Festival de Berlim se levanta contra o genocídio em Gaza

Artistas, jurados e trabalhadores do festival se manifestaram pelo cessar-fogo em Gaza. Movimento incomodou autoridades que insistem em ponderar ataques de Israel

Protesto trabalhadores Festival de Berlim. Foto: berlinale.workers.voice

O Festival de Cinema de Berlim (Berlinale), que ocorreu entre os dias 15 e 25 de fevereiro, foi marcado pela denúncia do genocídio em Gaza, na Palestina, promovida pela extrema-direita israelense.

De acordo com agência internacionais de notícias, os pedidos de cessar-fogo estiveram nas falas dos vencedores que subiram ao palco, assim como nas intervenções de jurados e artistas durante o festival.

O documentarista palestino Basel Adra, vencedor com outros diretores com “No Other Land”, que retrata a destruição de vilarejos de seu povo na Cisjordânia, pediu a interrupção do massacre e para que países como a Alemanha parem de vender armas para Israel.

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Já Ben Russell, vencedor da Mostra Encontros (Encounters) pelo documentário “Direct Action”, realizado com Guillaume Cailleau e que retrata a rotina de ativistas franceses, utilizou um keffiyeh (lenço que se tornou símbolo da luta dos palestinos) na premiação.

A extrema-direita também foi alvo de críticas durante o Berlinale. Antes convidados como todos os partidos eleitos, os membros do Alternativa para a Alemanha foram desconvidados da abertura do festival pela organização após pedido feito em carta assinada por centenas de profissionais do cinema.

O “desconvite” ocorreu depois de revelações que o partido tem trabalhado por soluções de deportação em massa de imigrantes, além de ter mantido contato com neonazistas.

Os trabalhadores do Festival de Berlim ainda publicaram carta aberta (acessada aqui), com link para assinatura e pelo Instagram, em que pedem pelo cessar-fogo e pelo fim do genocídio na Palestina, clamando por uma posição firme do Berlinale pela sua posição de relevância no panorama cultural.

“Nós nos unimos a um movimento global de solidariedade para exigir um cessar-fogo imediato e pedir a libertação de todos os reféns”, traz o documento.

Ainda durante o evento foram promovidos debates sobre o conflito no Médio Oriente, aos interessados, em uma instalação TinyHouse (casa minimalista).

Investigação

O posicionamento firme em Berlim contra os ataques de Israel tem repercutido.

De acordo com a agência AFP, autoridades alemãs querem investigar as falas proferidas no Festival por infundadas relações com “antissemitismo”. Ou seja, a denúncia de genocídio praticado pelo governo de extrema-direita israelense comandado pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, feita em Berlim gerou incômodo assim como as declarações certeiras feitas pelo presidente Lula.

Como traz a agência, a porta-voz do governo alemão, Christiane Hoffmann, e o chefe do governo, Olaf Scholz, consideram que a posição adotada pelo festival foi unilateral e não expôs os motivos que levaram o conflito (o ataque do Hamas em 7 de outubro).

A situação traz o alerta para os organizadores quanto a possíveis represálias, uma vez que o governo alemão é o principal financiador do evento. Para jornais locais, a direção do festival declarou que as opiniões dadas pelos artistas são pessoais e independentes.

Urso de Ouro

Na premiação principal do evento, a diretora franco-senegalesa Mati Diop venceu o “Urso de Ouro” pelo documentário “Dahomey”, que retrata a devolução para Benin de 26 obras saqueadas pelos franceses na época colonial.

Outro destaque fica para a brasileira Juliana Rojas, que venceu o prêmio de melhor direção na mostra Encontros (Encounters) com o filme “Cidade; Campo”, em que são contadas histórias sobre migração rural e urbana.