José Gregori, defensor dos Direitos Humanos, falece aos 92 anos

Ex-ministro da Justiça protagonizou a Carta aos Brasileiros, em 1977, contra a ditadura, e participou da reedição em 2022 contra os ataques à democracia

No último domingo, o Brasil perdeu uma de suas figuras mais emblemáticas na luta pela democracia e pelos direitos humanos com o falecimento de José Gregori, aos 92 anos. O ex-ministro da Justiça e ex-secretário nacional de Direitos Humanos do governo de Fernando Henrique Cardoso deixou um legado marcado por décadas de dedicação à causa da justiça e da liberdade.

Gregori estava internado no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, há mais de dois meses, lutando contra complicações decorrentes de uma pneumonia. Sua morte foi sentida profundamente em todo o país, e personalidades de diferentes esferas expressaram suas homenagens e condolências à família.

Defensor incansável

José Gregori, advogado de formação, desempenhou um papel fundamental na luta contra a ditadura militar no Brasil (1964-1985). O advogado defendeu presos durante o regime militar e também integrou a Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, que nos anos 1970 foi uma referência para familiares de torturados e presos políticos.

Ele foi um dos corajosos signatários da “Carta aos Brasileiros” em 1977, um manifesto que defendia os direitos humanos, a justiça e a cidadania em tempos de repressão. Esse ato foi um marco na história do país e um grito de resistência contra o regime autoritário.

Em 2022, ele foi um dos ícones que reencontraram no movimento Estado de Direito Sempre, que buscava reeditar a carta de 1977 contra as ameaças à democracia. A carta foi reeditada devido aos ataques do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) às instituições democráticas.

Sua dedicação à causa dos direitos humanos continuou ao longo de sua vida pública. José Gregori foi ministro da Justiça no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, entre 2000 e 2001, e também assumiu a Secretaria Nacional de Direitos Humanos no mesmo período. Sua gestão foi marcada por esforços significativos na promoção e proteção dos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros.

Comissão Arns

Em 2019, José Gregori foi um dos fundadores da Comissão Arns, uma rede de juristas, intelectuais e ativistas dedicada à defesa dos direitos humanos. Essa organização se destacou por atuar de forma apartidária, concentrando-se unicamente na proteção dos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros.

A criação da Comissão Arns ocorreu em um contexto de preocupação crescente com os retrocessos nas políticas de direitos humanos no Brasil com a eleição de Bolsonaro. Gregori viu a necessidade de reunir forças para combater as ameaças aos direitos fundamentais em um momento em que, segundo suas palavras, “os direitos humanos foram agredidos, distorcidos e atacados na campanha eleitoral” após a eleição de Jair Bolsonaro.

Homenagens

A notícia da morte de José Gregori gerou uma chuva de homenagens de personalidades de diferentes matizes ideológicos e partidos políticos. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a longa trajetória de Gregori na defesa dos direitos humanos e da democracia, lembrando sua atuação nos momentos mais desafiadores para a democracia brasileira.

“Sempre foi um grande defensor dos direitos humanos e do Estado Democrático de Direito no Brasil, principalmente nos momentos mais desafiadores para nossa democracia”, disse Lula. Já o Ministro dos Direitos Humanos do seu governo, Silvio Almeida, afirmou em rede social que o legado de Gregori “jamais será esquecido.”

A Fundação FHC expressou seu pesar e reconhecimento pelo trabalho de Gregori ao longo de mais de 60 anos de vida pública. O PSDB, partido ao qual Gregori era filiado, prestou suas condolências e reconheceu sua contribuição para a democracia e os direitos humanos.

O vice-presidente Geraldo Alckmin relembrou o apoio de Gregori à chapa presidencial no ano passado. Ele lembrou da época em que foram colegas na Assembleia Legislativa de São Paulo, entre 1983 e 1987. “Gregori é símbolo da luta pela democracia, pela legalidade e pelos direitos humanos no Brasil, ajudou a fincar as bases dessa luta. Lula e eu tivemos a alegria e o prestígio do seu apoio durante a campanha. Que Deus conforte a família e os amigos”.

O cientista político Paulo Sérgio Pinheiro esteve com ele no hospital. “Com o desaparecimento do nosso Zé Gregori se fecha uma época marcada por seu ecumenismo político militante, raríssimo nos dias que correm.”

Legado

José Gregori deixa um legado que perdurará como inspiração para as gerações futuras. Sua dedicação à causa dos direitos humanos, sua coragem diante da adversidade e sua firmeza na defesa da democracia continuarão a inspirar aqueles que lutam por um Brasil mais justo e igualitário.

Ele será lembrado não apenas como um jurista e político notável, mas como um verdadeiro defensor da dignidade da pessoa humana e um herói na luta pela democracia. Seu compromisso com o Estado de Direito e a proteção dos direitos fundamentais permanecerá como um farol na busca por um país mais livre e democrático.

José Gregori deixa três filhas, quatro netos e duas bisnetas. Seu velório ocorrerá na Funeral Home, na região da Avenida Paulista, nesta segunda-feira, das 8h às 14h. O sepultamento será no Cemitério da Consolação.

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