ONU denuncia Israel por alvejar ajuda humanitária a Gaza

Além de toda a barbárie já registrada, a sexta-feira vem confirmando os profissionais, prédios e comboios envolvidos em ajuda humanitária como alvos preferenciais dos militares israelenses.

Caminhões que transportam ajuda humanitária esperam para cruzar para Gaza vindos do Egito através de Rafah. Foto da ONU/Eskinder Debebe

Nesta sexta-feira (29), a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) acusou o Exército de Israel de atirar contra um de seus comboios de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Embora relatos indiquem que o ataque não tenha causado vítimas, a UNRWA condenou veementemente a ação, destacando que os trabalhadores humanitários nunca deveriam ser alvos.

O diretor da UNRWA em Gaza, Thomas White, relatou que soldados israelenses abriram fogo contra um comboio de ajuda que retornava do norte de Gaza, seguindo uma rota designada pelo próprio exército israelense. Embora nenhum membro da equipe tenha ficado ferido, um veículo foi danificado no incidente.

A dificuldade persistente em levar ajuda humanitária a Gaza surge apesar de o Conselho de Segurança das Nações Unidas ter aprovado uma resolução na semana passada para aumentar a ajuda.

Martin Griffiths, subsecretário-geral da ONU para assuntos humanitários e coordenador de ajuda de emergência, expressou em uma publicação no X que a entrega de ajuda a Gaza é uma tarefa extremamente desafiadora. Ele destacou obstáculos como inspeções rigorosas, uma lista crescente de itens rejeitados e a dificuldade de locomoção dos comboios devido a bombardeios constantes. Griffiths enfatizou que trabalhadores humanitários estão sendo deslocados e mortos, tornando a situação impossível para o povo de Gaza e para aqueles que tentam ajudá-los.

Esses ataques a comboios humanitários ocorrem em meio a um cenário já devastador, no qual, mais cedo, um ataque israelense contra o campo de refugiados de Nuseirat resultou na morte de pelo menos 20 pessoas, conforme relatos da agência de notícias Wafa, citando fontes médicas.

A UNRWA emitiu um alerta crucial, indicando que a entrada de ajuda humanitária em Gaza estava abaixo do necessário. Com 40% da população local “em risco de fome”, a situação humanitária tornava-se cada vez mais precária, enquanto Israel dificultava o fluxo de assistência necessária para a população sitiada.

Enquanto isso, dezenas de milhares de pessoas deslocadas continuam a chegar a Rafah, no ponto mais meridional de Gaza, buscando abrigo em meio a uma cidade sobrecarregada. A ONU revelou que cerca de 100 mil pessoas viajaram para a área nos últimos dias, e mais de meio milhão de pessoas em Gaza enfrentam a ameaça iminente da fome. A escalada dos conflitos resultou em mais de 21 mil pessoas mortas em Gaza desde o início da guerra, com a população civil sendo duramente atingida pelos ataques israelenses.

Relatos como do jornalista Hossam Shabat, um dos poucos que ainda cobre a guerra em Gaza, sob ameaças constantes de Israel, diz que acordei ao som dos gemidos de frio e dor de um grupo de jovens que foram abandonados pela ocupação após a sua captura. “O exército israelense entrou na clínica Al-Satafawi, que alberga mil pessoas desalojados, prenderam todos os homens, obrigaram-nos a despir-se no meio do frio extremo e agrediram-nos com espancamentos e insultos. Isto durou 11 horas no frio, sem comida nem roupa. Um dos jovens confirma que foram submetidos às humilhações mais bárbaras, a mais simples das quais foi que um soldado urinou nele, negou-lhe água e impediu-o de pegar sua roupa após a libertação.”

Deslocamento de israelenses

A sexta-feira também está sendo marcada pelo relato de vítimas do lado opressor. À medida que a violência persiste, israelenses também sofrem as consequências, com famílias evacuando suas casas perto da fronteira com o Líbano devido a crescentes ataques do grupo militante Hezbollah. O diretor comercial da Abraham Hostels & Tours destacou a necessidade de um fim imediato ao sofrimento de ambos os lados, ressaltando que a dor não é a solução, mas parte do problema.

