“Vamos acabar com a fome”, diz Lula no ato pelos 20 anos do Bolsa Família

No ano passado, o Brasil voltou ao mapa da fome, quando relatório da FAO apontou que 21,1 milhões de pessoas no país passaram por insegurança alimentar grave

Lula e Janja participaram da solenidade remotamente (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Ao acompanhar remotamente a solenidade de comemoração dos 20 anos do Bolsa Família, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira (20) que até 31 de dezembro de 2026 o seu governo vai acabar com a fome no Brasil.

“Nós vamos fazer as pessoas comerem três vezes ao dia”, disse Lula, referindo-se a política pública que liderou a retirada do Brasil do mapa da fome.

Em 2014, quando o Bolsa Família atendia mais de 14 milhões de famílias com investimento que ultrapassava R$ 2 bilhões, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) anunciou a saída do país do mapa da fome.

Com o golpe no governo de Dilma Rousseff, o programa foi gradualmente desestruturado até ser substituído por Bolsonaro.

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Em 2022, o Brasil voltou ao mapa da fome. De acordo com relatório da FAO, 70,3 milhões de pessoas estiveram em estado de insegurança alimentar moderada no ano passado.

O levantamento também apontou que 21,1 milhões de pessoas no país passaram por insegurança alimentar grave.

No dia 2 de março, Lula assinou medida provisória recriando o programa. Numa articulação política, garantiu R$ 600 por família no Orçamento de 2023 antes mesmo da sua posse.

O orçamento enviado por Bolsonaro definia um valor mínimo de apenas R$ 400 para o Bolsa Família.

“Acabar com a fome não é favor do nosso governo, é obrigação”, disse Lula, para quem cuidar dos mais pobres representa um custo barato no Orçamento.

“A gente não tem que falar em gasto quando se trata de combater a fome, melhorar a educação e a saúde, investir no trabalho daqueles que cuidam do nosso país, do nosso povo e das nossas crianças”, disse o presidente ao lado da primeira-dama Janja Lula da Silva.

O presidente disse que muito dinheiro na mão de poucos significa fome e mortalidade infantil. “Pouco dinheiro na mão de muitos significa a possibilidade de crianças na escola, famílias fazendo três refeições ao dia. Significa distribuição de renda. Não tem nada mais importante, na nossa passagem na terra, que um homem e uma mulher poderem viver dignamente”, defendeu.

No final, Lula surpreendeu o público ao se levantar da poltrona.

“Queria dizer uma coisa: semana que vem já tô voltando pro Palácio do Planalto. Já tô conseguindo ficar em pé, o Mano Menezes já me chamou pra jogar no Corinthias, o Diniz tá pensando em me chamar pra Seleção, já tô pronto pra voltar ao combate”, disse ele sob aplausos.

O presidente se recupera de uma cirurgia para colocação de prótese no quadril.

Pesquisas

“Pode confiar, presidente. Nós vamos tirar, novamente, o Brasil do Mapa da Fome”, afirmou o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, durante a solenidade.

O ministro destacou pesquisa do Banco Mundial segunda a qual 64% dos filhos das famílias atendidas pelo programa, frutos da primeira geração, saíram da pobreza e muitos foram para a classe média.

Dias também destacou estudo realizado por pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

O levantamento apontou que o benefício adicional de R$ 150 às famílias que possuem crianças de zero a seis atingiu, em outubro, 9,5 milhões de crianças beneficiadas. Ou seja, os R$ 150 mensais reduziram a intensidade da pobreza.

“Antes do novo benefício, 64% das famílias com crianças de zero a seis anos estavam protegidas da pobreza. A partir de março, o número foi subindo até atingir, em agosto, 84% das famílias com crianças na primeira infância”, explicou Daniel da Mata, pesquisador da FGV.

“O pagamento de outubro do Bolsa Família está na conta e esse mês trouxe mais uma novidade boa: agora, mães com recém-nascidos de até seis meses recebem R$ 50 além dos R$ 150 do Benefício Primeira Infância. Com isso, famílias com nutrizes têm mais segurança para cuidar dos pequenos”, disse o ministro.

Ele ainda explicou sobre a nova regra de proteção. Mesmo conseguindo um emprego e melhorando a renda, a família permaneça no programa por até dois anos, desde que cada integrante receba o equivalente a até meio salário mínimo R$ 660.

O objetivo é assegurar maior estabilidade financeira e estimular o emprego e o empreendedorismo. Se a família perder a renda depois dos dois anos ou tiver pedido para sair do programa, ela tem direito ao retorno, e o benefício volta a ser pago.

Ex-beneficiária

Na solenidade, a ex-beneficiária do programa no Espírito Santos Raquel Mira Clemente (foto) contou que estava sem renda e o marido desempregado quando fez o cadastro do programa para que os filhos pudessem estudar.

“Eu plantei uma semente quando fiz isso porque hoje eu tenho dois filhos engenheiros formados pela Ufes [Universidade Federal do Espírito Santo]”, comemorou.

“Com 10 anos precisei trabalhar para ajudar minha mãe. Parei de estudar no ensino médio, casei, e voltei em 2010. Quando estava no começo do terceiro ano, entrei em um curso do programa Universidade para Todos. Eram 200 pessoas participando para 50 vagas, aí fiz Enem, consegui pontuação e me formei em Psicologia na Ufes”, lembrou.

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