Lula defende “nova Revolução Industrial” no Brasil

Em reunião que retomou o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), presidente reforçou necessidade de acelerar processo de recuperação do setor

Lula durante reunião do CNDI. Foto: Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Após sete anos inoperante, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), criado em 2004, foi reativado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quinta-feira (6), com o foco na necessidade de acelerar a reindustrialização do país por meio da elaboração de uma nova política para o setor, de caráter inovador, sustentável e socialmente inclusivo.

Na reunião, realizada no Palácio do Planalto, com a presença de membros do CNDI, entre os quais ministros e representantes do setor produtivo e dos trabalhadores, Lula salientou que seu governo “não tem tempo a perder” e que não voltou a governar “para fazer o mesmo” que já fez. 

“Voltamos para tentar fazer as coisas diferentes e fazer uma nova Revolução Industrial neste país para a gente ser competitivo de verdade. A hora é agora”, declarou. Ele acrescentou que isso “está nas nossas mãos fazer isso” e que da parte do governo, “a gente vai criar as condições”. 

O presidente disse, ainda, que “serão três anos e meio em que ninguém vai poder se queixar de que o governo está atrapalhando”. Ele acrescentou que “se hoje for votada a reforma tributária, será a primeira vez na história do país que a gente faz uma reforma tributária num regime democrático — a última foi no regime militar. Estamos fazendo em um regime democrático, negociando com todo mundo e ela vai ser aprovada”.

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Ele também criticou a existência de restrições para o financiamento dos demais entes federativos. “Não se empresta dinheiro para prefeitura nem para o estado porque alguém decidiu que não empresta. Se o estado ou a prefeitura tem capacidade de endividamento, por que não emprestar? Por que o estado faz o papel de bandido? Por que se tomou quase R$ 600 bilhões de volta do BNDES que, ao invés de investir, devolveu ao Tesouro, para o Tesouro fazer o que? O que foi feito com todo o dinheiro que deixou de ser investido neste país?”, questionou. 

O presidente também disse que “acabou aquela bobagem de se o Estado tem que ser forte ou o Estado tem que ser fraco. O Estado tem que ser o Estado necessário para poder dirigir e induzir o crescimento econômico do país. ‘Ah, o Estado não pode se meter’. Quando houve a crise de 2008, quem salvou a economia? Foi o Estado. Quando houve agora a crise da pandemia, quem salvou de ser uma mortalidade (ainda maior)? Foi o Estado (…). O Brasil precisa dos dois, do Estado e do setor privado e precisa formar profissionais mais qualificados se a gente quiser verdadeiramente voltar a ser um país industrializado”. 

Outro ponto tratado pelo presidente foi a distribuição de renda através do crescimento econômico. “Muito dinheiro na mão de poucos significa pobreza, miséria, prostituição, violência, o que vemos em todos os países pobres. Agora, pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de renda, menos pobreza, mais poder de consumo, significa melhorar a vida da sociedade que é o que nós precisamos fazer”. 

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Lula lembrou que “com as medidas que já tomamos até aqui, o dinheiro está circulando, está correndo, se ele chegar lá embaixo, não vai ser aplicado na Bolsa, não vai comparar dólar, ele vai voltar para o comércio. Quando ele volta para o comércio, ganha o comércio, a indústria, o emprego, ganha todo mundo. Não precisa ser doutor honoris causa para saber disso. O povo precisa ter acesso aos recursos”. 

Por fim, disse estar otimista porque “o Brasil tem a chance que jamais teve”.  E completou: “O fato de ter ficado exilado do mundo nesses últimos seis anos deu ao mundo uma sede, uma necessidade do Brasil; precisamos tirar proveito do fato de que o Brasil não tem contencioso com ninguém. O Brasil gosta de todo mundo e todo mundo gosta do Brasil. E é por isso que não quero me meter na guerra da Ucrânia e da Rússia, minha guerra é aqui, contra a fome, o desemprego, conta a pobreza e a desindustrialização”. 

Retomada do CNDI

Há anos, e sobretudo no período mais recente, o Brasil vem enfrentando um processo de declínio precoce em sua indústria, com a produção voltada cada vez mais a itens primários e pouco investimento em ciência, tecnologia e inovação, o que é essencial para agregar valor aos produtos brasileiros, tornar o segmento mais competitivo, o país menos dependente e impulsionar o desenvolvimento nacional.

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Fazem parte do CNDI 20 ministros, além do presidente do BNDES e 21 conselheiros representantes da sociedade civil, entre entidades industriais e representantes de trabalhadores.  O colegiado é vinculado à Presidência da República e presidido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.

Ao longo dos próximos meses, o CNDI se debruçará sobre a missão de elaborar uma política industrial, tendo em vista necessidades sociais como a segurança alimentar e nutricional; a prevenção e o tratamento de doenças; infraestrutura, moradia, saneamento e mobilidade sustentáveis; soberania e defesa nacionais; empresas competitivas em tecnologias digitais em segmentos estratégicos; e descarbonização da indústria e ampliação de cadeias associadas à transição energética e à bioeconomia.