Universidades podem aliar conhecimentos tradicionais e acadêmicos

Jovem líder indígena abre caminho para a colaboração entre conhecimentos tradicionais e acadêmicos, visando um futuro mais equilibrado e consciente.

Tel Guajajara, da Tribo Morro Branco, é primeiro indígena a integrar a Direção Executiva da União Nacional dos Estudantes (UNE) | Foto: Pedro Peduzzi | Agência Brasil

O jovem Tel Guajajara, de 23 anos, faz história como o primeiro indígena a integrar a Direção Executiva da União Nacional dos Estudantes (UNE). Estudante do quinto semestre de direito na Universidade Federal do Pará (UFPA), ele traz consigo a riqueza das tradições indígenas e uma visão inovadora para promover a intersecção entre os conhecimentos tradicionais e acadêmicos, em benefício tanto das comunidades indígenas quanto do meio ambiente.

Originário da Terra Indígena Morro Branco, em Grajaú, Maranhão, Tel Guajajara é filho da cacique Virgulino e se autodenomina “filho da luta”. Sua atuação no ambiente universitário é destacada, tendo sido o idealizador do 1º Encontro dos Estudantes Indígenas da Amazônia e co-fundador da União Plurinacional dos Estudantes Indígenas entre 2021 e 2022. Além disso, é o criador do Circuito Curupira, uma rede de ações estudantis em prol das ações climáticas.

Tel Guajajara participa da plenária sobre juventude nos Diálogos Amazônicos, um evento preparatório para a Cúpula da Amazônia, que ocorrerá em breve em Belém. Ele defende a integração de conhecimentos por meio da criação da Universidade Integrada da Amazônia, uma instituição que facilitaria debates transversais e a troca de saberes entre as culturas.

Tradições indígenas e acadêmicas

O estudante acredita que a academia pode aprender muito com os conhecimentos tradicionais indígenas. “Nossas comunidades são também uma espécie de universidade”, afirma Tel, enfatizando a importância da tradição oral. Ele destaca que as universidades podem ser uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida das comunidades indígenas e ressalta a necessidade de reconhecer esses saberes no âmbito acadêmico. “É curioso vermos que os brancos só aprendem por meio de papel escrito. Nós aprendemos muito a partir das conversas. Temos muita tradição oral”, disse.

“O problema é que as secretarias de Educação não reconhecem isso, e as universidades cobram diplomas de papel. Com isso, nos limitam ao ensino médio. Lamento muito o fato de muitos dos meus primos não terem o privilégio que tenho, de ser estudante universitário”, afirmou.

Enfrentando desafios e promovendo visibilidade

Tel Guajajara é um defensor do acesso das comunidades indígenas ao ensino superior, propondo a criação de universidades em territórios indígenas com estrutura de laboratórios. Ele enxerga um enorme potencial nas áreas de biologia, química, farmácia, medicina, tecnologia e inovação, destacando a importância de compartilhar conhecimentos em uma via de duas mãos.

No entanto, Tel também enfrenta desafios, como a competitividade no ambiente acadêmico e a falta de representatividade nas áreas de ciências aplicadas e comportamento humano. Ele lamenta casos de estudantes indígenas que se apresentam como não indígenas para evitar o racismo e ressalta a importância de tornar visível a presença dos povos indígenas nas universidades.

O compromisso do diretor de Cultura da UNE em promover a integração entre diferentes conhecimentos e culturas, aliado à sua luta pela igualdade e representatividade, ressalta a importância da diversidade e da colaboração para enfrentar os desafios atuais, tanto sociais quanto ambientais. Sua atuação na UNE é um marco inspirador e um exemplo de como a união entre tradições e acadêmicos pode criar soluções inovadoras para um futuro sustentável.

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com informações da Agência Brasil
Edição: Bárbara Luz

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