Leila Pereira realiza entrevista coletiva só para repórteres mulheres

Na primeira entrevista do ano, presidente do Palmeiras critica falta de mulheres no futebol e rebate reclamações machistas: “não sejam histéricos”.

A presidente Leila Pereira, da SE Palmeiras, durante coletiva de imprensa, na Academia de Futebol Foto: Cesar Greco/Palmeiras

Única mulher presidente nas três principais divisões do Brasil, a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, concedeu, nesta terça (16), a primeira entrevista coletiva de 2024, exclusiva para jornalistas mulheres na Academia de Futebol do clube.

As jornalistas lotaram as cadeiras de imprensa e reportaram, em primeira mão, que o atual campeão brasileiro renovou com o técnico Abel Ferreira até 2025. A iniciativa causou críticas dos setoristas homens, habituados com a cadeira cativa nos centros de imprensa dos times.

“Ouvi perguntas de homens: ‘Por que, só mulheres?’. O que eu digo para eles: não sejam histéricos. Quero que eles sintam o que nós [mulheres] sentimos desde que nascemos”, explicou Leila ao justificar a exclusividade feminina no evento, citando seu próprio exemplo como única mulher presidente de um grande clube na América do Sul.

Emissoras e jornais não cumpriram a contento a convocatória: cinegrafistas e fotógrafos ainda eram maioria.

Apesar dos recentes avanços em relação à representatividade e busca por equiparação entre homens e mulheres no futebol, mulheres ainda são minoria não só na gestão, como também na cobertura esportiva.

“Queria que esse nosso encontro simbolizasse para os homens, que eles sintam em uma hora o que nós mulheres sentimos desde que nascemos. Que eles sintam, que a sociedade foque nisso, que nós mulheres não queremos nenhum privilégio, só queremos a oportunidade de mostrarmos que somos competentes, que queremos espaço nesse mundo do futebol que é tão masculino”, disse a dirigente do Verdão.

Leila Pereira ainda falou sobre ser a única presidente mulher em grandes clubes da América do Sul inteira.

“Me sinto solitária. Temos que dar um basta nisso. Não pode ser normal ter uma mulher só a frente de um grande clube na América do Sul. Por que isso acontece? Porque sofremos diversas restrições. Nós podemos estar onde quisermos”, falou em coletiva a presidente.

Inicialmente patrocinadora e conselheira, Leila se tornou em 2021 a primeira mulher presidente na história do Palmeiras, repetindo feitos de Marlene Matheus, no Corinthians (1991 a 1993), e Patrícia Amorim, no Flamengo (2010 a 2012), ao conduzir um grande do futebol brasileiro.

Antes de mudar o futebol brasileiro, contudo, a presidente tem desafios estruturais dentro do próprio clube que podem servir de exemplo.

Há 11 mulheres entre os 156 nomes listados como parte dos Departamentos Estatutários do Palmeiras. Elas estão no Social, em Cultura e Arte, na Sindicância e na Patinação. No Conselho de Orientação e Fiscalização, há uma entre 27: Sylvia Lucia Boggian.

No Conselho Deliberativo, por sua vez, tem 10 mulheres, contando com a própria Leila, entre 291 membros participantes. Algo que a presidente assume como problemático.

“Não vou solucionar o problema do machismo no Brasil e no mundo, muito menos no futebol, mas com a força do Palmeiras, podemos ser um exemplo”, disse.

Autor