A questão Palestina: a história do genocídio em curso

O conflito israelo-palestino gera solidariedade global contra o genocídio, promovendo justiça e liberdade. Ativistas unem-se por um mundo mais justo.

Manifestantes seguraram bandeiras da Palestina e cartazes de apoio durante marcha | Foto: reprodução/Reuters

Em 7 de outubro de 2023, um conflito armado eclodiu entre Israel e grupos armados palestinos, incluindo a Frente Popular de Libertação da Palestina e o Movimento de Resistência Islâmica – Hamas, após este último lançar uma série de ataques coordenados da Faixa de Gaza em direção a áreas fronteiriças de Israel. As forças israelenses retaliaram com uma extensa campanha de bombardeio aéreo na Faixa de Gaza, seguida por uma invasão terrestre em larga escala. O conflito resultou em um trágico número de vítimas, com mais de 10 mil palestinos, incluindo mais de 5 mil crianças, que foram brutalmente assassinados pelas Forças Militares de Israel.

Compreende-se a natureza contínua do conflito israelo-palestino, que configura como um dos conflitos mais duradouros do Oriente Médio. Neste artigo, esforços serão empreendidos para discutir e compreender a história do Estado de Israel e suas tensões com o povo palestino, abordando um cenário mais amplo e histórico.

A história do conflito israelo-palestino tem suas raízes no final do século 19, quando os sionistas buscaram estabelecer uma pátria para o povo judeu na Palestina, que estava sob o domínio do Império Otomano. Essa região correspondia aproximadamente à Terra de Israel na cultura judaica.

Após o término da Primeira Guerra Mundial e o colapso do Império Otomano, em abril de 1920, o Conselho Supremo de Guerra concedeu ao Império Britânico o controle dos territórios da Palestina, um acordo formalizado no Tratado de Sèvres.

Durante o período do Mandato Britânico na Palestina, a imigração judaica para a região cresceu substancialmente, em grande parte devido ao aumento do antissemitismo na Europa. Entre as décadas de 1910 e 1920, aproximadamente 100 mil imigrantes chegaram à Palestina, motivados pelas manifestações antissemitas na Europa. Alguns desses imigrantes foram integrados às comunidades judaicas já estabelecidas em terras adquiridas legalmente, enquanto outros ocuparam terras pertencentes a terceiros. O fluxo de imigração judaica para a Palestina se intensificou notavelmente após a ascensão dos nazistas ao poder na Alemanha, resultando em um aumento significativo da população judaica na Palestina, que praticamente dobrou.

O nacionalismo palestino se caracterizou por ser uma reação ao movimento sionista e à colonização judaica na Palestina, ao mesmo tempo em que expressava o desejo de autodeterminação da população árabe na região. A população árabe na Palestina se opôs ao aumento da população judaica, uma vez que os novos imigrantes demonstraram relutância em se integrar socialmente com os árabes palestinos. Ao longo da década de 1920, as relações entre as comunidades judaica e árabe deterioraram-se, e a hostilidade dos judeus em relação aos árabes palestinos se acentuou.

Após o término da Segunda Guerra Mundial, grupos terroristas sionistas, como o Haganah, Irgun e Lehi, coordenaram ataques armados contra as forças militares britânicas e suas instalações em Jerusalém. Isso incluiu o famoso atentado ao Hotel King David, que chocou o público devido à morte de muitos civis inocentes. Neste período, a liderança judaica na Palestina concentrou seus esforços na imigração ilegal, organizando uma maciça entrada de judeus europeus na Palestina por meio de pequenas embarcações que operavam em sigilo. Entre 1946 e 1947, cerca de 70 mil judeus foram trazidos para a Palestina por meio desse método clandestino.

A recém-criada Organização das Nações Unidas, em 1947, convocou a Comissão Especial das Nações Unidas para a Palestina, com o objetivo de obter recomendações da Assembleia Geral sobre a questão do futuro governo da Palestina. O comitê foi composto por representantes de diversos países, incluindo Austrália, Canadá, Tchecoslováquia, Guatemala, Índia, Irã, Holanda, Peru, Suécia, Uruguai e Iugoslávia.

O Comitê propôs que a Palestina, após um período transitório de dois anos, fosse estabelecida como um Estado árabe independente, um Estado judeu independente e a Cidade de Jerusalém. Líderes árabes argumentaram que essa proposta violaria os direitos da maioria da população palestina na época, que era composta por 67% de árabes e 33% de judeus. Eles também alegaram que um grande número de árabes ficaria sob jurisdição do Estado judeu. No entanto, a maioria dos judeus na Palestina aceitou o plano, e a Agência Judaica, que efetivamente governava os judeus na Palestina, fez uma campanha incisiva para sua aprovação, o que acabou sendo bem-sucedida.

