Greve histórica nos EUA paralisa fábricas da GM, Ford e Stellantis

Sindicato não aceita a proposta por novo contrato e cobra 40% de reajuste salarial; as três companhias tiveram lucro de US$ 250 bilhões nos últimos 10 anos nos EUA

Dia 1 de greve na Stellantis em Toledo, Ohio, EUA. Foto: UAW

Sem negociação com a General Motors, Ford e Stellantis nos Estados Unidos, o contrato coletivo com os trabalhadores venceu e o sindicato United Auto Workers (UAW) deflagrou greve nas fábricas das montadoras a partir dessa sexta-feira (15). É a primeira vez que acontece uma greve simultânea nas Três Gigantes de Detroit”, como são conhecidas as companhias.

O sindicato que representa cerca de 146 mil trabalhadores automotivos não tem se vergado à proposta dos patrões e parou diversas unidades fabris, com a realização de piquetes e manifestações. Ao longo das últimas semanas paralisações pontuais já ocorriam.

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O presidente do UAW, Shawn Fain, não pretende negociar com as empresas nesta sexta, frustrando a expectativa dos fabricantes por uma resolução rápida. A expectativa é que mais trabalhadores se juntem à causa ao longo dos dias, em claro recado de que não aceitarão qualquer proposta quando voltarem a negociar.

Reivindicações

Entre as principais reinvindicações dos trabalhadores automotivos dos Estados Unidos reunidos na UAW, estão:

  • aumento na base salarial em 40% (feita de forma escalonada);
  • redução na jornada de trabalho (32 horas) sem decréscimo do salário;
  • retorno de planos de saúde e pagamento de pensões, além de outros benefícios;
  • reajuste de salários de forma que acompanhem a inflação;
  • limitação de horas extras e de contratações temporárias;
  • transição para indústria de carros elétricos que inclua os trabalhadores, entre outras.

Informações dão conta que Ford e depois a GM já ofereceram um aumento de 20% pelo período no novo contrato, já a Stellantis, que produz automóveis com Jeep, Ram, Chrysler e Dodge, ofereceu 17,5%.

Greve

A greve não acontece por acaso. Os salários e benefícios dos trabalhadores da indústria automotiva nunca estiveram tão defasados desde que renunciaram a inúmeros direitos quando as empresas automotivas enfrentaram uma grande recessão em 2007. Desde então, os novos trabalhadores tiveram perdas nos planos de pensão e de saúde, por exemplo, situação que o sindicato agora cobra um retorno nos moldes antigos, com a inclusão, inclusive, dos trabalhadores horistas.

E as reivindicações não são à toa. O sindicato aponta que as montadoras obtiveram um lucro de US$ 250 bilhões nos últimos 10 anos nos Estados Unidos, sendo US$21 bilhões somente no primeiro semestre do atual ano.

Medo dos patrões

Estimativa divulgada pela CNN, com dados da Anderson Economic Group, aponta que uma greve de 10 dias pode custar US$ 5 bilhões para as empresas.

Da mesma forma a Reuters, com dados do Deutsche Bank, fala em US$ 400 milhões a US$ 500 milhões em perdas nos lucros para cada montadora por cada semana de greve.

Mesmo com este cenário os executivos não têm melhorados as condições já oferecidas e dizem que acatar o que o UAW pede faria com que perdessem mercado para companhias não sindicalizadas, como Tesla, Toyota e Honda.

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O CEO da Ford, Jim Farley, falou que 40% de reajuste afetaria a colocação da empresa no mercado e que precisariam fazer cortes, atribuindo uma reversão do lucro de US$ 30 bilhões, entre 2019 e 2022, para um prejuízo de US$ 15 bilhões, como exemplo caso a medida fosse implantada antes. O executivo da GM, Gerald Johnson, chegou a falar em vídeo, de forma genérica, que a proposta do sindicato representaria um custo de US$ 100 bilhões.

*Informações Reuters e CNN