Diante da sanha genocida de Israel, até mesmo reféns do Hamas foram vítimas das arbitrariedades. Uma investigação sobre a morte de três reféns, mortos a tiros pelo exército israelense enquanto seguravam uma vara com um pano branco, concluiu que o incidente “poderia ter sido evitado”. As Forças de Defesa de Israel admitiram falhas na missão de resgate e expressaram pesar pelos resultados.

Nenhuma ação disciplinar seria tomada contra os soldados envolvidos. A investigação destacou que “não houve dolo no ocorrido”, mas as ações tomadas pelos soldados serão reavaliadas.

O alvo é a ajuda humanitária

Esta semana demonstrou como o alvo de Israel deixa de ser “apenas os palestinos”, para se voltar para quem tenta ajudá-los, mesmo com autorização diplomática da ONU, o que é considerado crime de guerra. Gaza testemunha uma série de eventos angustiantes como os hospitais, já sobrecarregados, também sofrendo bombardeios e tiros. Eles enfrentam escassez de suprimentos e capacidade limitada para atender aos feridos nos ataques israelenses.

O Ministério da Saúde de Gaza, em comunicado no Telegram, anunciou que 20 pacientes receberiam permissão para viajar ao Egito para tratamento de emergência, tentando aliviar a pressão sobre os hospitais locais. Entretanto, a manhã de sexta-feira foi marcada por um ataque israelense a um prédio residencial próximo ao hospital do Kuwait, em Rafah, resultando na morte de pelo menos 20 palestinos, a maioria mulheres e crianças, conforme testemunhas próximas à Al Jazeera.

Marwan al-Hams, diretor do Hospital Abu Youssef Al Najjar de Rafah, clamou por ajuda urgente, destacando a necessidade de retirar os feridos para tratamento no exterior. No norte de Gaza, um ataque aéreo militar israelense atingiu um grupo de civis em Beit Hanoon, resultando em mais vítimas.

A violência contra palestinos na Cisjordânia, onde o Hamas não tem controle, tem gerado reação internacional contra Israel. O vice-primeiro-ministro da Irlanda, Micheal Martin, pediu medidas mais duras contra colonos na Cisjordânia. Enquanto isso, a Relatora Especial da ONU para os direitos humanos, Francesca Albanese, revelou que 500 palestinos foram mortos por Israel em 2023 naquela área, destacando preocupações sobre a escalada da violência e a perda de vidas civis.

Uma delegação do Hamas planejava visitar o Cairo para discutir o plano de cessar-fogo do Egito, enquanto uma reunião do gabinete de guerra israelita foi cancelada devido a objeções de ministros da extrema-direita.

O número de corpos registrados chega a 21.313 com notificação de 58.721 feridos nos hospitais, desde 7 de outubro. Já são 8500 crianças mortas (e 4700 desaparecidas), 6.200 mulheres e 695 idosos. Além disso, do pessoal que atua na ajuda humanitária e deveria ser protegido em situação de guerra, as autoridades da ONU contabilizam como assassinados 310 profissionais de saúde mortos, 35 militares da Defesa Civil e Resgate, 103 jornalistas, 50 instalações da UNRWA destruídas e 1,3 milhão de palestinos registrados como deslocamentos forçados para as 151 instalações da UNRWA.

85% da população de Gaza foi deslocada várias vezes nos últimos três meses, fugindo com tudo o que podiam carregar. As instalações da ONU estão lotadas, várias vezes além da sua capacidade máxima. Os Médicos Sem Fronteiras [Médicos Sem Fronteiras, ou MSF] alertam que uma epidemia é inevitável e, com a maioria dos hospitais e clínicas fora de serviço, quando as pessoas adoecem não terão para onde ir.

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