evita se pronunciar.

Falando em uma reunião de “acordo nacional” na segunda-feira com representantes das regiões do país e várias instituições políticas, Boluarte disse que não poderia atender a algumas das principais demandas dos manifestantes. Em meio ao total descontrole e revolta da população que votou em Castillo, ela pediu aos cidadãos que “reflitam”.

“A única coisa que estava em minhas mãos era adiantar as eleições, que já propusemos”, disse ela. “O que vocês estão pedindo é um pretexto para continuar gerando o caos nas cidades.”

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos informou que fará uma visita ao Peru de quarta a sexta-feira, visitando Lima e outras cidades para avaliar a situação.