Bolsonaro usou Abin para fazer dossiês de políticos de PT e PCdoB

Polícia Federal passou a apurar esse caso no âmbito da Operação Última Milha, que é parte do inquérito das fake news

O governo Jair Bolsonaro (PL) usou a estrutura da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para fazer dossiês sobre adversários políticos. De acordo com dois agentes da Abin que fizeram a denúncia ao portal UOL, os principais alvos bolsonaristas eram lideranças do PT e do PCdoB.

A Polícia Federal passou a apurar esse caso no âmbito da Operação Última Milha, que é parte do inquérito das fake news. Uma investigação sobre o uso ilegal da plataforma de espionagem First Mile, da empresa Cognyte, já concluiu que a “Abin paralela” rastreou magistrados e jornalistas sem permissão da Justiça. O First Mile é um software intrusivo que invade a infraestrutura crítica de telefonia.

A suspeita da PF é que o First Mile não foi o único meio a que agentes recorreram, sob ordens, para produzir relatórios contra políticos. O UOL teve acesso a dois documentos irregulares, mas não cita os nomes de seus alvos. A Abin manteve o First Mile – e o usou sem aval da Justiça – até maio de 2021.

Agentes envolvidos na produção do material disseram que nenhum deles estava timbrado justamente para evitar investigações posteriores. Caso a manobra fosse descoberta, bolsonaristas poderiam alegar que os dossiês teriam sido elaborados “sem justificativa, com desvio de finalidade”.

Na ocasião, o bolsonarista Alexandre Ramagem era o diretor-geral da Abin. Hoje deputado federal, Ramagem é cotado para ser o candidato do PL à Prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições municipais de 2022.

Em outubro, quando o escândalo do First Mile veio à tona, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, criticou as ilegalidades da gestão Bolsonaro. “Interceptações telefônicas têm regras rigorosas: só podem ocorrer com autorização judicial e para investigação de crimes. Jamais para espionagem de políticos, magistrados ou jornalistas, como há indícios quanto ao passado”.

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