Denúncias sobre o projeto Salgema são ignoradas por quase 40 anos

Uma parte de Maceió já foi deslocada para outros lugares. Parte dos bairros de Bebedouro, Mutange, Bom Parto e Pinheiro desapareceram como áreas habitáveis.

Estas linhas foram escritas sob a tensão do anunciado “dolinamento” de uma das condenadas minas da Braskem, neste caso, a de número 18. Torço para que, quando estiverem sendo lidas nada tenha acontecido, nem venha a acontecer.

Mas, ocorrendo ou não o colapso da mina 18 – ou de qualquer outra – a tensão não se dissipará, A tragédia geral, em perspectiva, conforme prevista pela ciência, é bem maior que a ocorrência esperada para esses dias.

Longa é essa (terrível) expectativa, cujas primeiras hipóteses foram levantadas -e publicadas pela então Tribuna de Alagoas – em 1985, numa reportagem dos estudantes Érico Abreu e Mário Lima. Já se vão 38 anos.

Esta TIC TAC já lembrou isso, mas vale a pena ler de novo. Entre 1974 e 1985, o grande temor era a possibilidade de acidentes na fábrica do Pontal da Barra, por conta da letalidade de produtos ali processados, como cloro e soda cáustica.

Leia também: Braskem precisa responder pelo crime ambiental em Maceió

José Geraldo Marques, professor da UFAL e ecologista, foi o nome mais destacado entre as vozes pioneiras que ousaram denunciar os problemas potenciais do projeto Salgema desde os primeiros dias. Foi ignorado e isolado.

Por volta de 1974, e já se vão 49 anos, um dos diretores da então Salgema esnobou José Geraldo, afirmando ao ecologista que seria “mais fácil mudar Maceió para outro lugar que mudar a fábrica para outro canto”.

Pois é: uma parte de Maceió já foi deslocada para outros lugares. Mesmo que não sejam engolidos pelos dolinamentos, parte dos bairros de Bebedouro, Mutange, Bom Parto e Pinheiro desapareceram do mapa como áreas habitáveis.

Estas linhas estão sendo escritas na esperança que nenhuma área afunde. E, em surgindo dolinas, que sejam administráveis. Mas, o mais importante, o fundamental, neste período tenso, é que medidas enfim adequadas – na radicalidade exigida pelo desastre em curso – sejam implantadas para o enfrentamento deste grave problema social, econômico, ambiental, geológico, ético e político criado pelo empreendimento Salgema/Braskem.

E já se vai meio século nessa toada. Sempre piorando na confirmação dos velhos e novos alertas, perigando para que a dor crônica se banalize e não sejam cobradas à empresa (i)responsável todos os seus deveres frente à tamanha tragédia.

Autor