G7 tem Rússia e China como alvos e Zelensky como astro

Mais: Equador – A morte cruzada não significa carta branca para Lasso / Rússia – Nuvem radioativa pode atingir a Europa / Colômbia – ELN retoma negociações de paz.

A reunião dos países do G7 (Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão, e Reino Unido) começou nesta sexta-feira (19) em Hiroshima de forma previsível, com o anúncio do aperto das sanções contra a Rússia. Em um comunicado conjunto, reportado pela agência Reuters, os líderes dos sete países disseram que as medidas existentes contra a Rússia serão ampliadas e quaisquer exportações que possam ajudá-la em sua guerra de 15 meses contra a Ucrânia serão restritas. “Isso inclui exportações de maquinário industrial, ferramentas e outras tecnologias que a Rússia usa para reconstruir sua máquina de guerra“, acrescentando que os esforços continuarão a restringir as receitas russas de seu comércio de metais e diamantes. O presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, tem sua chegada à Hiroshima, onde se realiza a reunião do G7, prevista para este sábado (20).

Rússia não é o único alvo

A reunião do G7 contará, no sábado e no domingo (21) com mais oito países convidados: Brasil, Índia, Indonésia, Austrália, Coreia do Sul, Vietnã, Ilhas Cook e Comores. A presença de Zelensky, não anunciada na programação inicial, é mais um elemento de pressão principalmente sobre os dois países do Brics presentes: Brasil e Índia, mas também sobre o Vietnã, nações que buscam adotar uma posição de equilíbrio diante do conflito. No entanto, com a enorme constrição diplomática e midiática, potencializada com a presença do novo “herói”, Zelensky, teme-se que a declaração conjunta do G7 ampliado não seja tão equilibrada como desejariam Lula, Narendra Modi (primeiro-ministro da Índia) e Vo Van Thuong (presidente do Vietnã). A mídia informa que Zelensky inclusive já teria solicitado uma bilateral com o presidente brasileiro. A conferir. Mas o alvo desta reunião do G7 não é só a Rússia, também a China estará muito presente no debate. Já se espera que os países do G7, liderados pelos EUA,  denunciem uma suposta “coerção econômica” que seria exercida pela China principalmente contra países da África e da América Latina.

G7 e o circo de mentiras

“A mentira não se torna verdade apenas por ser dita em voz alta, e a injustiça não se torna justiça apenas porque muitos a defendem”, Kim Myong Chol, analista internacional na República Popular Democrática da Coreia

O circo está armado, tanto para a apresentação de Zelensky, que segundo a agência de notícias britânica “Reuters” está erguendo uma “democracia moderna” na Ucrânia, quanto para a acusação de “coerção econômica” da China. Estas duas narrativas baseiam-se em construções tão evidentemente falsas que apenas prevalecem em ambientes quase que completamente corrompidos. Como é possível conceber que os EUA, campeão disparado no uso de seu poderio financeiro para, ao longo de décadas, promover ao redor do globo golpes de Estado, bloqueios, cercos e sanções econômicas, tenha a pachorra de acusar, com a maior tranquilidade do mundo, outra nação de “coerção econômica”? Sobre a fictícia “democracia ucraniana”, o tema merece outras notas.

A “democracia ucraniana”

O ex-senador do Partido Comunista do Brasil (PCdoB-CE), Inácio Arruda, membro do Comitê Central do Partido, esteve duas vezes em Kiev. A primeira vez foi em 2008, quando o então senador presenciou a enorme pressão que o país sofria no sentido de se transformar em uma base da Otan. Depois, voltou em 2015, ou seja, pós-Maidan (golpe de estado na Ucrânia, patrocinado pelos EUA e União Europeia ocorrido em 2014). Inácio, desta feita, viajou para representar o CC do PCdoB em um comício do Partido Comunista da Ucrânia em 2015. Na época, o partido, que é a maior legenda de esquerda do país, lutava contra a proscrição. Relata Inácio que o comício foi cercado por membros de milícias neonazistas, ostentando nos braços o símbolo nazista e portando correntes com esferas de aço. Ele foi acompanhado no comício pelo embaixador brasileiro e havia diversas delegações internacionais no local, o que constrangeu as autoridades oficiais, cúmplices dos neonazistas, a impedir as agressões. Porém, em determinado momento a polícia ucraniana obrigou a antecipar o fim da atividade com o pretexto de que não conseguiria garantir a segurança dos presentes contra os neonazistas, que agiam livremente. O PC da Ucrânia foi ilegalizado em 2015 e hoje atua sob condições de severa perseguição.

