‘Diálogos Amazônicos’ tem otimismo de políticos e alertas de indígenas

Primeiro dia do evento pré-Cúpula da Amazônia reuniu líderes indígenas, políticos e ativistas em busca de soluções para o desenvolvimento sustentável da região

Foto: Audiovisual/PR

O megaevento “Diálogos Amazônicos” teve sua abertura oficial nesta sexta-feira (4), em um encontro que reuniu líderes indígenas, políticos brasileiros e representantes de movimentos sociais na capital paraense. O evento ocorre como um prelúdio à aguardada Cúpula da Amazônia e tem como objetivo primordial o desenvolvimento de políticas públicas inclusivas e sustentáveis para a região amazônica.

A cerimônia inaugural foi marcada por discursos impactantes, danças tradicionais indígenas e quilombolas, reforçando a diversidade cultural e a importância da colaboração entre diferentes segmentos da sociedade para enfrentar os desafios ambientais que afetam a Amazônia.

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As autoridades presentes, entre elas a ministra Marina Silva e o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), demonstraram otimismo em relação à construção de políticas públicas participativas, enfatizando a importância de incorporar as perspectivas e vozes da Amazônia. Por outro lado, líderes indígenas adotaram um tom mais enfático, utilizando a oportunidade para pressionar e advertir sobre questões cruciais.

Lideranças indígenas cobram ações concretas

O destaque da abertura foi o discurso do cacique Raoni Metuktire, de 93 anos, ícone da luta pelos direitos indígenas no Brasil reconhecido internacionalmente, pertencente ao povo Kayapó. Em suas palavras, Raoni alertou sobre as ameaças das mudanças climáticas globais e fez uma incisiva cobrança ao presidente Lula para cumprir a promessa de campanha de demarcar as terras indígenas ainda não reconhecidas oficialmente. . “O branco chegou, foi inimigo e, até hoje, é inimigo nosso. Pouca gente ajuda a gente, a maioria é contra nós, indígenas”, afirmou Raoni, reforçando a necessidade de ação imediata.

Cacique Raoni durante cerimônia de abertura dos ‘Diálogos Amazônicos’ | Foto: Divulgação/Governo Federal

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Kleber Karipuna, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), enfatizou a urgência de acabar com o desmatamento, destacando a necessidade de uma ação unificada para evitar um ponto de não-retorno na regeneração florestal. Ele também criticou a polêmica tese do “marco temporal” que limita a demarcação das terras, defendendo a proteção dos povos indígenas e pedindo o fim da criminalização de suas comunidades.

Marina Silva: perspectivas e desafios

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede Sustentabilidade), compartilhou o palco com o senador Randolfe Rodrigues, demonstrando uma união simbólica entre aliados que recentemente passaram por divergências. Apesar disso, mesmo enfrentando desafios internos no governo, Marina expressou um otimismo cauteloso em seu discurso, mencionando uma virada positiva no país e incentivando a colaboração entre os movimentos e as autoridades para um desenvolvimento sustentável abrangente.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva | Foto: Audiovisual/PR

“A minha esperança é que a gente possa sair daqui com um mandato pra que os nossos países trabalhem conjuntamente para que possamos ter um modelo de desenvolvimento que propicie um desenvolvimento sustentável em todas as dimensões”, afirmou a ministra, em discurso ovacionado pelo público.

O governador Helder Barbalho (MDB) declarou que o evento e a Cúpula da Amazônia são “o pontapé inicial para que, em 2025, Belém seja a capital do mundo nas discussões das mudanças climáticas do planeta”. Programada para novembro de 2025, a Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas, a COP 30, será realizada também na capital paraense.  “A partir deste momento chamamos todos aqueles que debatem a Amazônia a ouvir as vozes do nosso povo”, afirmou.

Já o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, disse que não é mais aceitável o mundo falar da Amazônia sem a participação da população local. “Não somos uma região sem gente. São 30 milhões de seres humanos de centenas de etnias, com muitas vozes que se expressam em línguas diferentes, mais de 300 línguas. Os amazônidas amam a humanidade, querem um projeto para toda a humanidade, têm consciência de que a Amazônia é fundamental para isso, mas não aceitamos que a voz dos amazônidas não seja considerada quando se trata de pensar o futuro em nome da Amazônia”, afirmou.

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A ausência da ministra Sonia Guajajara, devido a questões pessoais, foi compensada pela participação de Joenia Wapichana, presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), destacando a relevância da representatividade indígena no evento.

Diálogos Amazônicos: rumo à Cúpula da Amazônia

O primeiro dia dos “Diálogos Amazônicos” reuniu representantes de diversos grupos sociais, incluindo indígenas, quilombolas, extrativistas e camponeses, visando elaborar propostas que serão apresentadas aos chefes de estado na Cúpula dos Países Amazônicos, agendada para os dias 8 e 9 de agosto.

A Cúpula da Amazônia, que espera atrair mais de 10 mil participantes, conta com a presença de chefes de estado e representantes de países amazônicos, bem como líderes de nações com florestas tropicais. O presidente Lula busca alianças para o compromisso ambicioso de alcançar desmatamento zero até 2030, e fortalecer a cooperação regional através da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).

Em meio a discursos, demandas e aspirações diversas, os “Diálogos Amazônicos” estabelecem um ambiente crucial para a troca de ideias e propostas em preparação para a Cúpula da Amazônia, projetando uma visão conjunta para a região e seu papel no futuro sustentável do planeta.

Programação

A programação completa está disponível no site da Secretaria-Geral da Presidência da República. Também é possível acompanhar a transmissão, ao vivo, pelo canal da Secretaria-Geral da Presidência da República no Youtube. 

Assista a íntegra da cerimônia de abertura dos Diálogos Amazônicos abaixo.

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Com agências

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