Tarcísio insiste em plano para vender Sabesp, dificultado por apagão

Trabalhadores lutam contra projeto do governador no dia 16. Governo promete emendas a deputados e oposição aponta contratação de consultoria sem licitação

Foto: Sabesp

A recente crise no sistema de energia na Grande São Paulo que afetou milhões de pessoas acendeu o alerta da sociedade sobre a privatização da Sabesp. Com a falta de resposta da Enel, a população teme que algo ainda pior possa acontecer com a água e o saneamento do Estado de São Paulo caso o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) consiga prosseguir com seu plano de ceder o controle acionário da Sabesp para a iniciativa privada.

Segundo o Uol, Tarcísio tem movimentado o que está ao seu alcance para atingir o objetivo de entregar o patrimônio paulista. Foram 21 reuniões entre agosto e outubro com deputados estaduais, mais do que o dobro dos meses anteriores de seu mandato. Além disso, foram 35 encontros com prefeitos neste período, contra 16 de janeiro a julho.

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O governador tem tentado desvincular a crise com a Enel de seus planos para Sabesp, mas ficou evidente que a situação é indissociável para todos: uma empresa privada detém a execução de serviços essenciais para a população e somente visa o lucro em detrimento da qualidade do trabalho prestado.

O governo paulista já está apelando para o famoso “toma lá da cá” para motivar a base de deputados estaduais. Segundo o Uol, em um encontro com 56 deputados no Palácio dos Bandeirantes no dia 17 de outubro foi feita a promessa de liberação de R$ 11 milhões em emendas.

Apesar disso, nada é garantido, uma vez que muitos deputados dentro da base de apoio do governo já se mostraram reticentes, ou já criticaram a proposta. Muitos temem se queimar com a população em seus redutos eleitorais na véspera das eleições municipais de 2024, ou seja, sabem que a “venda” da Sabesp é uma cilada.

Consultoria sem licitação

A contratação sem licitação da consultoria IFC (International Finance Corporation), ligada ao Banco Mundial, pelo governo de SP para analisar a viabilidade da privatização da Sabesp tem gerado enorme repercussão. A IFC, além de ser contratada com inexigibilidade de licitação, subcontratou outras empresas para realizar parte dos estudos.

A oposição aponta que esses dois erros são suficientes para cancelar o contrato e colocar o plano privatista sob suspeita.

Fora isso, é observada a influência do mercado financeiro no processo de privatização, aponta o deputado estadual Antonio Donato (PT) à Folha. De acordo com o parlamentar, os verdadeiros autores do estudo estão no mercado financeiro, na Faria Lima, e a IFC seria só uma fachada.

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Outro ponto muito polêmico, segundo o jornal, é que a IFC receberá R$45,6 milhões caso o seu laudo constate que a venda da Sabesp seja positiva para a população. Por outro lado, se o laudo constatar que a venda é negativa, a consultoria só receberá R$ 8,6 milhões – um verdadeiro escândalo com a contratação de um estudo totalmente enviesado, visando apenas um resultado que seja melhor para os envolvidos.

Mobilização contra a privatização

Enquanto o governador faz de tudo para vender o que funciona em São Paulo, o movimento sindical luta para impedir que tamanho retrocesso ocorra. Na próxima quinta-feira (16), o Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema) junto a movimento sociais sindicais e partidos progressistas, realiza um ato público em frente à Alesp (Assembleia Legislativa da São Paulo) contra à privatização da Sabesp. Programado para 12h30, a mobilização permanece até as 14 horas, quando ocorre uma audiência pública com representantes do governo do Estado de São Paulo sobre o projeto de privatização.

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“Nossa luta está crescendo e ela vai se transformar em uma grande mobilização neste dia para barramos a privatização da Sabesp na Alesp. Vai ser um dia de confrontar os argumentos do governador que não se sustentam. É preciso desmascarar esse projeto e mostrar que a Sabesp é uma empresa lucrativa e essencial para a qualidade de vida da população e garantia do direito à água e ao saneamento”, diz a direção do Sintaema.

Conforme o presidente do Sintaema, José Faggian: “A Sabesp é lucrativa, bem avaliada pela população e oferece serviços de excelência. Não há justificativa para privatizar essa empresa que anualmente devolve para os cofres do estado cerca de 450 milhões na forma de dividendos”, explica.