Milei discursará em Davos em meio à desconfiança global

Discurso coincide com a confirmação da maior inflação mensal desde 1991 e com o aumento exponencial da tarifa no transporte público em Buenos Aires. Ajustes às custas dos trabalhadores deve impactar consumo

Foto: World Economic Forum / Benedikt von Loebell

O presidente da argentina Javier Milei é esperado, nesta quarta (17), para apresentar no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, seu plano ultraliberal de desregulamentação do Estado em meio às desconfianças da elite mundial quanto a radicalidades infantis, como privatizar o Banco Central e dolarizar a economia.

O discurso de Milei nos alpes coincide com duas marcas vexatórias na economia em menos de dois meses do novo governo: nesta semana, a inflação argentina para o mês de dezembro confirmou a maior alta mensal desde 1991, fechando em 25,5%.

Em novembro, último mês da gestão de Alberto Fernández, a inflação atingiu 12,8%. A disparada é consequência direta de uma série de medidas do governo de Javier Milei, que desregulou uma série de normas da economia que protegia o poder de compra da população.

Nesta segunda (15), passou a valer na região metropolitana de Buenos Aires as novas tarifas de ônibus e trens. Ambos tiveram aumento de 45%, após acordo entre o governo e as associações patronais concessionárias destes serviços .

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A região metropolitana da capital argentina é lar de cerca de 15 milhões de pessoas (cerca de 35% da população do país) que utilizam o transporte público para se locomover pelos bairros e regiões de Buenos Aires.

O ministério da Infraestrutura da Argentina anunciou que as tarifas de trens e ônibus serão reajustadas mensalmente de acordo com a inflação, diferente do que ocorria no governo do ex-presidente Alberto Fernández, que procurava estabelecer congelamentos de preços de alguns serviços essenciais para manter o poder de compra da população do país, especialmente das camadas mais pobres.

A comitiva argentina decolou de Buenos Aires na tarde desta segunda (15) e tem a sua primeira agenda, ainda nesta terça (16), em Davos, com a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva.

Na semana passada, o governo argentino ganhou um “voto de confiança” do FMI, após anunciar o drástico programa de austeridade logo após tomar posse. No último dia 10, Georgieva aprovou uma revisão do acordo vigente de US$ 44 bilhões do país, que poderá destravar um desembolso de US$ 4,7 bilhões.

Para isso, a Argentina deve atingir um superavit de 2% do PIB em 2024 e alcançar US$10 bilhões em reservas líquidas no final de 2024. O novo acordo ainda terá de ser aprovado pelo conselho do órgão para desbloquear o novo empréstimo bilionário.

As novas metas da Argentina acertadas com o FMI só serão possíveis com a imposição de um forte arrocho não só nos programas sociais do governo, mas também sobre os setores produtivos.

Para Fernando Morra, vice-ministro da Economia do governo de Alberto Fernández, para produzir o superávit primário o governo ultradireitista de Milei terá de buscar um ajuste de contas públicas muito forte sem se preocupar com o equilíbrio social.

“É uma tentativa de organizar as contas públicas e as contas externas sem levar em conta o impacto disso em termos sociais”, disse.

O diretor da Confederação Geral das Pequenas e Médias Empresas, Mauro González, destacou em um publicação no X, antigo Twiiter, que os ajustes às custas dos trabalhadores deve impactar no consumo e na produção nacional.

“Enquanto os ajustes do governo forem feitos às custas dos trabalhadores, dos pequenos empreendedores, as consequências para a produção nacional serão trágicas. O que se prevê com o fim dos programas de fomento é queda do consumo, crescimento do desemprego, salários achatados e nenhuma medida para reativar a economia. O superávit fiscal em troca do fechamento de PMEs é perigoso”, disse.

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O presidente da argentina deve discursar em Davos nesta quarta (17) na presença do fundador do Foro, Klaus Schwab.

De acordo com o Clarin, durante os 30 minutos de apresentação, Mieli deve dar ênfase aos “benefícios dos princípios libertários”, além de afirmar que a Argentina está decidida a se converter em sócio prioritário dos Estados democráticos e liberais, que buscam um acordo do Mercosul com a União Europeia.

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