Ramagem é alvo de operação da PF contra espionagem ilegal na Abin

Ex-chefe da agência no governo do ex-presidente Bolsonaro é suspeito de integrar organização criminosa que utilizava software espião israelense para monitorar autoridades

Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

A Polícia Federal deflagou, na manhã desta quinta (25), uma operação para investigar uma organização criminosa que monitorava ilegalmente autoridades públicas e outras pessoas sem a devida autorização judicial através da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

De acordo com as investigações, os suspeitos utilizavam o software espião FirstMile, desenvolvida pela empresa israelense Cognyte (ex-Verint), que permitia monitorar os passos de até 10 mil pessoas.

A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

O deputado federal de extrema-direita e pré-candidato à Prefeitura da capital fluminense é investigado por causa dos monitoramentos ilegais durante sua gestão, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ramagem também é suspeito de ter se corrompido para evitar a divulgação de informações sobre o uso irregular do software espião.

Há buscas sendo conduzidas no gabinete de Ramagem e no apartamento funcional da Câmara hoje ocupado por ele.

Os mandados são cumpridos em Brasília (DF), Juiz de Fora (MG), São João Del Rei (MG) e Rio de Janeiro (RJ).

Ao todo, sete policiais são alvos da ação, batizada de Vigilância Aproximada e que investiga, segundo a PF, uma “organização criminosa que se instalou na Abin com o intuito de monitorar ilegalmente autoridades públicas e outras pessoas, utilizando-se de ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis sem a devida autorização judicial.”

A operação é uma continuação da operação Última Milha, deflagrada em outubro de 2023.

O ex-diretor da Abin teria sido corrompido por dois oficiais da agência que ameaçaram divulgar o uso do software espião após a agência cogitar demiti-los em um processo administrativo interno por participação em uma fraude licitatória do Exército.

Segundo a PF, as provas coletadas na primeira fase da operação mostram que “o grupo criminoso criou uma estrutura paralela na Abin e utilizou ferramentas e serviços daquela agência de inteligência do Estado para ações ilícitas, produzindo informações para uso político e midiático, para a obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal”.

Documentos em posse da PF indicam que funcionários da Abin lotados no CIN (Centro de Inteligência Nacional) utilizaram o software espião FirstMile durante o governo Bolsonaro. O CIN tem origem em um decreto de Bolsonaro, assinado em julho de 2020, que criou novas estruturas dentro do organograma da Abin, à época chefiada por Ramagem.

Apelidada de Abin paralela, os cargos de chefia da então nova estrutura foram lotados por servidores da agência e policiais federais próximos à Ramagem e da família Bolsonaro.

A justificativa para criação do CIN foi planejar e executar “atividades de inteligência” destinadas “ao enfrentamento de ameaças à segurança e à estabilidade do Estado” e assessorar órgãos competentes sobre “atividades e políticas de segurança pública e à identificação de ameaças decorrentes de atividades criminosa”.

O centro foi desmontado pela reestruturação promovida pela atual direção da Abin, já no governo Lula (PT), após a operação da PF que mirou o software espião.

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