Aliados de Bolsonaro queriam dar golpe com 1,5 mil militares

Áudios divulgados pela CNN mostram diálogo entre ex-número 2 do Ministério da Saúde do governo Bolsonaro e ex-major preso

Ailton Barros e Élcio Franco. Fotos: Agência Brasil

A cada dia, fica mais clara a intenção de bolsonaristas colocarem em prática um golpe de Estado após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Áudios divulgados pela CNN apontam que o coronel Élcio Franco, número 2 do Ministério da Saúde no governo de Jair Bolsonaro, e o ex-major do Exército Ailton Barros, conversaram, em meados de dezembro, sobre a possibilidade de mobilizar 1.500 militares para a empreitada golpista. 

As conversas foram tornadas públicas nesta segunda-feira (8) e integram o inquérito da Polícia Federal contra Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, relativo à fraude nas carteiras de vacinação contra a Covid-19, entre as quais as de Bolsonaro e sua filha. Cid e Barros foram presos sob suspeita de envolvimento na adulteração dos registros. 

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Nessa leva de diálogos, eles também se queixam da possível resistência do então comandante do Exército, Freire Gomes, de aderir ao plano. Num dos trechos, Elcio Franco declara:  “O Freire não vai. Você não vai esperar dele que ele tome à frente nesse assunto, mas ele não pode impedir de receber a ordem. Ele vai dizer, morrer de pé junto, porque ele tá mostrando. Ele tá com medo das consequências, pô. Medo das consequências é o quê? Ele ter insuflado? Qual foi a sua assessoria? Ele tá indo pra pior hipótese. E qual, qual é a pior hipótese?”. 

Na conversa, Franco continua: “Ah, deu tudo errado, o presidente foi preso e ele tá sendo chamado a responder. Eu falei, ó, eu, durante o tempo todo [ininteligível] contra o presidente, pô, falei que não, não deveria fazer, que não deveria fazer, que não deveria fazer e pronto. Vai pro Tribunal de Nurenberg desse jeito. Depois que ele me deu a ordem por escrito, eu, comandante da Força, tive que cumprir. Essa é a defesa dele, entendeu? Então, sinceramente, é dessa forma que tem que ser visto”.

Em outra passagem, Ailton Barros diz a Franco: “(É preciso convencer) o general Pimentel. Esse alto comando de m* que não quer fazer as p*, é preciso convencer o comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia a prender o Alexandre de Moraes. Vamos organizar, desenvolver, instruir e equipar 1.500 homens”.

Homem de confiança na gestão bolsonarista, Elcio Franco foi secretário-executivo do Ministério da Saúde, o segundo mais importante cargo da pasta, de julho de 2020 até março de 2021, sob o comando do general Eduardo Pazzuello. Ele foi exonerado depois que Marcelo Queiroga assumiu o ministério. 

Ailton Barros, que dizia ser o “01 do Bolsonaro”, foi preso na semana passada, juntamente com Mauro Cid, durante a Operação Venire, que apura as fraudes em carteiras de vacinação. 

Em outra troca de mensagens, Barros disse a Cid que sabia quem era o mandante do assassinato de Marielle Franco. Também nesta segunda-feira (8), o Ministério Público pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) a suspensão do pagamento de pensão de mais de R$ 22 mil à mulher de Barros, recebida após ele ter sido expulso do Exército por processos disciplinares. 

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Com agências

(PL)

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