A “democracia ucraniana” – Prisão ou morte

Fascistas atacam a “Casa dos Sindicatos”, em Odessa

O líder de uma corrente da esquerda moderada ucraniana atualmente banida (União das Forças de Esquerda – por um Novo Socialismo) Maxim Goldarb, escreveu um artigo que circulou muito na rede contra hegemônica, intitulado: “Opositores ideológicos do governo ucraniano aguardam prisão ou morte”. Dizendo que tudo mudou depois de 2014, Goldarb descreve o ambiente político antes do golpe: “partidos políticos e organizações públicas de todas as cores e uma variedade de meios de comunicação operavam livremente na Ucrânia e opositores políticos, jornalistas e ativistas podiam criticar abertamente e sem medo das autoridades. Qualquer tentativa de evitar críticas às atividades das autoridades convertia-se num grande escândalo, de modo que eram poucas essas tentativas”. O artigo faz um desfile macabro de alguns dos crimes do regime ucraniano, que ele descreve como “oligárquico de extrema-direita”.

A “democracia ucraniana” – Assassinatos impunes

Odessa, 2 de maio de 2014 – Uma manifestação antifascista estava marcada para a “Casa dos Sindicatos”, prédio que abrigava a maior Central sindical da região. Milícias neonazistas cercaram e incendiaram o prédio, “com total conivência e assistência das autoridades”. Mais de 40 pessoas morreram. “Ninguém foi punido por este crime, embora os que participaram no ataque estejam registados em muitas fotografias e vídeos. Como se isto fosse pouco, um dos organizadores do massacre tornou-se mais tarde presidente do Parlamento ucraniano e outro entrou no Parlamento na chapa do partido do ex-presidente Poroshenko”. A lista de prisões e assassinatos descrita no artigo é longa. O nível de repressão é tal que, como conta o autor, pessoas são presas por darem um “like” em alguma publicação nas redes sociais que questione a narrativa oficial. Conclui Goldarb que a Ucrânia se tornou o “estado mais carente de liberdade da Europa, um Estado onde qualquer um que se atreva a opor-se às autoridades, à oligarquia, ao nacionalismo e ao neonazismo arrisca a liberdade e, muitas vezes, a vida”. Isso sem falar da corrupção absurdamente alastrada no país, que fez inclusive o bilionário americano Bill Gates, em janeiro último, dizer que a Ucrânia era o país mais corrupto do mundo.  É esta a “democracia moderna” que Zelensky defende ao lado dos seus amigos “democratas” do G7. Leia a íntegra do artigo de Maxim Goldarb, em espanhol, no site Rebelión.

