Barroso critica politização das Forças Armadas e manipulação em eleições

O presidente do STF lamentou o comportamento “decepcionante” dos militares, que, segundo ele, tentaram levantar suspeitas infundadas sobre o processo eleitoral.

Foto: STF

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, fez duras críticas à suposta manipulação das Forças Armadas para levantar suspeitas infundadas durante as eleições de 2022. Em declarações feitas a uma entrevista na Globonews, nesta quarta (21), Barroso expressou desapontamento com o comportamento dos militares, afirmando que foram “manipulados para levantar desconfianças”.

O ministro Barroso revelou que, durante sua presidência no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), montou uma Comissão de Transparência para garantir a lisura do processo eleitoral. Nessa comissão, foram convidados representantes de diversos setores da sociedade, incluindo as Forças Armadas. No entanto, Barroso lamentou o comportamento “decepcionante” dos militares, que, segundo ele, tentaram levantar suspeitas infundadas sobre o processo eleitoral.

“Eu montei uma Comissão de Transparência porque nós não tínhamos nada a esconder e chamei diversos segmentos representativos da sociedade. […] Chamei as Forças Armadas e, preciso dizer, lamentando muito, que tiveram um comportamento bastante decepcionante”, afirmou o magistrado.

Ao comentar sobre a participação dos militares na comissão de fiscalização das eleições, Barroso destacou que o comportamento dos oficiais foi inadequado, evidenciando que uma má liderança pode prejudicar gravemente uma instituição. Ele também criticou a politização indevida das Forças Armadas nos últimos anos, destacando que isso reavivou sentimentos golpistas que se pensava estarem enterrados na história brasileira.

“A pior coisa que existe para a democracia é general em palanque. Acho que houve uma politização indevida a ser lamentada, mas acho que as instituições prevaleceram, conseguimos recuperar a institucionalidade”, disse Barroso.

Barroso mencionou que, desde a Constituição de 1988, as Forças Armadas haviam tido um comportamento exemplar e recuperado seu prestígio, mas a politização nos últimos anos prejudicou essa imagem. Ele mencionou o inquérito da Polícia Federal sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado, afirmando que isso reavivou uma “assombração” que se pensava estar enterrada na história do Brasil.

“Infelizmente, se reavivou uma assombração que já achávamos enterrada na vida brasileira, que é a do golpismo”, disse “A verdade é que as Forças Armadas no período pós-1988 haviam tido um comportamento exemplar e recuperado o prestígio que eu acho que a instituição merece. São pessoas que vão para os lugares mais remotos do Brasil, não é uma vida fácil. Eu tenho apreço pela instituição”, completou.

O ministro do STF também reconheceu o histórico exemplar das Forças Armadas desde a Constituição de 1988 e expressou apreço pela instituição. Ele citou generais que, em sua opinião, contribuíram para evitar o avanço do sentimento golpista nas tropas, enfatizando que, apesar das lideranças que tentaram levar o país ao passado, as Forças Armadas não faltaram ao país.

Entre os citados, estão o general Fernando Azevêdo e Silva, ministro da Defesa nos primeiros dois anos do governo Bolsonaro; o general Marco Antônio Freire Gomes, que comandava o Exército na gestão Bolsonaro; e o atual comandante do Exército, Tomás Ribeiro Paiva. “No final do dia, as Forças Armadas não faltaram ao país, apesar de ter tido lideranças que procuraram levar para o passado. Para uma fase da história da humanidade que não mais tem lugar”, disse Barroso.

Barroso concluiu destacando os desafios e conquistas da democracia brasileira desde a promulgação da Constituição de 1988, enfatizando a estabilidade institucional, monetária e os avanços na inclusão social. No entanto, ele ressaltou que ainda há muito a ser feito para superar a pobreza e a desigualdade no país.

“A democracia tem muitas dificuldades, mas nesses 35 anos da Constituição de 1988 tivemos estabilidade institucional, estabilidade monetária e uma expressiva inclusão social. No Brasil, ainda há muita pobreza e muita desigualdade, mas nós superamos os índices de pobreza que eram previstos nos Objetivos do Milênio até 2000, e acho que vamos conseguir, se voltarmos a crescer, distribuir riquezas – que é o grande problema brasileiro”.

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