Milei é vaiado ao comparecer à eleição no Boca Juniors

Candidato apoiado pela dupla da extrema-direita Javier Milei e Macri foi derrotado pelo ídolo xeneize Juan Román Riquelme, que será presidente do clube até 2027.

Foto: Reprodução

O novo presidente da Argentina, Javier Milei, foi vaiado neste domingo (17) por torcedores do Boca Juniors em meio as eleições internas do clube. Foi o primeiro grande protesto contra o líder da extrema direita argentina desde a sua posse no último domingo (10).

Milei foi ao estádio La Bombonera onde o clube do bairro de La Boca realizou eleições para eleger o novo presidente. O anarcocapitalista declarou apoio ao candidato do ex-presidente do país e também do Boca Juniors, Maurício Macri, que foi candidato a vice na chapa derrotada de André Ibarra.

Sócio da agremiação, o presidente argentino chegou para a votação por volta das 10h da manhã e ouviu gritos como “ajustador”, “o clube é do sócio”, “quer roubar os aposentados” e “galinha”, apelido que os boquenses dão aos hinchas do River Plate, seu maior rival.

Milei assumiu o Executivo argentino prometendo aplicar um choque na economia do país, ou uma “motosserra” nos gastos públicos. O austericídio fiscal, no entanto, tem tudo para agravar a recessão e a relação dívida/PIB, em um país com mais de 40% da população abaixo da linha da pobreza.

Em eleições em vários aspectos contaminadas pela política nacional, o candidato apoiado pela dupla da extrema-direita Javier Milei e Maurício Macri (candidato a vice neste pleito), André Ibarra, foi derrotado pelo ídolo xeneize Juan Román Riquelme, que será presidente do clube até 2027.

Para se tornar o quinto ex-jogador a chegar na presidência do clube mais popular do país, Riquelme precisou driblar a metralhadora neoliberal de Milei e Macri. Afiados no discurso após as eleições no país, a campanha de Ibarra e Macri baseou-se no mantra de que “o populismo se instalou no clube” para tentar retomar o poder político em La Boca.

Foi por este suposto populismo que Milei já afirmou ter deixado de torcer para o Boca. Na final histórica da Copa Libertadores em 2018, entre o clube xeneize e o River Plate, o político declarou ter “virado a casaca”.

Segundo ele, o motivo para mudar sua torcida foi uma troca feita pelo técnico Guillermo Barros Schelotto, com a entrada do experiente meia Fernando Gago no segundo tempo.

“Estava torcendo pelo Boca. Na verdade, assistindo ao jogo. Mas quando entrou o Gago, que foi mais um ato de populismo, passei a torcer pelo River”, disse Milei, em entrevista ao “El País”. O River Plate foi o campeão do campeonato ao bater o Boca por 3 a 1 na final.

SAF e o protesto dos clubes contra Milei

O país campeão do mundo de futebol viu o esporte entrar em campo nas eleições presidenciais argentinas deste ano. Na semana derradeira do pleito que elegeu Javier Milei como novo presidente, uma entrevista de 2022 a um podcast local quase atrapalhou a candidatura da extrema-direita.

No vídeo, Milei defendia a transformação dos clubes em “sociedades anónimas deportivas” (SAD). Ou seja, o seguidor de Margaret Thatcher dizia que o ideal era que os clubes passassem o controle da gestão para uma empresa privada ao invés da comunidade local.

Boca Juniors, River Plate, Racing Club, Independiente e muitos outros usaram as redes sociais para protestar contra a ideia. Naquele momento, a onda de protestos contra a ideia foi grande o suficiente para abalar a campanha da Libertad Avanza, partido político da extrema-direita mileista.

Diferente do Brasil, onde os clubes são geridos por agremiações restritas e elitistas, com um número reduzido de sócios, as agremiações desportivas do país vizinho registram mais de 50 mil sócios desde a década de 1940.

Na eleição deste domingo, por exemplo, o comparecimento dos torcedores e sócios do Boca Juniors foi recorde, atingindo 43.367 votos. A título de comparação, o Corinthians realizou eleição para presidente em novembro e registrou 4.184 votos.

Por esse motivo que, ao chegar para votar neste domingo, alguns torcedores protestaram contra a privatização dos clubes. Aos gritos de “o clube é dos sócios”, os boquenses firmam posição, rejeitando a política neoliberal de Milei no Boca Juniors.

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