Equador: A “morte cruzada” não significa carta branca para Lasso

Como prevíamos, a Corte Constitucional do Equador, na noite desta quinta-feira (18), considerou válido, por unanimidade, o decreto da morte cruzada emitido pelo presidente Guillermo Lasso, que dissolveu o parlamento e antecipou as eleições parlamentares e presidenciais, contornando o processo de impeachment que estava em andamento. Como Lasso continua governando até o pleito (inicialmente marcado para agosto mas podendo sofrer prorrogações até novembro), surgiu a preocupação de que ele, sem o parlamento com maioria oposicionista para contê-lo, pudesse soltar um pacote de maldades neoliberais durante este período: retirando direitos trabalhistas, promovendo privatizações etc. No entanto, embora cautela e caldo de galinha não façam mal a ninguém, essa possibilidade é praticamente inexistente. A morte cruzada poderia, em tese, ser pensada em um cenário onde o presidente está forte, contando com o respaldo do povo, porém enfrentando um boicote parlamentar. Neste caso, um presidente fortalecido poderia aplicar a morte cruzada, esperando se reeleger e eleger uma grande bancada de apoiadores, governando o restante do mandato com um parlamento favorável. O caso de Guillermo Lasso é completamente o oposto. Ele enfrenta uma rejeição popular de mais de 80% e, em um cenário como esse, mesmo aliados de primeira hora abandonam o barco. Além disso, Lasso ainda enfrenta o obstáculo da Constituição. O artigo 148 da Constituição do Equador (que prevê a “morte cruzada”) diz com todas as letras que, aplicado o mecanismo previsto no artigo, o presidente só poderá, até as eleições, expedir decretos de “urgência econômica”, que antes devem passar pela aprovação da Corte Constitucional e depois por uma revisão obrigatória da nova Assembleia Nacional. Ou seja, mesmo que fosse o caso de um presidente muito popular, seria um obstáculo importante convencer a Corte Constitucional a autorizar decretos de largo alcance sem justificativa em uma urgência econômica real. Para um governante forte e prestigiado, tal feito não é impossível. Com Lasso enfraquecido e isolado, a chance é muito remota. Ele mesmo reconhece isso. Em entrevista nesta sexta-feira, ao jornal El Pais, ele declarou que fez o decreto da morte cruzada por preferir “o purgatório de seis meses do que o inferno de dois anos (tempo que faltava para seu mandato)”.

Rússia: Nuvem radioativa pode atingir a Europa

Como se sabe, a Grã-Bretanha entregou urânio empobrecido para a Ucrânia, coisa que foi confirmada pelos britânicos sem causar grande alarme ou escândalo mesmo nas mais renomadas ONGs ambientalistas. Organizações que há anos pedem a proibição de munições com urânio empobrecido pois ele vaporiza com o impacto envenenando o meio-ambiente com pó de urânio que causa câncer e defeitos congênitos. O Reino Unido forneceu esse tipo de munição à Ucrânia para ser disparada de tanques Challenger de fabricação britânica. No último domingo (14) divulgou-se a notícia de que, no dia anterior, um massivo ataque aéreo das forças russas atingiu um depósito de munição em Khmelnytsky, no oeste da Ucrânia, causando gigantescas explosões no local. Nesta sexta-feira, o secretário do Conselho de Segurança da Federação Russa, Nikolay Patrushev, afirmou que a destruição de projéteis de urânio empobrecido na Ucrânia produziu uma nuvem radioativa que está se movendo em direção à Europa Ocidental. Segundo Patrushev, a Polônia já registra um aumento na radiação, o que foi negado pelas autoridades polonesas.

Colômbia: ELN retoma negociações de paz

O governo colombiano e o Exército de Libertação Nacional retomaram as negociações de paz em Cuba nesta quarta-feira (17), depois que o principal comandante rebelde ordenou uma pausa após comentários do presidente Gustavo Petro, que sugeriu que a guerrilha tinha vínculos com o narcotráfico .”Retomamos as sessões ordinárias… depois de ter feito uma primeira troca de esclarecimentos sobre as recentes intervenções do presidente”, disseram as partes em um comunicado conjunto divulgado em Havana, onde ocorrem as negociações. Na semana passada, durante cerimônia comemorativa do aniversário das Forças Armadas do país sul-americano, Petro disse que, apesar de estar em um processo de paz com o ELN, eles não pararam de lutar contra sua “economia ilícita”. Logo em seguida, o comandante rebelde Pablo Beltrán, que lidera as conversações, informou que as reuniões foram suspensas. No comunicado conjunto desta quarta-feira, as delegações negociadoras destacaram o esforço concentrado em alcançar um cessar-fogo. “Reiteramos nosso compromisso de alcançar acordos bilaterais e nacionais de cessar-fogo, participação da sociedade na construção da paz e ações e dinâmicas humanitárias neste ciclo”, indicaram no texto. Por sua vez, ratificaram a decisão de permanecer à mesa “até que se chegue a um acordo de paz com as transformações de que o país necessita”.

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