Com greve, estudantes da USP mostram que reivindicações são justas

Segundo Adusp, quadro de docentes teve perda de mais de mil professores, redução de 17,56% desde 2014. Em três unidades a falta de professores supera os 30%

Foto: Adusp

A USP (Universidade de São Paulo) é considerada a melhor universidade a América Latina e Caribe pelo QS Latin America & The Caribbean, ranking divulgado na semana passada. Em junho, ficou entre as 100 melhores universidades do mundo, de acordo com QS World University. Apesar desse reconhecimento, a faculdade perde professores do seu quadro docente a cada ano, o que levou a um sucateamento que culminou na greve de estudantes iniciada na última quinta-feira (21).

O movimento que começou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) com paralisações, conta com o apoio dos professores da faculdade, já tem adesão de outras unidades e de servidores.

Os eixos de reivindicações são pela contratação de docentes e mudanças no Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (PAPFE), que visa mais concessão de bolsas e melhora no valor dos benefícios.

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Segundo a Adusp (Associação de Docentes da Universidade de São Paulo) o déficit de docentes chega a 1.042 em comparação com o ano de 2014 – redução de 17,56%, de 5.934, para 4.892. O ano é tido como referência, pois a partir dele foi iniciado o desmonte do quadro de professores denunciado pelo corpo discente, que relata cancelamento de disciplinas.

No período foram reitores da USP Marco Antonio Zago e Vahan Agopyan, conhecidos pela austeridade em que afundaram a universidade e por uma política de “contratação zero”, segundo a associação.

A FFLCH percentualmente não é a faculdade com a maior perda de docentes, porém é a que mais perdeu professores em números absolutos, uma vez que é a maior unidade da USP. Em 2014, a Adusp aponta que eram 474 docentes e hoje são 381, uma queda de 93 profissionais, redução de 19,62% do quadro que faz com que diversas disciplinas deixem de ser oferecidas e os professores efetivos fiquem sobrecarregados, prejudicando o ensino dos alunos e a saúde dos docentes.

Assembleia FFLCH. Foto: Adusp

Levantamento da Adusp mostra a situação crítica de outras unidades:

  • Escola de Enfermagem (EE) redução de 46,99% no quadro de docentes;
  • Faculdade de Saúde Pública (FSP) redução de 31,87%;
  • Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) redução de 30,43%;
  • Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) redução de 27,46%;
  • Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) redução de 25%;
  • Escola de Comunicações e Artes (ECA) redução de 23,88%;
  • Faculdade de Educação (FE) redução de 23,58%;
  • Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) redução de 21,37%;
  • Instituto de Psicologia (IP) redução de 20,69%.

Confira aqui tabela com informações sobre todas as unidades.

Negociação

Representantes do DCE-Livre “Alexandre Vannucchi Leme” e de centros acadêmicos foram recebidos pelo reitor Carlos Gilberto Carlotti Jr e diretores da USP.

Os estudantes levaram a pauta de reivindicações para a reunião. O fato de serem atendidos prontamente mostra que os responsáveis pela Universidade sabem que as cobranças são legítimas. Ficou acertado novo encontro para a próxima semana.

A Adusp vai realizar uma assembleia geral na próxima terça-feira, às 16h, no auditório Nicolau Sevcenko (FFLCH). O Sindicato dos Trabalhadores (Sintusp), que vem realizando manifestações em apoio à greve, tem marcada assembleia geral na quarta-feira (27/9), com pauta de indicativo de greve e discussão do Acordo Coletivo de Trabalho.

Em nota, a reitoria afirmou que “respeita a autonomia do movimento estudantil e acolhe o diálogo com serenidade e respeito”. Além disso, apontou que visa preencher 641 vagas, sendo que 238 já foram preenchidas, em esforço para alcançar o mesmo número de professores e professoras de 2014.

*Com informações Adusp