A aprovação do plano desencadeou atos de resistência por parte do povo palestino contra as políticas sionistas que estavam sendo implementadas para a população judaica na Palestina. Isso inevitavelmente levou ao início dos confrontos, que persistiram por um longo período. Tiroteios, tumultos e ataques com pedras ocorreram em rápida sucessão nos dias subsequentes à aprovação do plano. Bombas foram lançadas em cafés e coquetéis molotov foram usados em ataques contra lojas, resultando em um clima de tensão e violência constante na região.

À medida que a evacuação britânica da região avançava, a violência se tornava cada vez mais predominante. Assassinatos, retaliações e contra-retaliações ocorriam em rápida sucessão. Um evento particularmente trágico foi o massacre de Deir Yassin, que ocorreu em 9 de abril de 1948. Cerca de 120 terroristas dos grupos sionistas Irgun e Lehi atacaram a vila árabe palestina de Deir Yassin, localizada nas proximidades de Jerusalém, uma comunidade com cerca de 600 habitantes. O impasse sangrento persistiu, uma vez que nenhuma força da ONU interveio para pôr fim aos crescentes ciclos de violência. No final do conflito, quase 2 mil árabes palestinos perderam a vida.

Em 14 de maio de 1948, um dia antes do término do Mandato Britânico, o polanês David Ben-Gurion proclamou o estabelecimento do Estado de Israel na Palestina. Essa declaração foi fundamentada no direito natural e histórico reivindicado pelos judeus e baseada na resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas.

O fim do mandato britânico sobre a Palestina e a Declaração de Independência de Israel desencadearam uma guerra em grande escala que eclodiu após 14 de maio de 1948. Em 15 de maio, os exércitos da Jordânia, Síria, Egito, Iraque e Líbano intervieram na Palestina. A Liga Árabe justificou essa intervenção como uma tentativa de restaurar a lei e a ordem, além de evitar que os distúrbios que assolavam a Palestina se espalhassem para seus territórios e de conter derramamento adicional de sangue na região.

Durante esse período, grupos terroristas sionistas, incluindo Haganah, Irgun e Lehi, realizaram ataques em larga escala contra vilas habitadas por árabes palestinos, resultando no êxodo de uma grande parte da população árabe. As atrocidades cometidas por esses grupos terroristas tiveram um impacto psicológico significativo no êxodo palestino, contribuindo para a migração em massa da população árabe.

Mais de 700 mil árabes palestinos foram expulsos da região que se tornou Israel. Esses refugiados palestinos não foram autorizados a retornar a Israel, e a maioria dos estados árabes vizinhos, com exceção da Jordânia, negou-lhes a concessão de cidadania, assim como aos seus descendentes. Além disso, o Estado de Israel confiscou terras pertencentes a árabes palestinos que haviam sido expulsos e as distribuiu entre os imigrantes judeus que chegavam da Europa.

A guerra resultou em uma vitória israelense, com Israel anexando territórios além das fronteiras de partição designadas para um Estado judeu e árabe palestino. Os grupos terroristas sionistas Haganah, Irgun e Lehi foram oficialmente integrados às Forças Armadas de Israel. A Faixa de Gaza foi ocupada e administrada pelo Egito, enquanto a Cisjordânia ficou sob ocupação e administração da Jordânia.

Desde a década de 1950 até os dias atuais, o Estado de Israel tem perpetuado um genocídio contra o povo palestino, com a apropriação de suas terras e a morte de milhares de palestinos. O que observamos hoje é apenas a manifestação mais evidente de um conflito de longa data, no qual Israel busca a anexação de todo o território palestino, assim como a supressão de sua cultura e identidade, enquanto priva a Palestina de seus direitos humanos. Importante destacar que, mesmo em situações em que Israel sofreu perdas, a disparidade entre o número de mortes de palestinos e israelenses é enormemente significativa.

Movimentos em prol da Palestina e do direito à autodeterminação dos povos têm ganhado força em todo o mundo, inclusive em países norte global que têm sido historicamente envolvidos no conflito, como o Reino Unido, Espanha e Estados Unidos, assim como em várias nações latino-americanas, como o Brasil.

Para nós, é fundamental se envolver nas questões relacionadas à Palestina e participar ativamente de manifestações e ações que busquem pôr fim ao genocídio do povo palestino. Os ataques de Israel são um exemplo da natureza imperialista do capital estrangeiro.

A luta pela libertação da Palestina é também uma luta em prol da emancipação da classe trabalhadora em todo o mundo. Nós reconhecemos a unidade da classe trabalhadora global e nos solidarizamos na busca por justiça e liberdade para o povo palestino.

“Trabalhadores do mundo, uni-vos!” em prol da Palestina e de um mundo igualitário.

Referências Bibliográficas:

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“United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees in the Near East (UNRWA) (7 October 2023).” UNRWA Situation Report #1 on the Situation in the Gaza Strip” (Situation Report). United Nations.

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Kauê Bianco é diretor de Relações Internacionais da União da Juventude Socialista (UJS)

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