LaLiga falha e Vini Jr volta a ser vítima de racismo em Valência

Atacante brasileiro marcou dois gols e enfrentou setor dos ultras Yomus, espécie de torcida com tendências neonazistas

Foto: Reprodução

Nove meses após o episódio racista contra o brasileiro Vinícius Junior, em Valência, a LaLiga assistiu inerte, neste sábado (2), a torcida da cidade voltar a insultar o atacante, durante partida disputada contra o Real Madrid, válida pela 27ª rodada do torneio nacional.

Uma brasileira na arquibancada do estádio Mestalla flagrou, em vídeo, o momento em que torcedores da equipe de casa, entre eles uma criança, entoaram gritos de “mono” (macaco, em espanhol) em direção a Vinicius.

Outros casos de racismo voltaram a ocorrer no futebol espanhol desde que a entidade anunciou, em agosto de 2023, um “rebranding” para limpar sua imagem diante da enxurrada de denúncias.

O jogador, porém, não se intimidou e marcou os dois gols que empataram a partida depois que os valencianos abriram dois a zero, logo no primeiro tempo. Nas comemorações de cada um dos gols, o jogador brasileiro levantou o punho direito e colocou as mãos nos ouvidos encarando as arquibancadas. Em uma delas, enfrentou os ultras Yomus, espécie de torcida organizada do Valência com tendências neonazistas.

O setor foi um dos que insuflaram todo o estádio a cometer insultos racistas contra o brasileiro, em maio de 2023. Na ocasião, o atacante merengue ainda foi expulso.

Após a grande repercussão causada pela partida, a LaLiga anunciou uma nova identidade visual, sob o lema “a força do nosso futebol”, onde afirmou “o compromisso da competição em ter um impacto positivo na sociedade”.

A ação marqueteira foi parte de uma estratégia de “rebranding” da LaLiga. O termo, segundo os manuais da Faria Lima, é a tradução para um “reposicionamento de marca”, onde as empresas iniciam um processo de ajustes publicitários para se reapresentarem ao público.

Junto com objetivo propagandístico, o presidente da entidade, o espanhol Javier Tebas, anunciou, em agosto de 2023, uma série de medidas para combater o racismo no futebol espanhol.

A principal ação foi a criação de uma nova plataforma, chamada LaLiga vs Racismo, um site onde são anunciadas medidas educativas e preventivas contra comportamentos violentos ou discriminatórios.

Apesar do (pouco) esforço, a entidade que organiza o esporte na Espanha não obteve resultados significativos para que os episódios diminuíssem. Neste sábado, durante o reencontro do Valência com o Real Madrid no Mestalla, uma torcedora brasileira flagrou o momento em que uma criança chama o camisa 7 do Real de “mono”, macaco em espanhol, na arquibancada do estádio.

A mãe da criança agrediu a dona do celular para tentar impedir a filmagem e. de acordo com a autora do vídeo, Anna Anjos, que mora em Barcelona e viajou à Valência para assistir à partida, ela alertou a criança e a mãe de que o que eles estavam fazendo era racismo. Em entrevista à ESPN, que conseguiu o vídeo com exclusividade, Anna contou que eles alegaram que os gritos não eram racistas.

Clima de hostilidade mobiliza segurança, mas não evita racismo

No esperado retorno ao Mestalla, a Polícia Nacional preparou um forte esquema de segurança para a realização do jogo, e, por causa do clima de hostilidade, chegou a alterar o portão de entrada da equipe do Real Madrid para evitar confrontos com a torcida local.

A Comissão contra a Violência, o Racismo, a Xenofobia e a Intolerância no Esporte, pertencente ao ministério da Educação, Formação Professional e Esportes do país declarou a partida como de “alto risco”. O clube mandante vetou a Netflix de realizar filmagens para um documentário sobre Vini no Mestalla.

A segurança do clube barrou diversos cartazes em que Vini foi retratado, em caricatura, com o nariz do personagem Pinóquio. De acordo com o diário Mundo Deportivo dezenas de cartazes foram confiscados. Foram impressos cerca de 20 mil papéis, segundo o jornal Marca.

A iniciativa foi promovida pela associação Libertad VCF (Liberdade Valencia Clube de Futebol), que lidera um movimento contra o atual proprietário, Peter Lim, um bilionário de Singapura. O grupo foi responsável por confeccionar os cartazes que acusa Vini de mentir ao declarar que todo o Mestalla proferiu insultos racistas contra ele, na polêmica partida da temporada passado. No cartaz, é possível ver Vini retratado com o nariz do personagem Pinóquio.

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