General Heleno se contradiz e é desmascarado por deputadas em CPMI

Em depoimento na CPM militar mente e tenta desqualificar delação premiada de Mauro Cid, mas é colocado contra a parede por Eliziane Gama e Jandira Feghali

Foto Lula Marques/ Agência Brasil

O general Augusto Heleno classificou como “ordeiro e pacífico” o acampamento bolsonarista em frente ao Comando Geral do Exército, em Brasília. A afirmação foi dada durante o depoimento do militar na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas do 8 de janeiro.

“Eu nunca fui ao acampamento. Não por falta de tempo, mas por falta de condições de participar do que realizavam no acampamento que, pelo que sabia, eram atividades extremamente pacíficas e ordeiras. E nunca considerei o acampamento algo que interessasse à segurança institucional. Sempre achei que era uma manifestação política pacífica”, disse o general.

Heleno foi convocado na condição de testemunha após uma série de requerimentos identificar várias visitas ao gabinete do GSI, entre os dias 1º de novembro a 31 dezembro de 2022, de pessoas envolvidas nos atos, incluindo “um dos golpistas presos em flagrante após a invasão às sedes dos Três Poderes”.

O militar foi ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Bolsonaro e teria recebido os golpistas já após as eleições presidenciais de 2022.

Diante da afirmação de Augusto Heleno, a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), lembrou que “foi do acampamento que surgiu a ideia de montar uma bomba para explodir um caminhão de combustíveis no aeroporto de Brasília. Foi de lá que os vândalos saíram para quebrar a Praça dos Três poderes”.

Heleno confirmou que recebeu algumas das pessoas que estavam no acampamento bolsonarista, mas que não foi algo para articular qualquer ato golpista. “Recebi por educação, eles foram lá apenas para tirar fotos e fazer vídeos”, disse o general.

Heleno diz ser “fantasia” a delação de Cid

O militar diz considerar como “fantasia” a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.

Cid relatou à Polícia Federal detalhes de uma reunião do então presidente Bolsonaro com a cúpula das Forças Armadas para discutir a possibilidade de um golpe de Estado com o objetivo de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Não existe um ajudante de ordens sentar numa reunião com comandantes das Forças. Isso é fantasia”, disse Heleno.

Heleno se valeu do direito ao silêncio quando perguntado pelo deputado Rubens Junior (PT-MA) se havia participado do encontro com os comandantes das Três Forças em que teria sido discutido o golpe de Estado.

Rolex

O general Heleno afirmou que devolveu um relógio da marca Rolex ao Tribunal de Contas da União (TCU).

Em março, o TCU notificou a Secretaria-Geral e a Comissão de Ética da Presidência da República sobre relógios de luxo recebidos pela comitiva que acompanhou o ex-presidente Bolsonaro ao Catar, em 2019. Entre os integrantes da comitiva, estava Heleno.

“O relógio estava comigo, tinha outros que receberam relógio, o Comitê de Ética da Presidência da República foi consultado sobre o que fazer com o relógio (…), e o que veio como decisão do Comitê de Ética da Presidência foi que era um presente personalíssimo, e que nós podíamos ficar com o relógio”, disse o ex-ministro.

A afirmação foi feita em resposta ao questionamento da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Feghali também chamou atenção para o discurso e o comportamento golpistas do então ministro do GSI.

“Ele diz o tempo todo que no GSI tinha muitas tarefas e que não tinha tempo para correr atrás de assunto. Que não fazia política. Só que 10 dias antes do primeiro turno ele publica um artigo no Correio Braziliense detonando e desqualificando o presidente Lula e a ex-presidente Dilma”, afirmou a deputada.

“Pediu que todos bloqueassem, que era o tempo de bloquear as mudanças. Tempo de bloquear a possibilidade dos petistas assumirem o governo. Ao mesmo tempo, entre 1º de novembro e 31 de dezembro é quando ele recebe os blogueiros e as figuras que participavam do acampamento e, hoje, muitas delas estão presas”, concluiu.

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