Mesmo com fiscalização intensa, garimpo ilegal persiste na Amazônia

“Quando acaba uma operação, a gente não tem como garantir que aquele garimpo não vai ser reativado”, diz chefe do ICMBio, Bruno Matos

Operação Curupira no Pará (Foto: Paulo Cezar/Agência Pará)

A região sudoeste do Pará, que lidera o ranking de devastação pelo garimpo na Amazônia, caracteriza-se por ser uma área que, mesmo após intensa fiscalização em 2023, esse tipo de atividade ilegal persiste.   

Ao UOL, o chefe da unidade local do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Bruno Matos, disse que há intensa fiscalização ao garimpo, mas considera esse esforço insuficiente.

“A gente acredita que a redução nos ilícitos foi pequena. Quando acaba uma operação, a gente não tem como garantir que aquele garimpo não vai ser reativado. Enquanto atacamos alguns alvos, estão surgindo novos em outros lugares. Então é uma bola de neve, parece que a gente está enxugando gelo”, lamentou.

Até o final do ano, o ICMBio pretende realizar 24 operações para desmantelar o garimpo numa área de 9 milhões de hectares com 12 parques e florestas nacionais, mas alguns problemas dificultam as atividades.

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“O Brasil tem mecanismos fracos para controlar a circulação do ouro ilegal. Com o lucro da mineração ilegal, donos de garimpo podem repor rapidamente máquinas e veículos destruídos nas operações de fiscalização”, relatou.

O governo estadual do Pará também tem realizado intensa fiscalização na região. Em 15 municípios, que responderam por 76% do desmatamento ilegal, foi decretado estado de emergência. Foi lançada ainda a Operação Curupira com o emprego de 150 policiais na repressão ao garimpo.

Por outro lado, empresários locais apostam na manutenção desse tipo de atividade, sobretudo no município de Itaituba (PA), líder nacional de escoamento de ouro ilegal.

“Tudo é feito para atender a mineração: tornearia, elétrica, combustível, supermercado. Tudo abastece não só o garimpo como a população de Itaituba mesmo, que recebe o recurso de lá. Essas famílias dos garimpeiros, que moram na cidade, abrem outros negócios na cidade com o dinheiro que vem do garimpo”, disse ao UOL Fabrício Schuber, presidente da Associação Empresarial e Industrial de Itaituba (Aseii).

Área

No ano passado, segundo dados divulgados pelo portal, a região teve as quatro unidades de conservação mais afetadas pela atividade no país: duas florestas, um parque nacional e uma Área de Proteção Ambiental (APA).

Naquele ano essas quatro reservas tinham, juntas, 520 km² ocupados pelo garimpo. A área equivale a um terço da cidade de São Paulo. A região também tem as duas terras indígenas – Kayapó e Munduruku – com mais espaço invadido pelos garimpeiros. A atividade ameaça mais de 13 mil pessoas que vivem nesses territórios.

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