Aliança China-Rússia é recado aos EUA: a unipolaridade acabou de vez

Tom das declarações de Xi Jinping e Vladimir Putin indica que desde o fim da União Soviética, em 1991, a hegemonia dos Estados Unidos nunca esteve tão em xeque

Foto: Russian Pool

Os Estados Unidos conseguiram cooptar boa parte das potências ocidentais para uma posição anti-Rússia e pró-Otan na guerra da Ucrânia. Mas a viagem do presidente chinês, Xi Jinping, a Moscou, iniciada nesta segunda-feira (20) e cercada de pompa, mostra que o sistema internacional está longe de uma unipolaridade.

Ao contrário: o tom das declarações oficiais na capital russa indica que desde o fim da União Soviética, em 1991, a hegemonia dos Estados Unidos nunca esteve tão em xeque. Ao poderio militar russo, soma-se a crescente influência econômica e diplomática da China.

Neste mês, o país asiático – que está sob a liderança do Partido Comunista desde 1949 – anunciou a reconciliação diplomática entre Arábia Saudita e Irã. Foi a primeira vez que a participação da China se revelou decisiva num conflito histórico no Oriente Médio.

Ao receber Xi no Aeroporto de Moscou, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o saudou como “velho amigo” e voltou a destacar “a vontade da China de ter um papel construtivo na resolução”. Às vésperas da visita, Putin também declarou que a aliança entre China-Rússia era “especial” e alcançou “o ponto mais elevado”, o que foi ratificado por autoridades chinesas.

“É verdade que nossos dois países compartilham os mesmos objetivos, alguns semelhantes. Temos feito esforços para a prosperidade de nossos respectivos países”, declarou Xi à imprensa. “Podemos cooperar e trabalhar juntos para alcançar nossos objetivos.”

Em artigo para o jornal Rossiyskaya Gazeta e para a agência estatal Xinhua, na quinta-feira (16), Xi já havia renovado a disposição chinesa de colaborar para que Rússia e Ucrânia buscassem um acordo de paz. A guerra completou um ano em fevereiro.

Segundo Xi, a proposta chinesa visa “neutralizar as consequências do conflito e promover um acordo político”, mesmo ponderando que “problemas complexos não têm soluções simples” para as nações envolvidas. “Espero trabalhar com o presidente Putin para adotar uma nova visão conjunta nas relações. É uma viagem de amizade, cooperação e paz”, escreveu Xi.

Mas a visita de Estado – que vai durar três dias – não se limita à questão da guerra. Xi e Putin encerram a segunda-feira com um jantar de cortesia, no qual os dois governos enfatizaram o interesse comum numa “parceria estratégica e crescente”. É esperado que vários acordos sejam anunciados até esta terça-feira (21).

Entre os acordos previstos, sobressai um sobre o “fortalecimento da ampla associação e das relações estratégicas” entre China e Rússia. Um termo de cooperação econômica, com medidas que devem vigorar até 2030, também será assinado.

As tentativas do governo Joe Biden de intimidar a Rússia, incluindo a pressão para que o Tribunal Penal Internacional (TPI) condenasse Putin à prisão, não surtiram efeito. O recado desafiador da China e da Rússia aos Estados Unidos é que o mundo unipolar acabou de vez.

Autor