Incêndios florestais avançam sobre terras indígenas em Roraima

Com as condições climáticas desfavoráveis, a situação continua a se deteriorar, exigindo medidas emergenciais para proteger as comunidades indígenas e conter os danos ambientais.

Queimadas na Terra Indígena São Marcos, em Roraima (Fotos Brigadistas indígenas / CIR).

Os incêndios florestais que assolam Roraima desde o fim de semana passado estão se intensificando e alcançando terras indígenas do estado. Uma das comunidades afetadas é a do Bananal, localizada na Terra Indígena São Marcos. O tuxaua da comunidade, Tercio Sarlin da Silva, do povo Taurepang, relatou que o fogo se espalhou de forma assustadora devido aos ventos, resultando na destruição de metade de uma casa na aldeia.

“Felizmente, não houve feridos, mas famílias perderam suas plantações de banana, mandioca e outras culturas”, afirmou Silva à Amazônia Real nesta quinta-feira (22). A comunidade é composta por 405 pessoas das etnias Taurepang, Macuxi e Wapixana.

Imagens enviadas à reportagem mostram moradores lutando para evitar que o fogo alcance as barracas de madeira, gritando enquanto tentam salvar pelo menos seus documentos pessoais. O tuxaua não conseguiu determinar a origem do incêndio que atingiu a comunidade.

Desde o início de 2024, os focos de queimadas em Roraima têm atingido recordes históricos. Entre 1º e 23 de fevereiro, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 1.692 focos, um aumento de 449% em comparação com fevereiro de 2007, que detinha o recorde anterior. No total, desde o início do ano, foram detectados 2.295 focos de queimadas no estado, superando os números de 2016 para o mesmo período.

Roraima enfrenta os efeitos do fenômeno climático El Niño, resultando em chuvas abaixo da média e exacerbando os incêndios florestais. Ao contrário de outras regiões da Amazônia, a estação seca em Roraima ocorre de outubro a abril.

Em 2016, o estado também enfrentou um período de chuvas abaixo do normal, influenciado pelo ‘El Niño Godzilla’, mas os números de focos de queimadas naquele ano eram menores em comparação com os atuais.

O Conselho Indígena de Roraima (CIR) está monitorando os incêndios por meio de um aplicativo e mobilizou 56 brigadistas para atuar nas áreas indígenas. Jabson da Silva, coordenador da Brigada do CIR, atribuiu os incêndios aos produtores rurais e destacou que os indígenas possuem conhecimentos culturais para lidar com o fogo.

“A maioria das terras indígenas é cercada por grandes lavouras. As queimadas começam fora das comunidades, mas acabam se alastrando para dentro delas”, explicou Silva, do povo Macuxi.

Julimar Sena Ferreira, coordenador da Defesa Civil em Uiramutã, município com a maior população indígena per capita do país, relatou que a falta de chuvas tem agravado a situação, dificultando o combate ao fogo, especialmente em áreas de serra.

Além dos impactos nos territórios indígenas, a capital Boa Vista também tem sido afetada por incêndios em propriedades particulares, terrenos baldios e parques. O governo local emitiu uma portaria suspendendo o calendário de queima controlada e intensificou os esforços para combater os incêndios.

Enquanto isso, a população indígena sofre com a fumaça e a escassez de água, afetando sua saúde e subsistência. Telma Taurepang, líder da comunidade Mangueira (TI Araçá), em Amajari, destacou os impactos negativos das queimadas nas plantações de mandioca, uma fonte essencial de alimentação.

Com as condições climáticas desfavoráveis e a intensificação dos incêndios, a situação em Roraima continua a se deteriorar, exigindo medidas emergenciais para proteger as comunidades indígenas e conter os danos ambientais causados pelos incêndios florestais.

Com informações do Amazônia Real

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