Empresário ligado ao ex-superintendente da PRF é acusado de corrupção

Maurício Junot usava viaturas em horário de serviço para fazer segurança particular da sua empresa, que teve seu patrimônio aumentado em 27 vezes desde 2019

Foto: Reprodução/ Jornal Nacional

O empresário Maurício Junot, representante da empresa Combat Armor Defense, vencedora de algumas das principais licitações na segurança pública do país, é procurado pela Interpol por fraude financeira, em Dubai, Emirados Árabes.

Reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, nesta segunda (26), revela uma série de denúncias contra Junot que é responsável pelo suspeito sucesso financeiro da empresa no Brasil.

Os donos da Combat Armor são os gêmeos americanos Daniel e Mark Beck. Os irmãos são financiadores da campanha de Donald Trump para a presidência e participaram da invasão ao Capitólio.

De acordo com fontes do jornal, a família Beck se interessou pelo Brasil após as vitórias eleitorais de Jair Bolsonaro e Wilson Witzel, em 2018. Desde então, os irmãos e Junot trabalharam para se aproximar dos políticos de extrema-direita.

Desde quando Bolsonaro assumiu, em 2019, o capital inicial da Combat aumentou 27 vezes. O valor do patrimônio pulou de R$ 1 milhão, em 2019, para R$ 27,4 milhões em 2022.

Só em 2020, e 2021, a empresa foi a vencedora de algumas das principais licitações para fornecimento de carros blindados para a área de segurança pública do governo federal, para a Polícia Rodoviária Federal de seis estados e para a Polícia Militar do Rio de Janeiro.

De acordo com o Portal da Transparência, de 2020 a 2022, a PRF pagou R$ 30 milhões para blindar viaturas e fabricar blindados. Com a Polícia Militar do Rio foram dois contratos: 30 blindados, totalizando mais de R$ 20 milhões.

Interpol

Segundo a reportagem do JN, quando venceu as licitações, Maurício Junot era procurado pela Interpol, a polícia internacional, por fraude financeira em Dubai, Emirados Árabes.

De acordo com o processo, Maurício Junot de Maria recebeu parte do pagamento para entrega de carros blindados, mas não cumpriu o contrato com o governo dos Emirados Árabes. Segundo uma fonte do Jornal Nacional, Junot fugiu de Dubai quando soube que seria preso e levou com ele US$ 8 milhões.

Por ter cidadania americana, Junot desembarcou nos EUA e não cumpriu a pena desde então.

Este processo não tem relação com a Combat Armor, mas High Protection Company (HPC). A empresa blindava as supervans usadas por executivos e membros do governo americano na área de conflito na guerra do Iraque, em 2005.

Silvinei Vasques

Até a PRF ser comandada pelo ex-superintendente Silvinei Vasques, a corporação não tinha blindados na frota. Quando Vasques assumiu o comando geral, a Polícia Rodoviária Federal e a Combat Armor fizeram negócios que podem ter ultrapassado os R$100 milhões, segundo o Ministério Público Federal.

Em imagens feitas em setembro de 2020, Silvinei Vasques, então superintendente da PRF, apresenta viaturas blindadas pela Combat a deputados bolsonaristas.

Silvinei Vasques prestou depoimento na Comissão Parlamentar de Inquério (CPI) que apura os atos golpistas de 8 de janeiro. Na ocasião, Vasques negou que tenha conseguido emprego na fábrica da Combat, em Indaiatuba, ao deixar a superintendência da PRF. Os deputados, no entanto, mostraram um cartão de visitas de Silvinei apresentado como vice-presidente da empresa.

Carros com defeito

A reportagem do Jornal Nacional teve acesso aos áudios de policiais reclamando da qualidade dos blindados fornecidos pela Combat. “O blindado já quebrou, irmão, novo, chegou semana passada, irmão. Que doideira, hein”, diz um policial.

“Os blindados chegaram agora, irmão. O do sétimo também quebrou, o colega falou aqui agora, falou que o motorista falou que o motor é muito pesado, não consegue… Faz muita força para puxar”, afirma um outro polícia em áudio.

Em um dos vídeos veiculados pelo jornal, é possível ver um caveirão que é usado há mais de dez anos, rebocando um outro, da Combat. Aparentando ser novinho em folha o veículo teve falha na embreagem.

Segundo a reportagem, nos últimos seis meses, só uma equipe de reboque fez mais de dez resgates de blindados quebrados.

“É uma viatura. Então, você não tem força para subir com força, transpor obstáculos. E você hoje tem barricadas. Você tem vários objetos colocados. Então, é, o agente fica muito limitado no sentido que ele tem uma ferramenta que pode falhar em uma situação crítica. Essa é a verdade”, afirmou um engenheiro mecânico e consultor de segurança que teve acesso às informações do projeto.

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