Raízes do mal, ou mal-gema, em Maceió

Passado de anseios econômicos, influências militares e resistência ao ambientalismo evidencia a necessidade de união para evitar crimes como o da Salgema/Braskem

Protesto ambientalista contra a duplicação da Salgema, em 1985. Concentração na Praça D. Pedro II | Foto: Josival Monteiro

Pelo menos três elementos devem ser considerados essenciais para o entendimento de como as coisas chegaram aonde chegaram em Maceió, com a comprovação do crime ambiental Salgema/Braskem.

1) SONHO ANTIUSINEIRO – O velho anseio alagoano por outra opção econômica que não a cana-de-açúcar é (ainda hoje) o motor que impulsiona as mais variadas experimentações. Não é à toa que as primeiras tentativas de encontrar petróleo no Brasil foram feitas em Alagoas, nos anos 30, mais precisamente na região de Riacho Doce (inspirando José Lins do Rego no romance homônimo). Perigosa era a aventura do sal-gema, mas foi apresentada, nos anos 70, como a redenção econômica contra a “terrível opressão dos usineiros”. A classe média embarcou com gosto rumo a um futuro dito promissor e emancipado das usinas.

2) MANU MILITARI – Os anos 70 marcaram com o fake “milagre econômico”, numa realidade corruptora que a censura à imprensa e a subjugação do judiciário garantia o silêncio absoluto. Nessa cena autoritária, a cloroquímica tinha papel estratégico, mirando o mercado bélico dos organoclorados (em uso pelos americanos na Guerra do Vietnã). Tão importante era essa questão, que o general Geisel, depois de deixar a presidência da República, virou o gestor da Norquisa, holding que controlava a então Salgema. Conforme pode ser lido no site Intercept, o SNI monitorou todas as manifestações contra o projeto Salgema, chegando a detalhar em seus informes de polícia política o desfile do bloco carnavalesco “Meninos da Albânia”, já em 1986.

3) PRECONCEITO CONTRA AMBIENTALISTAS – Mesmo em seus primeiros passos, os movimentos ambientalistas cumpriram seu papel em Maceió, denunciando o que estava em curso, e os famigerados relatórios – então secretos – do SNI comprovam isso. Sofria, o ativismo ecológico, duas pressões distintas: da ditadura militar brasileira e das classes médias alagoanas, estas considerando que “os barbudinhos viados do meio-ambiente” (como lembrou Géo Bentes) atrapalhavam o futuro radioso da indústria química local.

E AGORA? – Desses três fatores, deixou de existir apenas o regime ditatorial-militar. Apesar da unânime grita contra a Braskem, seguem vivos o anseio por novas alternativas econômicas (muito justo) e o preconceito contra ambientalistas (muito injusto). Descartar esse preconceito, unindo ambientalismo aos projetos econômicos inovadores é o caminho para eliminar crimes ambientais – que seguem sendo cometidos noutros campos, além da Braskem.

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