Israel intensifica massacre em Gaza contra escolas, hospitais e mesquitas

À medida que o ataque do exército israelense se intensifica, uma escola da ONU que abrigava mulheres e crianças deslocadas é bombardeada, deixando 15 mortos

Um dia depois de Israel ter atingido um comboio de ambulâncias que transportavam pacientes gravemente feridos do Hospital al-Shifa para a passagem fronteiriça de Rafah, o exército intensificou o seu bombardeamento à Faixa de Gaza, atingindo escolas, mesquitas e mais hospitais. Se havia algum escrúpulo em tentar justificar um ataque a hospital no dia 17, para não incorrer em crime de guerra, Benjamin Netanyahu dobrou a aposta e mostrou como podem ocorrer os “direitos de defesa” daqui pra frente.

Já se sabe que as chances de condenação a Netanyahu, seus ministros e generais são distantes, comparadas ao que foi feito com Vladimir Putin, por muito menos. No mesmo dia em que o ministro da Justiça palestino, Mohammed al-Shalaldeh, falou que irá apresentar a denúncia ao Tribunal Penal Internacional (TPI), a Corte Internacional de Justiça afirmou que irá realizar audiências públicas sobre as “consequências legais” das práticas de Israel nos territórios palestinos, porém somente no início do próximo ano, a partir de 19 de fevereiro de 2024. Aparentemente, a aposta do TPI é que não exista mais autoridade palestina até lá e a burocracia possa ser engavetada.

Pelo menos 9.500 palestinos foram mortos desde 7 de outubro, incluindo 3.900 crianças. São 24.158 feridos e os ataques aéreos israelenses também têm como alvo paramédicos e jornalistas. Pelo menos 46 jornalistas foram mortos, segundo o gabinete de comunicação social de Gaza.

Na manhã de sábado, um míssil aéreo israelense atingiu a escola al-Fakhoora administrada pela Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (UNRWA) no campo de refugiados de Jabalia, matando pelo menos 15 pessoas e ferindo 54, segundo o Ministério da Saúde palestino.

Milhares de pessoas deslocadas devido aos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza refugiaram-se na escola al-Fakhoora. O ataque à escola é o terceiro grande ataque ao campo de Jabalia.

Uma testemunha do ataque que perdeu familiares no atentado disse à Aljazira que quatro pessoas de sua família foram mortas ou feridas. “Não temos nada a ver com nada relacionado ao movimento Hamas. A sala só tinha crianças e mulheres”, acrescentou a testemunha.

O ataque ocorreu horas depois de um ataque mortal à escola Osama bin Zaid, que abrigava famílias deslocadas na área de al-Saftawi, ao norte da Cidade de Gaza, matando pelo menos 20 pessoas, segundo a mídia local.

Na manhã de sábado, a entrada do Hospital Infantil al-Nasser, no oeste da cidade de Gaza, também foi atacada e vários meios de comunicação locais relataram vítimas civis.

O porta-voz do Ministério da Saúde disse que cerca de 2.200 pessoas, incluindo 1.250 crianças, estão atualmente soterradas sob os escombros de edifícios destruídos em Gaza.

As forças israelenses também atacaram geradores de energia e painéis solares no Hospital al-Wafa, na cidade de Gaza, segundo a mídia local.

Um correspondente da agência Anadolu informou que o bombardeio resultou num incêndio significativo no pátio do hospital, que acabou por ser controlado pelas equipes de defesa civil após várias horas.

O ataque ao hospital ocorre um dia depois de o exército ter atacado a entrada do Hospital al-Shifa e as áreas circundantes ao Hospital al-Quds e ao Hospital Indonésio.

De acordo com o jornalista Hani Mahmoud, de Khan Younis, no sul de Gaza, os ataques aéreos israelenses também atingiram residências com painéis solares.

“Este parece ser o último prego no caixão”, disse ele à Aljazira. “O que o exército de Israel quer que as pessoas façam é que saiam. A última fonte que os mantém em Gaza foi a pequena quantidade de electricidade que obtiveram dos painéis solares”, disse ele.

Entretanto, um tanque de água no leste de Rafah também foi destruído. “Parece ser outra forma de dizer às pessoas: ‘Vamos bombardear tudo em que vocês dependem para a sua sobrevivência’”, acrescentou.

A TV Al-Aqsa, com sede em Gaza, informou que o tanque público de água foi usado para abastecer vários bairros.

Separadamente, um correspondente da Anadolu informou que o exército israelita bombardeou duas mesquitas – a mesquita Ali bin Abi Talib e a mesquita Al-Istijabah – no bairro de al-Sabra, também no sul de Gaza.

Os debates na própria mídia israelense apontam para uma fase dois de operações a partir da próxima semana, com operações táticas terrestres dentro de Gaza. Para isso, a intenção é que todos os civis partam para o sul, ao ficarem privados de meios de sobrevivência no norte.

A contradição disso são os inúmeros bombardeios relatos no sul, que deixam corpos de civis espalhados pelas estradas, tentando buscar segurança. A falta de um corredor humanitário faz com que as pessoas resistam a deixar o norte. Por outro lado, a tática também pressupõem um número de perdas civis consideráveis para convencer a evacuação.

As duas estradas principais de Gaza – A estrada Salah al-Din e a estrada costeira al-Rashid são as principais rotas norte-sul que correm ao longo de 41 km rumo a Rafah.

O exército israelense disse que os residentes do norte da Faixa de Gaza terão permissão para usar a rua Salah al-Din, a principal estrada de Gaza, para evacuar para o sul entre 11h GMT e 14h GMT de sábado.

Mas de acordo com os comentaristas, Israel tem um histórico de quebra de promessas em guerras.

“Quais são as garantias de que Israel ainda não bombardeará enquanto fugir para o sul? Não há fiadores internacionais como a ONU para monitorar e garantir que as pessoas não serão atacadas”, disse Tamer Qarmout, professor assistente de políticas públicas no Instituto de Pós-Graduação de Doha. “Digamos que a Cruz Vermelha receba este mandato. Então as pessoas estarão seguras e se sentirão seguras.”

As autoridades palestinas apontam os números do confronto em seu território:

  • 27 ambulâncias foram destruídas.
  • 105 instalações médicas sofreram danos como resultado de ataques aéreos ou bombardeios.
  • As forças israelenses também atacaram e destruíram três instalações universitárias palestinas.
  • Mais de 8.500 edifícios residenciais foram destruídos.
  • Cerca de 220 mil unidades residenciais foram completamente destruídas.
  • Outras 40 mil unidades residenciais estão parcialmente destruídas e inabitáveis.
  • 220 edifícios escolares foram atacados, 60 estão fora de serviço como resultado de “ataque direto”.
  • 88 edifícios governamentais foram completamente destruídos.
  • 55 mesquitas e três igrejas foram completamente destruídas.

Da Aljazira com agências de notícias

Autor