Mesmo sem Hamas, massacre israelense avança sobre palestinos da Cisjordânia

Relatório da ONU revela grave deterioração dos Direitos Humanos na área ocupada. Cerca de 300 palestinos foram assassinados entre 7 de outubro e 27 de dezembro na Cisjordânia.

Fogo e fumaça sobem durante uma operação do exército israelense em Jenin, Cisjordânia Arquivo: Majdi Mohammed

Hoje, um relatório da ONU expõe a rápida deterioração da situação dos direitos humanos na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental, após os eventos desencadeados em 7 de outubro de 2023. O documento faz um apelo urgente a Israel para que cesse os assassinatos ilegais e a violência perpetrada por colonos contra a população palestina.

O Gabinete dos Direitos Humanos da ONU verificou a morte de 300 palestinos entre 7 de outubro e 27 de dezembro de 2023, incluindo 79 crianças, na Cisjordânia ocupada, desde os ataques do grupo Hamas no sul de Israel. Desse total, as Forças de Segurança Israelenses foram responsáveis pela morte de pelo menos 291 palestinos, enquanto colonos mataram oito e um palestino foi morto pelas forças israelenses ou colonos.

Antes do fatídico 7 de outubro, 200 palestinos já haviam perdido a vida na região em 2023, marcando o número mais elevado em um período de dez meses desde 2005, quando a ONU começou a manter registros.

Além das mortes, quase 3.000 palestinos, incluindo 355 crianças, foram feridos em protestos, segundo informações do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA). O período também testemunhou a morte de três palestinos, incluindo um homem, um menino e uma menina, durante protestos pacíficos dispersados pelas Forças de Segurança Palestinas (PSF) na Cisjordânia.

A maioria das fatalidades ocorreu em confrontos entre palestinos e ISF, durante incursões e operações em cidades palestinas, incluindo demolições de residências em violação ao direito internacional, e em protestos. O relatório destaca o uso crescente e desproporcional de táticas militares e armas de guerra pela ISF em operações de aplicação da lei, com destaque para o uso de veículos aéreos não tripulados (UAV), ataques aéreos e mísseis terra-ar.

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, expressou profunda preocupação com as conclusões do relatório, enfatizando que a intensidade da violência e repressão não era vista há anos. Türk fez um apelo urgente a Israel para que tome medidas imediatas e eficazes, pondo fim à violência dos colonos contra os palestinos.

O relatório pede especificamente o término imediato do uso de armas e meios militares durante operações de aplicação da lei, o fim da detenção arbitrária e dos maus-tratos aos palestinos, bem como o levantamento das restrições discriminatórias aos movimentos.

O relatório destaca o aumento do uso de táticas e armas militares em contextos de aplicação da lei, bem como o uso de força desnecessária ou desproporcional para reprimir protestos palestinos. As arbitrariedades e detenções em massa, juntamente com relatos de tortura e maus-tratos, intensificaram a crise humanitária. O número de ataques de colonos aumentou exponencialmente, resultando no deslocamento adicional de comunidades palestinas, especialmente da Área C da Cisjordânia.

Violência documentada e desumanização

O relatório destaca o aumento significativo nos ataques aéreos, incursões de veículos blindados de transporte de pessoal e escavadoras em campos de refugiados e áreas densamente povoadas na Cisjordânia. Essas operações resultaram em mortes, feridos e danos extensivos a instalações civis.

As Forças de Segurança Israelenses detiveram mais de 4.700 palestinos, incluindo jornalistas, na Cisjordânia, onde foram relatados casos de desumanização, violência sexual e baseada em gênero. Além disso, houve um aumento acentuado nos ataques de colonos, uma média de seis incidentes por dia, incluindo tiroteios, incêndios criminosos e vandalismo.

O relatório enfatiza que as ações das ISF são apresentadas como preventivas, exacerbando as tensões. O uso de retaliação por parte das autoridades israelenses agrava a situação já volátil. Os palestinos vivem sob constante temor da utilização discriminatória da força estatal e da violência dos colonos.

O Alto Comissário instou Israel a permitir que o Gabinete dos Direitos Humanos da ONU acesse o país para investigar as violações. Türk reiterou os apelos à suspensão das medidas que criam um ambiente coercivo e às preocupações sobre transferências forçadas, além da falta de responsabilização pela violência dos colonos e forças de segurança israelenses.

O relatório menciona exemplos emblemáticos de violência, como o caso de 19 e 20 de outubro, quando uma operação militar de 30 horas em Nur Shams Refugee Camp, Tulkarem, resultou na morte de 14 palestinos, incluindo seis crianças. Além disso, destaca o incidente em Jenin, em 9 de novembro, no qual 17 palestinos, incluindo cinco crianças, foram mortos durante uma operação que envolveu snipers, bulldozers e ataques aéreos.

O relatório conclui alertando para a escalada da violência na região e pede medidas urgentes para conter a violação dos direitos humanos e do direito internacional. A comunidade internacional é instada a tomar ações imediatas para garantir a segurança e os direitos das comunidades afetadas na Cisjordânia ocupada.

Leia a íntegra do relatório.

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